Continuando a reflexão sobre dialogando com Espíritos, seguem algumas etapas didáticas nas comunicações com Espíritos que comparecem às reuniões mediúnicas espíritas.
No livro “Mediunidade: estudo e prática”, Programa II, da FEB Editora, Módulo III, Tema 3, em “Etapas do esclarecimento dos Espíritos pelo diálogo”, destacamos:
“O esclarecimento doutrinário ocorre durante o principal momento da reunião mediúnica, considerado o ápice da realização dos trabalhos organizados entre os dois planos de vida. Essa fase não deve ultrapassar o tempo de 60 minutos, segundo o opúsculo Orientação ao centro espírita, da FEB/ CFN, referenciado em orientações de esclarecidos benfeitores espirituais.
ETAPA INICIAL: OUVIR O ESPÍRITO E IDENTIFICAR AS SUAS PRINCIPAIS DIFICULDADES
É de fundamental importância que o dialogador, em especial, e o grupo, em geral, escutem o que o Espírito tem a dizer. Se este revela dificuldades para se expressar, é preciso saber auxiliá-lo porque somente lhe concedendo a chance de expor suas amarguras será possível prestar-lhe efetiva assistência. Contudo, usualmente, o diálogo é iniciado pelo próprio Espírito que, naturalmente, toma a palavra e apresenta as suas necessidades.
Qualquer que seja a abertura da comunicação, o doutrinador deve esperar, com paciência, depois de receber o companheiro com uma saudação sinceramente cortês e respeitosa. Seja quem for que compareça diante de nós, é um Espírito desajustado, que precisa de socorro. Alguns bem mais desarmonizados do que outros, mas todos necessitados – e desejosos – de uma palavra de compreensão e carinho, por mais que reajam à nossa aproximação. Os primeiros momentos de um contato mediúnico são muito críticos. Ainda não sabemos a que vem o Espírito, que angústias traz no coração, que intenções, que esperanças e recursos, que possibilidades e conhecimentos. Estará ligado a alguém que estamos tentando ajudar? Tem problemas pessoais com algum membro do grupo? Luta por uma causa? Ignora seu estado, ou tem consciência do que se passa com ele? É culto, inteligente, ou se apresenta ainda inexperiente e incapaz de um diálogo mais sofisticado? Uma coisa é certa: não devemos subestimá-lo. Pode, de início, revelar clamorosa ignorância, e entrar, depois, na posse de todo o acervo cultural de que dispõe. Dificilmente o Espírito é bastante primário para ser classificado, sumariamente, como ignorante.
Se o Espírito demorar a dar início à fala, o esclarecedor poderá fazer algumas perguntas provocativas, tais como: Em que podemos servi-lo? Como se sente? Deseja algo de nós?
Não é produtivo forçar a entidade a se identificar, pois talvez não possa fazê-lo em função de seu comprometimento psíquico, de ser desconhecida do grupo ou mesmo pelos inconvenientes que tal revelação possa causar. A identificação ocorre naturalmente, caso não haja impedimentos.
O comunicante espiritual poderá exibir uma ideia fixa, repetir um mesmo assunto, como se andasse em círculos. Nesse caso, o doutrinador poderá ir fazendo apartes até que o assunto passe a ser conduzido de forma proveitosa e um entendimento se estabeleça.
Em qualquer situação, deve-se evitar o monólogo ou diálogos muito longos. As monopolizações, por parte do comunicante espiritual ou do doutrinador, são sempre indesejáveis. A reunião torna-se extremamente cansativa, porque ocorre dispersão mental e de fluidos. Há participantes que podem até ser dominados pelo sono, outros permanecem distraídos, alheios às lições transmitidas. Tudo isso compromete o êxito e a produtividade da reunião.
A conversação será vazada em termos claros e lógicos, mas na base da edificação, sem qualquer toque de impaciência ou desapreço ao comunicante, mesmo que haja motivos de indução ao azedume ou à hilaridade. O esclarecimento não será, todavia, longo em demasia, compreendendo-se que há determinações de horário e que outros casos requisitam atendimento.
Em síntese:
• Deixar o Espírito falar, colhendo informações, identificando problemas e características individuais;
• Fazer perguntas esclarecedoras, se necessário, caso não consiga reconhecer o seu principal problema;
• Manter-se no foco do problema apresentado é a melhor forma de auxiliar;
• Ficar atento às ideias fixas que podem dificultar ou impedir o diálogo.
ETAPA INTERMEDIÁRIA: ESCLARECER E APOIAR FRATERNALMENTE O ESPÍRITO
Assim que o doutrinador perceber a problemática do Espírito, começa o esclarecimento doutrinário propriamente dito. Destacamos alguns pontos que devem ser observados nessa fase:
• Identificar a condição masculina ou feminina da entidade para que se possa conduzir a conversação na linha psicológica apropriada;
• O dialogador deve acalmar ou tranquilizar o Espírito com palavras gentis, fraternas e solidárias, envolvendo-o em fluidos reparadores, calmantes, tendo como base as orientações espíritas e evangélicas;
• O médium psicofônico deve ter cuidado para controlar o Espírito a fim de que este não monopolize a conversa nem dê chance ao dialogador de auxiliá-lo. Há entidades que dominam a arte da manipulação. O médium, o dialogador e o próprio grupo devem envidar esforços para controlar a situação;
• Se o Espírito se revela muito perturbado, envolvê-lo nas energias positivas do passe, da prece ou de ambos. Importa reconhecer que nem sempre o Espírito apresenta condições para estabelecer uma conversa fraterna. Às vezes, necessita apenas das energias ou das vibrações do médium e dos demais participantes do grupo;
• Dialogar com bom senso, bondade, clareza, tato e firmeza, usando linguagem simples, descontraída e objetiva. Evitar o uso de frases feitas ou de chavões; não é aconselhável ter uma fala padrão para suicidas, homicidas, obsessores, etc. O diálogo não deve ter também a feição de preleção ou de catequese;
• O dialogador jamais deve discutir ou polemizar com o Espírito. Não deve censurá-lo, condená-lo ou ironizá-lo;
• Fugir de disputas com entidades desencarnadas que ameacem ou que se recusem a se afastarem do encarnado, recordando que desobsessão é processo lento, que implica reforma moral dos envolvidos;
• É importante considerar que a conversa fraterna não beneficia apenas o Espírito comunicante. Este representa na reunião um grupo de Espíritos que se encontra em situação semelhante. Os demais, Espíritos em situação similar, podem se encontrar no mesmo local da reunião ou em outras localidades no plano espiritual, acompanhando o atendimento. Os sofredores que não se encontram na reunião são atendidos a distância, por meio de equipamentos instalados pelos trabalhadores da equipe espiritual;
• O médium psicofônico e demais participantes devem apoiar mental e fluidicamente o doutrinador, acompanhando o diálogo, sem fazer interferências de qualquer natureza;
• Nas comunicações complexas, sobretudo nas manifestações de comunicantes mais endurecidos, o dialogador e o médium psicofônico devem impedir a desestruturação da reunião, usando a energia, mas sem perda do espírito de fraternidade;
• O diálogo não deve ser longo, não deve ser também excessivamente curto, mesmo em se tratando de Espíritos que revelem grandes desarmonias. André Luiz, no livro Desobsessão, recomenda até dez minutos, uma vez que o horário de início e término da reunião deve ser respeitado;
• Evitar múltiplas manifestações psicofônicas ao mesmo tempo, pois além de ser necessário preservar a harmonia da sessão, atendendo a cada caso por sua vez, em ambiente de concórdia e serenidade, qualquer comunicação é do interesse de todos os participantes encarnados, que, em conjunto, devem auxiliar o Espírito necessitado de auxílio;
• Não induzir, direta ou indiretamente, os médiuns a receber essa ou aquela entidade, pois a espontaneidade é essencial ao êxito da tarefa;
• Utilizar a indução hipnótica ao desencarnado comunicante, quando necessário, conduzindo-o ao sono (sonoterapia) ou à hipnose construtiva.
ETAPA FINAL: CONCLUSÃO DO ATENDIMENTO
Passado o momento da argumentação doutrinária e o atendimento propriamente dito, encaminha-se para o encerramento do diálogo, propiciando o afastamento do Espírito manifestante.
O doutrinador e o médium promovem, então, o desligamento psíquico do Espírito segundo a intuição captada: frases indicativas de despedida; indução ao sono; encaminhamento pelos benfeitores espirituais presentes; emissão de uma prece etc. É importante que o Espírito tenha ciência de que ele será sempre bem-vindo às reuniões do grupo mediúnico.
A entidade que foi adequadamente esclarecida afasta-se naturalmente do médium, apoiando-se nos cuidados amigos dos trabalhadores da equipe espiritual.
Nos casos dos Espíritos que não conseguem ou não querem se desligar do médium, o dialogador deve solicitar-lhe o afastamento, considerando a responsabilidade do trabalho e a finalização do atendimento. Se necessário, pedir a cooperação do médium psicofônico, orientando-o a se desligar mentalmente do comunicante.
Quanto ao Espírito, deve-se prestar-lhe esclarecimento respeitoso, alegando os motivos que obrigam o seu afastamento, tais como:
• o desgaste energético do médium e a consequente sobrecarga mental;
• a necessidade de outros Espíritos se comunicarem;
• o tempo que se esgotou, mas outras oportunidades surgirão;
• o atendimento está a cargo dos benfeitores espirituais, os quais prestarão assistência mais completa.”
Bibliografia:
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Mediunidade: estudo e prática. Programa II. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.