Parábola da figueira que secou

Vamos falar sobre a Parábola da figueira que secou, dos Evangelhos de Marcos (11: 12-14 e 20-23) e de Mateus (21: 18-22), que trata da importância da fé com obras e das pessoas que possuem algum entendimento espiritual, mas são incapazes de produzir frutos, isto é, de exemplificarem o que pregam.

“Quando saíam de Betânia, Ele teve fome; e, vendo ao longe uma figueira, para ela encaminhou-se, a ver se acharia alguma coisa; tendo-se, porém, aproximado, só achou folhas, visto não ser tempo de figos. Então, disse Jesus à figueira: que ninguém coma de ti fruto algum.  – O que seus discípulos ouviram. No dia seguinte, ao passarem pela figueira, viram que secara até a raiz. Pedro, lembrando-se do que dissera Jesus, disse: Mestre, olha como secou a figueira que Tu amaldiçoaste. – Jesus, tomando a palavra, lhes disse: tende fé em Deus. Digo-vos, em verdade, que aquele que disser a esta montanha: tira-te daí e lança-te ao mar, mas sem hesitar no seu coração, crente, ao contrário, firmemente, de que tudo o que houver dito acontecerá, verá que, com efeito, acontece”.  (Marcos, 11: 12-14 e 20-23)

“De manhã cedo, quando voltava para a cidade, Jesus teve fome. Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas nada encontrou, a não ser folhas. Então lhe disse: nunca mais dê frutos! Imediatamente a árvore secou. Ao verem isso, os discípulos ficaram espantados e perguntaram: como a figueira secou tão depressa? Jesus respondeu: Eu lhes asseguro que, se vocês tiverem fé e não duvidarem, poderão fazer não somente o que foi feito à figueira, mas também dizer a este monte: levante-se e atire-se no mar, e assim será feito. E tudo o que pedirem em oração, se crerem, vocês receberão”. (Mateus, 21: 18-22)

Em suas abordagens, Jesus utilizava o recurso das alegorias para transmitir um ensinamento moral e os alertas para a vida futura.

Allan Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no Capítulo XIX, esclarece que esta figueira é símbolo dos que apenas aparentam propensão para o bem, mas que, em realidade, nada de bom produzem. Simboliza também todos aqueles que, tendo meios de ser úteis, não o são.

O que as mais das vezes falta é a verdadeira fé produtiva, que abala as fibras do coração e transporta montanhas.

São árvores cobertas de folhas, porém, sem frutos. Por isso é que Jesus as condena à esterilidade, porquanto dia virá em que se acharão secas até a raiz. Quer dizer que todos os sistemas, todas as doutrinas que nenhum bem para a Humanidade houverem produzido, cairão reduzidas a nada.

Todos os homens, deliberadamente inúteis, por não terem posto em ação os recursos que trazem consigo, serão tratados como a figueira que secou.

O Espírito Cairbar Schutel, do livro “Parábolas e Ensinos de Jesus”, destaca a aparente contradição de tempo entre os relatos nos Evangelhos de Marcos e Mateus e, ainda, a relação desta passagem com a Parábola do Evangelho de Lucas (Lucas,13: 6-9), porque não haveria motivo para tão sumária execução da figueira (secar).

Da aparente contradição, Schutel comenta que os antigos, quando se exprimiam sobre a duração de um fato, não eram tão explícitos como nós. Para a expressão “no mesmo instante”, aplicada ao tempo em que a figueira secou, o período de cinco horas cabia perfeitamente, se compreendermos o modo enfático com que foi pronunciada, porque uma árvore, mesmo que cortada pela raiz, não secaria nesse espaço de tempo.

Para outra possível contradição, Schutel levanta uma hipótese para o testemunho de Marcos que diz: “a árvore não tinha senão folhas, porque não era tempo de figos”.

Do Evangelho de Lucas, temos: “Então contou esta parábola: um homem tinha uma figueira plantada em sua vinha. Foi procurar fruto nela, e não achou nenhum. Por isso disse ao que cuidava da vinha: já faz três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não acho. Corte-a! Por que deixá-la inutilizar a terra? Respondeu o homem: Senhor, deixe-a por mais um ano, e eu cavarei ao redor dela e a adubarei. Se der fruto no ano que vem, muito bem! Se não, corte-a”. (Lucas,13: 6-9)

Apoiado no Evangelho de Lucas, Cairbar Schutel infere que não seria a primeira vez que Jesus e os seus discípulos viam aquela figueira e, por três anos consecutivos, viram-na sem frutos. Mesmo depois de adubada, ela permaneceu estéril. Nesse contexto, Jesus aproveitou para demonstrar aos seus seguidores o poder de que se achava revestido e o alto saber que o orientava.

Schutel considerou que aquela figueira deveria pertencer às árvores que dão fruto o ano inteiro, porquanto a Parábola fala de cultivo e adubo aplicados à figueira. Pela região da passagem, ela encontrava-se em terreno mais fértil para plantações. Logo, a figueira, aparentemente, estaria bem situada. Então, por que não dava frutos se adubos e cuidados não lhe faltaram? Por que só vinham tronco, galhos e folhas?

Independente das explicações plausíveis, Jesus em seu ensino escolhe uma árvore, a fim de melhor gravar no ânimo de seus discípulos a lição que lhes queria transmitir, bem assim às gerações que deveriam estudar nos Evangelhos a verdade que orienta e salva.

O Mestre, ao fazer analogia com a figueira seca, deixa claro que a lei de Deus atinge a todos, sendo eterna e irrevogável, tanto tem ação sobre as árvores, os animais, como sobre as criaturas humanas. Essa lei, que rege na figueira a produção dos frutos, é a mesma que rege nos homens a produção das boas obras.

“Uma árvore sem frutos é uma árvore inútil, estéril, que não trabalha. Uma alma também sem virtudes é semelhante à figueira, na qual Jesus não encontra frutos. Há, portanto, frutos de árvores e frutos de almas; frutos que alimentam corpos e frutos que alimentam espíritos; todos são frutos indispensáveis à vida, tanto dos corpos, como das almas”.

Assim, as almas sem bons sentimentos e sem virtudes divinas, caridosas, generosas e celestiais hão de, forçosamente, sofrer as mesmas consequências ocorridas à figueira que, por não dar frutos, secou ao império da Palavra de Jesus.

Muitas vezes, encontramo-nos em fase de execução, mas fracassamos em razão de deficiências intrínsecas. Da mesma forma, o Espírito só produzirá no momento certo, depois de ter incorporado valores intelectuais e morais. São conquistas que irão produzir frutos do bem, os quais capacita a criatura a transformar-se em auxiliar do Pai. Por isso, há a necessidade de sempre se praticar boas ações para que a Palavra de Deus traduza-se por generosas atitudes.

Autor: Juan Carlos Orozco

Revisora: Deise Barbosa

Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira. Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II. Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.

SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

Para acessar o Blog Reflexões espíritas, clicar no link abaixo:

https://juancarlosespiritismo.blog/

10 comentários em “Parábola da figueira que secou

  1. Marco Antônio Matos Aguiar 14/05/2021 — 15:25

    Gostei muito, pode me mandar msg de qualquer tema da Doutrina Espírita , desde já agradeço

    1. Prezado Marco Antônio, boa noite!
      Quanto ao seu pedido, você poderá escolher qualquer reflexão percorrendo o Blog no endereço: https://juancarlosespiritismo.blog/
      No momento, são 341 postagens sobre a Doutrina Espírita.
      Um fraterno abraço!
      Juan Carlos

  2. Juan Carlos, boa noite. Gostei muito de sua explanação “A Figueira que Secou” segundo o Espiritismo.
    Acredito que seu entendimento está corretamente de acordo com os ensinamentos de Jesus, segundo sua insuperável, magnífica e profunda espiritualidade.
    Não o conhecia. Mas agora vou procurar seus textos e creio que vou entender melhor a sabedoria das parábolas de Jesus Cristo. Obrigada.
    Vanda. Email: caceresvanda68@gmail.com

    1. Estimada Vanda, boa noite! Fico feliz que os textos tenham contribuído para melhor entender as Parábolas de Jesus. Um fraterno abraço. Juan Carlos

  3. Hilton Braz 12/04/2022 — 22:22

    Gratidão pela explicação caro amigo! Que Deus o abençoe sempre, e que sua árvore continue a dar frutos, o ano todo! Abraços!!!

  4. Ernani Barros 18/01/2023 — 08:03

    Acredito que esse texto do Evangelho seja mais um em que houve problemas na tradução ou mesmo direcionamento nas palavras. Definitivamente, não dá para imaginar Jesus amaldiçoando coisa alguma, mesmo que fosse alegoricamente.

    1. Prezado Ernani Barros, boa tarde! Sim, há muito erros de tradução. Obrigado pelo seu comentário. Juan Carlos

  5. francisco Almeida de Sousa 28/03/2023 — 15:40

    Boa tarde a todos, tenho procurado ler e refletir com muito cuidado a parábola da figueira, ontem em estudo de grupo foi abordado essa parábola, cada vez que procuro

  6. francisco Almeida de Sousa 28/03/2023 — 15:46

    Retornando ao comentário; cada vez que procura entender parece que é como se eu vivesse justamente naquele tempo, desculpas mas, acho que as palavras usadas não condizem com a moral do Nosso Senhor Jesus Cristo

    1. Estimado Francisco Almeida, boa noite. Importante recordar que Jesus Cristo não deixou nada escrito. Seus ensinamentos e exemplos ficaram gravados nos corações das pessoas. Os textos evangélicos foram escritos muito tempo depois de sua morte e ressureição, aproximadamente de 60 a 100 anos DC. Muitos textos também sofreram problemas de traduções, em especial quando do grego. Além disso, vários textos evangélicos são eivados de alegoria, o que conduz a não fazer uma interpretação literal. O grande ensinamento dessa parábola é: a fé tem que ser acompanhada de obras ou frutos. Todo conhecimento sem a prática é inútil. De nada adianta conhecer a verdade que liberta se não praticar o amor em ação que salva. Conhecer a verdade divina sem a prática do verdadeiro amor é mera informação. É como a figueira que secou. Por fim, não se tem como mudar o texto evangélico, mas sim a sua interpretação. Um fraterno abraço! Juan Carlos

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