Dialogando com Espíritos: caso de vingador inclemente

Continuando a reflexão sobre dialogando com Espíritos, veremos um caso de Espírito vingador inclemente, apoiando-se no livro “Amanhecer de uma nova era”, Capítulo 5 – “Procedimentos libertadores”, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, na psicografia de Divaldo Pereira Franco:

“A palestra encerrava-se, e chegara o momento dos passes coletivos, quando os benfeitores desencarnados aplicavam as energias salutares nos necessitados.

Ao som de suave melodia pelo serviço de auto-falantes, os médiuns habilitados postaram-se pelos corredores do salão entre as filas de poltronas e enquanto se faziam emitidas vibrações verbais e mentais pelo expositor, com voz tranquila e bem modulada, eram carreadas as energias benéficas em favor de todos aqueles que se predispunham a deixar-se penetrar.

Seguindo à sala mediúnica, verificamos que os trabalhos estavam em pleno desenvolvimento. Duas entidades muito sofredoras, mediante a psicofonia atormentada, expressavam as suas angústias, o desespero que as acompanhava além da morte física, carinhosamente atendidas por meio da psicoterapia da palavra esclarecedora do dialogador, enquanto, simultaneamente, recebiam o contributo vibratório do mentor da reunião.

Os dois médiuns disciplinados externavam os padecimentos dos comunicantes sem alarde nem qualquer nota de escândalo, permitindo que o socorro lhes chegasse de maneira eficaz.

Pudemos observar que, enquanto os psicoterapeutas de desencarnados, com o pensamento fixado em Jesus, dirigiam a palavra fraternal de recepção, exteriorizavam em ondas contínuas vibrações em tonalidade azul-prateada que alcançavam os comunicantes, balsamizando-lhes as feridas morais. Não poderiam explicar a sensação de reconforto momentâneo que os tomava, porque, fixados nas lembranças perturbadoras e nos efeitos das ações nefastas da existência passada, retidas no períspirito, rebolcavam nos tormentos, expondo-os sem a necessária lucidez para escutar as orientações.

Nesse caso, com paciência significativa, cada dialogador resolveu utilizar-se da bioenergia, que o libertava da pesada carga de aflições, no que era auxiliado pelos cooperadores espirituais, facultando que fossem diminuídas as angústias dos visitantes, para posterior atendimento verbal.

Deslocados dos médiuns, muito melhor do que antes se encontravam, entraram em torpor hipnótico e foram colocados em macas especialmente distribuídas no recinto, para remoção posterior para a Colônia espiritual de apoio.

O benfeitor Hermano dirigia a reunião, constituída por vinte companheiros encarnados, entre os quais três médiuns psicofônicos e dois psicográficos, três dialogadores, dois passistas e cooperadores mentais que contribuíam com parte dos fluidos necessários ao êxito do cometimento.

Antes da reunião, Dr. Bezerra solicitara ao mentor dos trabalhos a devida permissão para o atendimento ao inimigo espiritual da jovem atormentada que se encontrava na sala contínua dos passes.

Desse modo, trazido à comunicação, foi utilizada a médium Celestina, viúva e genitora de dois filhos que educara com as claridades do Espiritismo e que faziam parte da sociedade como auxiliares, havendo granjeado respeito e afeto dos mentores, em razão da sua dedicação ímpar ao trabalho do bem, assim como à educação da mediunidade de que era portadora.

Aproximando o vingador inclemente do períspirito da médium, logo se deu a imantação com a sensitiva que estremeceu levemente, e notamos que algumas das glândulas endócrinas, especialmente a epífise, apresentou peculiar luminosidade que se estendeu à pituitária, à tireoide, descendo ao centro genésico, antes passando pelo plexo cardíaco, num sistema circulatório especial.

Automaticamente, a médium começou a falar, externando o enfado e o desgosto de ali encontrar-se.

Tratava-se da comunicação do indigitado espiritual.

Inicialmente, ele desejou prejudicar a médium, exteriorizando ondas de raiva carregadas de vibrações destrutivas, que poderiam afetar-lhe o sistema endocrínico e mesmo o sistema nervoso simpático, sem conseguir o objetivo, em razão das defesas naturais de que a senhora era portadora…

Logo depois, tentou deslindar-se do ímã perispirítico, responsável pela sua fixação à médium, culminando por enfrentar o diálogo em tom agressivo, interrogando:

– O que se pretende de mim? Quem se atreve a deter-me na minha programática de vingança? O que está ocorrendo?

Fortemente inspirado por Dr. Bezerra de Menezes, Marcelo, um experiente doutrinador, respondeu com bondade e lucidez:

– Pretendemos um contato com o amigo, a fim de estudarmos o seu problema e as razões do seu sofrimento, agora transformado em rude perseguição a quem certamente o prejudicou… Não desejamos impedi-lo de prosseguir no seu propósito, mas somente buscamos entender por que você se esquece da própria felicidade, mantendo-se na atitude rebelde do ódio que infelicita, e, por fim, explicar-lhe que, até este momento, o amigo agia conforme lhe parecia melhor. A partir de agora, porém, alteram-se as possibilidades de agressão, sendo você convidado à mudança de comportamento em seu próprio benefício.

E enquanto o Espírito blasonava, usando palavras quase desconexas, Marcelo prosseguiu:

– Talvez você ignore, embora haja morrido o seu corpo físico, que existem Leis Universais de amor, das quais ninguém consegue fugir, vicejando no Mundo espiritual onde se encontra. Nada acontece por capricho de quem quer que seja… As Soberanas Leis funcionam por automatismo e também pela interferência do pensamento daqueles que se lhes direcionam a mente suplicando ajuda e misericórdia. É o que está acontecendo em relação a você e à jovem que lhe experimenta os acúleos da perversidade.

– Você se refere à víbora destruidora de vidas?! Conhece, por acaso, a dissoluta e cruel, mascarada de angelitude? Insensível e interesseira, é uma destruidora de lares e de vidas. Provoca paixões, explora as suas vítimas e entrega-se a um infame comparsa que a devora…

– O amigo não se deve referir dessa maneira àquela que é sua vítima, porquanto, na condição em que se encontra, a sua energia muito contribui para o seu comportamento enfermiço.

– É natural que assim aconteça, porque igualmente me comprazo na sua forma desregrada de viver, participando de todos os seus conúbios sexuais que me facultam a vampirizarão das suas energias que me nutrem.

– Considera essa conduta como correta? Desde que lhe censura a maneira de viver, como se pode aproveitar da sua insensatez para fruir benefícios que nada mais são que desvarios e vapores morbosos que igualmente mais o degradam?

 – Seria melhor que não se envolvesse conosco – rugiu, exasperado, quase espumando de raiva.

O semblante da médium apresentava-se congestionado numa transfiguração perfeita, refletindo a fácies do comunicante.

Agitando-a, desgostoso, o enfermo espiritual estridulou:

– Nosso relacionamento perde-se na ampulheta do tempo, quando a miserável, hoje vulgar, traiu-me, já assinalada pela infâmia que lhe é peculiar. Éramos casados e pais afetuosos, pelo menos era o que eu pensava, quando da invasão de Portugal pelas tropas francesas em 1808 pelo norte do país… Após instalar-se parte da tropa invasora em nossa cidade, a tresloucada apaixonou-se por um soldado sedutor e com escândalo de alta repercussão, abandonou o lar, deixando-nos, o que resultou na morte de um dos nossos filhos, vitimado por enfermidade cruel que lhe vinha devorando o corpo juvenil…

Sem nenhum pudor, transferiu-se do nosso burgo para outro, entregando-se ao bandido que a seduziu com facilidade.

Vitimado pela vergonha e pelo horror, mergulhei no abismo do ódio e deixei-me consumir por estranha tristeza que me levou à morte, abrindo espaço para que logo morresse também o nosso segundo filho…

Quando descobri que não havia morte, procurei-a com desesperado sentimento de vingança, não mais encontrando-a, por longo tempo, senão quando, há pouco, fui atraído ao seu estado atual e entendi que ela havia voltado… Nosso filhinho morto prematuro era, agora, a sua genitora, que a entregou ao próprio destino e não sei por onde anda o nosso outro rebento…

Choro convulsivo complementou as suas últimas palavras, logo, porém, prosseguindo:

– Grávida, sem o desejar, seria esse o caminho da sua reabilitação ante o crime cometido para com o abandonado, ajudando-o a recompor-se ante a falência na condição de genitora, que irei tentar impedir de consumar-se, a fim de trazê-la de volta para cá, onde a justiciarei, auxiliado por outras suas vítimas que também a esperam…

Se existem lei e justiça, este é o meu estatuto de compensação, não desejando, senão, promover o equilíbrio entre os seus débitos e os males que a muitos continua fazendo.

Na pausa que se fez natural, Marcelo, fortemente inspirado pelo benfeitor, elucidou:

– As Divinas Leis não são aplicadas em cobranças indébitas, mas sim em forma de mecanismos de reabilitação e de reequilíbrio.

Sem dúvida, a insânia por ela perpetrada é muito grave, mas não lhe cabe o direito de fazer justiça porque o seu é um critério caprichoso e cheio de rancor, empurrando-o para a vingança insana. Deus não necessita do nosso apoio a fim de fazer que as Leis de Amor sejam respeitadas e aqueles que se comprometem recebam o necessário corretivo. Para tanto, existem as enfermidades depuradoras, as circunstâncias do destino, os fenômenos-problemas da afetividade e do relacionamento, os acidentes, as anomalias orgânicas e mentais, enfim, uma infinidade de métodos eficazes para a recuperação. Enquanto que ao ser aplicada a sevícia pela vingança, aquele que a perpetra cai no abismo dos crimes hediondos, por desconhecer a justa medida para a correção do equivocado. Não lhe cabe, portanto, o direito de desforço, por mais se justifique na condição de vítima…

– Mas eu odeio-a e hei de vingar-me…

– Em verdade, o que o atormenta não é o ódio, e sim a sua ignorância a respeito das Divinas Leis, porquanto, à medida que mantém o veneno desse sentimento, mais se embriaga de luxúria e de perturbação, vinculando-se-lhe e passando quase a viver em função dos disparates morais que ela se permite. Encontra-se você na situação do explorador dominado pelo desejo do gozo ignóbil, passando a depender do comportamento doentio da sua vítima.

Já é chegado o momento de mudar o foco da sua aspiração para o encontro com a felicidade. Afinal, todo esse período passado fez-se caracterizar pelo seu sofrimento que pareceu não ter fim… Raia o momento da sua libertação das amarras constritoras das paixões inditosas.

Nesse momento, o venerável benfeitor aplicou energias no espírito atormentado, enquanto o dialogador impôs-lhe:

– Recue no tempo e constatará que existem culpas na sua economia espiritual evolutiva, que justificaram os referidos padecimentos, que você poderia haver aproveitado como resgate, caso houvesse seguido as diretrizes da sua religião da época: perdão e misericórdia para com a infeliz, conforme Jesus aplicou em relação à mulher adúltera, narrada no Evangelho.

Porque a indução psicoterapêutica prosseguisse, o comunicante começou a contorcer-se mais nos fluidos da médium e, contemplando cenas de terrível conteúdo, começou a pedir socorro, sucumbindo ante os arquivos dos acontecimentos inditosos que lhe assinalavam uma das mais recentes existências transatas…

– Não pode ser comigo o que se passa, o que estou vendo! – exclamou, aterrorizado.

– Exatamente, meu irmão, refere-se a você o que ora enxerga, proveniente dos arquivos da sua memória ancestral. O que você praticou de cruel tornou-se-lhe sementeira de desdita que lhe cumpria resgatar. O orgulho machista, porém, o temperamento rebelde e o egoísmo doentio não lhe permitiram assimilar a dor que se lhe acercou, deixando o filhinho desencarnar por indiferença. Você reclama da mulher que fugiu do santuário doméstico, acusando-a de responsável pela morte das duas crianças, sendo que você, afogando-se, na mágoa, também olvidou-se de oferecer aos jovenzinhos solitários e infelizes o apoio de que eles necessitavam, no momento em que se tornavam órfãos de mãe viva… Ninguém pode erguer a clava da justiça contra os outros, porque igualmente encontra-se incurso em terríveis compromissos, que são sempre os geradores das situações deploráveis que acontecem.

Observe bem a insânia de que foi portador, a prepotência perversa que lhe assinalou a existência e esqueça-se da postura de vítima, considerando que outros, por sua vez, experimentaram-lhe a impiedade, tornando-se-lhe vitimados pela sua indiferença e crueldade.

Concentrado profundamente, Marcelo percebia os quadros evocados pela memória ancestral do comunicante sob a ação da força regressiva imposta pelo abençoado Dr. Bezerra.

Transcorridos alguns minutos, demonstrando exaustão, o inditoso perguntou:

– E agora, o que me sucederá?

– O amor de Deus não tem dimensão – respondeu-lhe o psicoterapeuta espiritual. – Você será encaminhado a uma comunidade espiritual na condição de enfermo, onde receberá conveniente tratamento, renovando-se e adaptando-se a novo comportamento, deixando a nossa irmã inditosa prosseguir conforme estabelece a Lei de Causa e Efeito…

Agora, repouse e durma em paz, a fim de despertar noutra dimensão e em condição diferente desta que vem vivenciando há quase duzentos anos…

Aplicando energias calmantes na médium, que alcançavam o Espírito, vimo-lo adormecer profundamente, sendo desligado e conduzido em maca ao lugar próprio para posterior remoção.

Dona Celestina recobrou a lucidez aureolada por vibrações de harmonia, desfrutando de excelente equilíbrio psíquico e emocional.

O benfeitor exultante com a primeira fase da atividade socorrista, convidou-nos a seguir à sala onde, naquele momento, a jovem buscava o expositor para pedir-lhe orientação.

Havia um expressivo número de pacientes que esperavam com tranquilidade a sua vez, sendo chamados em ordem, no momento próprio, por um cooperador que se utilizava de uma lista adrede elaborada.

A visitante sentia-se emocionalmente dominada por um estranho bem-estar que não experimentava desde há muito tempo. Não sabia que se havia libertado da constrição doentia do perseguidor, nem mesmo podia identificar o fenômeno obsessivo de que era vítima.

Logo se sentou, para ser atendida, passou a respirar a psicosfera que se exteriorizava do trabalhador de Jesus, que a recebeu com visível simpatia, muito diferente de como era aceita onde se apresentava.

Deixando-a falar, ela expôs o seu drama, especialmente o desejo de abortar o ser em formação, sem explicar, naturalmente, a conduta que se permitia.

Comovendo-se durante a narrativa, com um sentimento de autocompaixão, por primeira vez, nos últimos tempos, foi dominada por leve tremor, qual se fora uma adolescente sem experiências, que realmente o era na área do bem e da verdadeira fraternidade.

Ouvida carinhosamente pelo amigo atendente, este explicou-lhe a gravidade do crime do aborto, solicitando-lhe que pensasse demoradamente antes de qualquer decisão. O fato de o pai não desejar assumir a responsabilidade não tinha a menor importância, porque o seu amor poderia preencher a lacuna deixada por aquela ausência.

À medida que lhe explicava sobre o milagre da vida, da imortalidade e da reencarnação, exteriorizava compaixão e fraternidade que a envolviam em dúlcida harmonia.

Simultaneamente, nosso benfeitor aplicou-lhe energias especiais e, ao terminar o atendimento, a jovem prometeu retornar à instituição.

Saiu emocionada, e, ao tomar o automóvel resolveu retornar ao apartamento, evitando seguir ao trabalho, de imediato comunicando a impossibilidade de atendimento ao cliente em pauta, sob a justificativa de mal-estar súbito.

Acompanhando-lhe a decisão feliz, o nobre mentor explicou-nos que, logo mais, ela seria trazida de volta à instituição em desdobramento parcial pelo sono…”

Bibliografia:

MIRANDA, Manoel Philomeno de (Espírito); psicografado por Divaldo Pereira Franco. Amanhecer de uma nova era. 2ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal, 2021.

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