Suely Caldas Schubert, no livro “Obsessão / Desobsessão”, na “Terceira Parte: Reunião de desobsessão”, Capítulo 6: O doutrinador, em “Dois tipos de esclarecimento”, ensina:
“Certa noite, em nossa reunião, comunicou-se uma entidade que se apresentou chorando e muito desesperada. Havia desencarnado há algum tempo e estava ciente desse fato. Encontrava-se, porém, terrivelmente revoltada, pois tinha deixado quatro filhos bem pequenos, necessitando ainda de seus cuidados maternos.
Revelou que não se conformava com o acontecido, principalmente porque, indo ao lar, encontrara outra mulher no lugar que lhe pertencia. E dizia que isto ela não perdoava ao marido. Julgava-se traída, por crer-se a única que poderia ocupar o coração de seu esposo e o afeto de seus filhos queridos.
O doutrinador, bastante identificado com o problema, a ponto de sentir-se comovido, tal era a angústia daquela mãe desencarnada, manteve, em síntese, o seguinte diálogo:
– Minha irmã, nós compreendemos o seu drama e sabemos o que representa para uma mãe a separação dos filhos. Mas, minha amiga, neste momento, que representa oportunidade bendita, concedida por Deus, nosso Pai, que é todo Bondade e Misericórdia, queremos meditar com você sobre sua situação.
‘Recorda-se, quando na Terra, nas tarefas de mãe e esposa dedicada, como seus encargos eram múltiplos e exaustivos, a ponto de muitas vezes não dar contas deles? Lembra, minha irmã, que era necessário procurar o auxílio de algum parente mais prestimoso ou de alguma amiga para dividir um pouco os seus labores?’
Nessa altura, a comunicante se calara e não mais chorava, acompanhando atentamente as palavras e já começando a concordar com essa colocação do problema. Continuando, o doutrinador disse:
– Pois é, minha irmã, quem de nós poderá dizer que não necessita de alguém que o ajude, principalmente nos momentos difíceis? Vamos agora procurar compreender a atitude tomada por seu marido, que, junto com a dor de perdê-la, se viu, de súbito, colocado no duplo papel de pai e mãe das crianças, que se encontram ainda em fase de assistência permanente, como você mesma disse, e tendo além disso de continuar com o seu trabalho profissional, que é a fonte de renda necessária ao sustento do lar. Imaginemos a sua situação aflitiva. A melhor solução foi a presença dessa criatura que quis ajudá-lo por amor (e você mais tarde vai compreender que não foi por acaso que tal aconteceu), e assim está ajudando a conservar seus filhos juntos e ao lado do pai, que de outra maneira se veria, talvez, forçado a entregá-los a estranhos e separá-los, para serem criados.
‘Quanto à preocupação de ser esquecida pelos seus, não há motivo para tal, pois a mãe que honrou e dignificou o lar, as suas funções e deveres maternais, nunca será olvidada. Quem sabe se você não terá ensejos de encontrar-se com eles durante as horas de sono? Mas, para isto, deve equilibrar-se e começar uma nova vida. A seu lado estão pessoas amigas que a trouxeram aqui e que desejam ajudá-la. Elas a encaminharão também ao encontro de familiares que a estimam e que estão desejosos de vê-la equilibrada e disposta a uma vida nova.’
A conversa se prolongou por mais alguns minutos, findos os quais o doutrinador informou à entidade que aquele grupo ali reunido orava em seu benefício e que ela também procurasse orar, lembrando-se principalmente de Maria, a Mãe das mães, que, perdendo o Filho Amado, o Excelso Filho de Deus, mesmo assim consolava e atendia aos sofredores que a cercavam em sua passagem pela Terra, e que depois, na glória espiritual, prosseguia amparando a todos.
Após a prece proferida pelo doutrinador, a irmã desencarnada, recebendo as vibrações superiores e o carinho de todo o grupo, reconfortou-se bastante, retirando-se muito mais calma e disposta a encetar uma nova vida.
*
Manifestou-se um Espírito, certa feita, na reunião de desobsessão, que se dizia muito enraivecido com o grupo, alegando que este lhe havia prejudicado os planos, e por este motivo queria vingar-se de todos. Dizia claramente que estava no final de sua vingança, quase conseguindo os intentos que visavam a arrasar com certa pessoa. Gabou-se de que já derrotada, exaurida, até mesmo acamada, a vítima fora até abandonada pelos familiares. E que não iria admitir intromissão de ninguém em seus propósitos.
O doutrinador, conhecendo o caso a que ele se referia, após ouvi-lo atentamente, tomou a palavra e, em síntese, disse o seguinte:
– Meu irmão, você está enganado quando julga que o nosso irmão a que se refere está derrotado. Realmente, está abatido fisicamente, pois as lutas têm sido enormes, mas você não ignora que espiritualmente ele está de pé. Espiritualmente está vencendo, e se conserva cheio de esperança e confiante em Deus. Sobretudo, meu irmão, ele está perdoando a todos os que o estão fazendo sofrer, já que é espírita e vive a fé que esposa.
– Entretanto, se observar melhor, meu irmão, verá que no fundo quem se está consumindo é você, que está cego pelo ódio, pelo desejo de vingança e que, assim, não pode perceber a sua real situação. Você, meu irmão, está nesta luta há tanto tempo e por isto não percebeu ainda a solidão em que se encontra, distanciado de todos os seus afetos mais caros, e jaz agora, cansado e enfermo, completamente só.
As palavras do doutrinador foram interrompidas várias vezes pelos protestos do comunicante, mas ele retomava a conversação e, com entonação de voz muito carinhosa e firme, completou:
– Por isto, meu irmão, nós o estamos convidando agora, em nome de Jesus, a mudar de vida. Não pelo bem dele ou nosso, mas pelo seu próprio bem. Você está tão cheio de ódio que se esqueceu de amar a si próprio, de trabalhar pela sua própria felicidade.
– Veja bem a sua situação! Olhe para você agora! Onde a sua força? Onde os seus companheiros?
Neste ponto, o Espírito, que já se calara há alguns instantes, deu mostras de sofrimento, gemendo baixinho. Começou a dizer que não estava acabado. Que o grupo o estava enfeitiçando e que não era possível que estivesse tão andrajoso e feridento.
O doutrinador, retomando a palavra, prosseguiu:
– Meu irmão, aproveite o ensejo que Jesus lhe concede de reencontrar-se. De começar a viver. Pense em você, reflita sobre a sua solidão e a sua constante inquietude e verá que o melhor é começar vida nova. Jesus nos espera a todos. Se lhe falamos assim é porque conhecemos os seus problemas, que são também os nossos. Sabemos, por experiência própria, que nesta nova vida que Jesus propicia àqueles que se arrependem é que está o caminho para a felicidade. Ninguém é feliz sobre as desgraças alheias. Se você não é capaz de perdoá-lo, seja capaz, pelo menos, de amar a si mesmo, de desejar o seu próprio bem.
Havia tanta sinceridade nestas palavras, que o comunicante declarou-se confuso. Afirmou, então, estar realmente cansado, desejando uma vida nova onde pudesse ser feliz.
Depois de mais alguns esclarecimentos, a entidade retirou-se.”
Bibliografia:
SCHUBERT, Suely Caldas. Obsessão/Desobsessão: profilaxia e terapêutica espíritas. 3ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.