Os infortúnios ocultos

Nas ações de caridades material e moral, há infortúnios ocultos que passam despercebidos, como narrado por Allan Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no item 4 do Capítulo XIII.

Kardec expressa que nas grandes calamidades é natural os auxílios humanitários diante da comoção geral, que impulsiona a solidariedade, a generosidade e a ajuda para reparar os estragos provocados. Nessa situação, todos sabem quem precisa de auxílio e há voluntários para os trabalhos necessários.

Em outros casos, existem desastres ocultos, pessoais e discretos, que passam sem ser notados, mas que a verdadeira generosidade sabe descobrir sem esperar que peçam assistência. Nesse tipo de caridade, há que desenvolver outros atributos: voluntariedade; renúncia; compaixão; misericórdia; piedade; empatia; e fazer o bem sem ostentação.

No item 4, Kardec conta a história de uma senhora, acompanhada de sua filha, que sai em socorro de uma família com a mãe acamada, o pai no hospital e os filhos carentes, amparando a todos no que necessitavam para seus sustentos, transmitindo palavras de consolo que reconfortavam aquelas almas. Mesma ação, fazia aos necessitados da rua.

Na abordagem inicial, Kardec pergunta: “Quem é esta mulher de ar distinto, de traje tão simples, embora bem cuidado, e que traz em sua companhia uma mocinha tão modestamente vestida?” Essa indagação demonstra a maneira como aquela senhora e sua filha agiram na ação de caridade: humildade e simplicidade; pois que elas se vestiram e comportaram de maneira a não chocar seus protegidos, tendo por objetivo: “não insultar a miséria com o seu luxo”.

Conhecida pela família, ela era recebida com alegria e a todos amparava.

Aquela senhora, em visitas frequentes na rua, fazia caridade a todos necessitados sem saber particularidades dos assistidos, considerando-os como filhos de Deus. Aqueles infelizes não sabiam quem ela era, mas sabiam que representava um anjo do céu.

Todos os dias, ela recebia as bençãos pelos seus méritos.

A senhora agia acompanhada da filha para ensiná-la, pelo exemplo, como praticar a verdadeira caridade. Demonstrou que todos podem ajudar de alguma forma o próximo.

Essa caridade tem a aprovação de Deus e da própria consciência.

Vejamos o texto de Kardec:

“4. Nas grandes calamidades, a caridade se emociona e observam-se impulsos generosos, no sentido de reparar os desastres. No entanto, a par desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se queixarem. Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência.

Quem é esta mulher de ar distinto, de traje tão simples, embora bem cuidado, e que traz em sua companhia uma mocinha tão modestamente vestida? Entra numa casa de sórdida aparência, onde sem dúvida é conhecida, pois que à entrada a saúdam respeitosamente. Aonde vai ela? Sobe até a mansarda, onde jaz uma mãe de família cercada de crianças. À sua chegada, refulge a alegria naqueles rostos emagrecidos. É que ela vai acalmar ali todas as dores. Traz o de que necessitam, condimentado de meigas e consoladoras palavras, que fazem que os seus protegidos, que não são profissionais da mendicância, aceitem o benefício, sem corar. O pai está no hospital e, enquanto lá permanece, a mãe não consegue com o seu trabalho prover as necessidades da família. Graças à boa senhora, aquelas pobres crianças não mais sentirão frio, nem fome; irão à escola agasalhadas e, para as menorzinhas, o leite não secará no seio que as amamenta. Se entre elas alguma adoece, não lhe repugnarão a ela, à boa dama, os cuidados materiais de que essa necessite. Dali vai ao hospital levar ao pai algum reconforto e tranquilizá-lo sobre a sorte da família. No canto da rua, uma carruagem a espera, verdadeiro armazém de tudo o que destina aos seus protegidos, que lhe recebem sucessivamente a visita. Não lhes pergunta qual a crença que professam, nem quais suas opiniões, pois considera como seus irmãos e filhos de Deus todos os homens. Terminado o seu giro, diz de si para consigo: Comecei bem o meu dia. Qual o seu nome? Onde mora? Ninguém o sabe. Para os infelizes, é um nome que nada indica; mas é o anjo da consolação. À noite, um concerto de bênçãos se eleva em seu favor ao Pai celestial: católicos, judeus, protestantes, todos a bendizem.

Por que tão singelo traje? Para não insultar a miséria com o seu luxo. Por que se faz acompanhar da filha? Para que aprenda como se deve praticar a beneficência. A mocinha também quer fazer a caridade. A mãe, porém, lhe diz: ‘Que podes dar, minha filha, quando nada tens de teu? Se eu te passar às mãos alguma coisa para que dês a outrem, qual será o teu mérito? Nesse caso, em realidade, serei eu quem faz a caridade; que merecimento terias nisso? Não é justo. Quando visitamos os doentes, tu me ajudas a tratá-los. Ora, dispensar cuidados é dar alguma coisa. Não te parece bastante isso? Nada mais simples. Aprende a fazer obras úteis e confeccionarás roupas para essas criancinhas. Desse modo, darás alguma coisa que vem de ti.’ É assim que aquela mãe verdadeiramente cristã prepara a filha para a prática das virtudes que o Cristo ensinou. É espírita ela? Que importa!

Em casa, é a mulher do mundo, porque a sua posição o exige. Ignoram, porém, o que faz, porque ela não deseja outra aprovação, além da de Deus e da sua consciência. Certo dia, no entanto, imprevista circunstância leva-lhe à casa uma de suas protegidas, que andava a vender trabalhos executados por suas mãos. Esta última, ao vê-la, reconheceu nela a sua benfeitora. ‘Silêncio!’ — ordena-lhe a senhora — ‘não o digas a ninguém.’ — Falava assim Jesus.”

No item 11, o Espírito Adolfo, bispo de Argel, orienta:

“11. A beneficência, meus amigos, dar-vos-á nesse mundo os mais puros e suaves deleites, as alegrias do coração, que nem o remorso, nem a indiferença perturbam. (…)

Compreendei as obrigações que tendes para com os vossos irmãos! Ide, ide ao encontro do infortúnio; ide em socorro, sobretudo, das misérias ocultas, por serem as mais dolorosas! Ide, meus bem-amados, e tende em mente estas palavras do Salvador: ‘Quando vestirdes a um destes pequeninos, lembrai-vos de que é a mim que o fazeis!’

Caridade! Sublime palavra que sintetiza todas as virtudes, és tu que hás de conduzir os povos à felicidade. Praticando-te, criarão eles para si infinitos gozos no futuro e, quando se acharem exilados na Terra, tu lhes serás a consolação, o prelibar das alegrias de que fruirão mais tarde, quando se encontrarem reunidos no seio do Deus de amor.”

Assim, faça o bem sem ostentação, buscando aqueles que sofrem infortúnios ocultos, sofrem caldos e necessitam das caridades material e moral, em que todos podem ajudar com seus próprios trabalhos na pratica do bem.  

Autor: Juan Carlos Orozco

Bibliografia

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

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https://juancarlosespiritismo.blog/

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