Paciência e resignação consciente

Paciência é virtude apoiada no autocontrole emocional e na capacidade de suportar contrariedades, incômodos, dificuldades e injúrias, sem perder a calma e a concentração, com tranquilidade, resignação e tolerância, principalmente com erros alheios ou diante de situações e fatos indesejados. Pode ser entendida, ainda, como qualidade de quem não desiste facilmente, que tem persistência e perseverança.

No cotidiano, deparamo-nos com diversas situações adversas, gerando aflições, sofrimentos, inconformismo, aborrecimento, irritação, raiva, ódio e até violência.

Simples contrariedade poderá abalar o equilíbrio emocional e, como consequência, discutimos, brigamos, lastimamos e reclamamos. Isso porque não se consegue frear os impulsos, deixando-se dominar por eles em um automatismo sem a mediação de um pensamento consciente.

Resignação é a aceitação de condição imposta por algo, alguém, ação do destino, ou poderá ser sentimento de conformismo que não luta por alternativas para alterar a situação presente, concordando com ela.

A resignação pode passar ideia de passividade na aceitação, envolvendo submissão cega sem questionamento, porém desejando que as coisas fossem de outra forma.

Diante das aflições, difícil manter a serenidade, a confiança e até mesmo a fé, principalmente quando em situações de provas e expiações.

O grau de aceitação das aflições varia conforme a compreensão, a resignação consciente e o estágio evolutivo de cada pessoa. Quando se aceita a condição imposta conscientemente, na resignação, a submissão à realidade será sem queixas, lástimas ou murmúrios.

Aceitar os problemas do mundo e superá-los, com trabalho, esforço e serenidade, é o desafio a ser enfrentado para seguir em frente no caminho do progresso espiritual.

Religiosamente, a resignação poderá envolver aceitação mediante fé cega ou fé raciocinada, esta última de maneira consciente.

A fé cega, aceita sem verificação, choca-se com a evidência e a razão. Ela está mais ligada ao dogmático, que, se levada ao excesso, poderá conduzir ao fanatismo. Esse tipo de fé, assentada no erro, cedo ou tarde, desmorona.

A fé raciocinada baseia-se na aceitação da verdade sem temer o progresso das luzes. Ela se apoia nos fatos e na lógica. A aceitação da dor e dos sofrimentos passa a ser consciente, sabendo as causas e os efeitos, mesmo que as tribulações testem a sua capacidade de suportar determinadas situações.

Em “O Livros do Espíritos”, na Introdução, Allan Kardec ensina: “As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os bons Espíritos nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação.”

Na resposta à questão 399, Kardec comenta: “As vicissitudes da vida corpórea constituem expiação das faltas do passado e, simultaneamente, provas com relação ao futuro. Depuram-nos e elevam-nos, se as suportamos resignados e sem murmurar.”

Assim, a resignação perante as provas e expiações nos auxiliam a suportar as amarguras com fé e coragem, fazendo agir com calma e mansidão; preservar-se do desespero da causa aflitiva; não viver murmurando; não cair em tentações; e controlar os impulsos nas situações adversas.

Na resposta à questão 663, parte do esclarecimento é: “As vossas provas estão nas mãos de Deus e algumas há que têm de ser suportadas até o fim; mas, Deus sempre leva em conta a resignação …”

Na questão 924, Kardec pergunta se há males que independem da maneira de proceder do homem e que atingem os mais justos; e complementa se nenhum meio terá de os evitar. A resposta é: “Deve resignar-se e sofrê-los sem murmurar, se quer progredir. Sempre, porém, lhe é dado haurir consolação na própria consciência, que lhe proporciona a esperança de melhor futuro, se fizer o que é preciso para obtê-lo.”

Logo, as provas e expiações são bênçãos educativas para o Espírito, que precisa compreender as causas e os efeitos das aflições para uma conscientização em prol do processo evolutivo moral e espiritual na busca da perfeição.

Kardec comenta, depois da resposta à questão 982: “A crença no Espiritismo ajuda o homem a se melhorar, firmando-lhe as ideias sobre certos pontos do futuro. Apressa o adiantamento dos indivíduos e das massas, porque faculta nos inteiremos do que seremos um dia. É um ponto de apoio, uma luz que nos guia. O Espiritismo ensina o homem a suportar as provas com paciência e resignação; afasta-o dos atos que possam retardar-lhe a felicidade, mas ninguém diz que, sem ele, não possa ela ser conseguida.”

O Espiritismo esclarece a respeito das provas e expiações, ensinando a suportá-las com paciência e resignação mediante a crença na vida futura, proporcionando consolo para aceitá-las, pois haverá mérito e recompensa em submeter-se aos desígnios de Deus.

O Universo, em plena harmonia com leis eternas, imutáveis e infinitas, cumpre os desígnios da inteligência suprema, cuja presença de Deus é percebida por suas obras, pois não há efeito sem causa, e todo efeito inteligente tem causa inteligente.

Os seres do infinito e a natureza inteira encontram-se mergulhados no fluido cósmico universal. Tudo no Universo está conectado, compondo um todo solidário. Por essa rede inteligente universal, Deus está em toda parte. Todos os elementos da criação estão em relação constante com Deus, tornando-o onisciente de tudo o que se passa e supre a cada um o que lhe diz respeito.

Inseridos nos desígnios de Deus, temos que cumprir o determinismo divino na construção do destino na busca da perfeição em pluralidade de existências e cooperar com a regeneração da humanidade.

Nesse contexto, o Espírito imortal necessita adquirir todas as virtudes e aptidões pela prática do bem, do amor e da caridade, concorrendo para a execução dos propósitos divinos, no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais, em que cada um tem seu papel a desempenhar, sendo solidário coletivamente para o progresso geral.

Os acontecimentos da vida ocorrem em decorrência desses propósitos, quase sempre incompreendidos e impenetráveis, indo além do nosso entendimento, contudo eles são eivados de justiça, bondade, misericórdia e sabedoria.

Nas circunstâncias da vida, não se cumprirá o que nos foi atribuído sem obediência à vontade de Deus, o qual é necessário para a edificação do reino de Deus dentro de nós, exigindo trabalho, esforço, sacrifício e renúncia a si mesmo.

A esse respeito, o Espírito Emmanuel, no livro “Fonte Viva”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, em “Guarda a paciência”, Capítulo 129, esclarece:

“Se as provas te encarceram nas grades constringentes do dever a cumprir, tem paciência e satisfaze as obrigações a que te enlaçaste!…

Não renuncies ao trabalho renovador! (…)

Recorda que a Vontade de Deus se expressa, cada hora, nas circunstâncias que nos cercam! Paguemos nossas contas com a sombra, para que a Luz nos favoreça!

Em verdade, alcançaremos a concretização dos nossos projetos de felicidade, mas, antes disso, é necessário liquidar com paciência as dívidas que contraímos perante a Lei.”

No mesmo livro, em “Aceita a correção”, Capítulo 6, Emmanuel ensina:

“E, na verdade, toda correção, no presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela. Paulo (Hebreus, 12: 11) (…)

A corrigenda é sempre rude, desagradável, amargurosa; mas, naqueles que lhe aceitam a luz, resulta sempre em frutos abençoados de experiência, conhecimento, compreensão e justiça. (…)

O problema da felicidade pessoal, por isso mesmo, nunca será resolvido pela fuga ao processo reparador.

Exterioriza-se a correção celeste em todos os ângulos da Terra.

Raros, contudo, lhe aceitam a bênção, porque semelhante dádiva, na maior parte das vezes, não chega envolvida em arminho e, quando levada aos lábios, não se assemelha a saboroso confeito. Surge, revestida de acúleos ou misturada de fel, à guisa de remédio curativo e salutar.

Não percas, portanto, a tua preciosa oportunidade de aperfeiçoamento.

A dor e o obstáculo, o trabalho e a luta são recursos de sublimação que nos compete aproveitar”.

Assim sendo, haverá situações caracterizadas como provas e expirações no processo evolutivo de cada ser, que exigirão paciência e resignação para suportar as tribulações da vida na busca de patamares mais elevados de progresso, em fidelidade e comunhão com os desígnios de Deus.

Autor: Juan Carlos Orozco

Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

EMMANUEL (Espírito); psicografado por Francisco Cândido Xavier. Fonte viva.  1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2020.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

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