Percepção
As percepções podem ser coincidentes ou diversas em relação a fatos, fenômenos, temas, assuntos, questões, objetos, coisas, circunstâncias ou pessoas.
Dependendo da percepção, constroem-se ideias, conhecimentos, consciências, entendimentos, interpretações, noções, visões de mundo, impressões, posicionamentos, opiniões, crenças, verdades, intuições, julgamentos.
As percepções podem ser influenciadas por vários fatores: contexto, conhecimentos e experiências anteriores, memória, preconceitos, crenças, concepções, pontos de vista, perspectivas, posturas, posições, teses, óticas, julgamentos, teorias, certezas, dentre outras tantas.
De maneira geral, a percepção corresponde à experiência sensorial ao redor de uma pessoa e como a concebe.
Razão
Razão é uma faculdade de conhecimento e entendimento intelectual do ser humano, estabelecendo relação de causa e efeito entre coisas e fatos. É a capacidade de raciocinar por meio de argumentos, encadeamentos lógicos, deduções e abstrações.
Pela razão, a pessoa identifica, compreende, estabelece lógica, ascende ideias, julga, avalia, justifica, questiona, conceitua, determina coerência ou contradição, induz ou deduz, permite chegar a afirmações a partir de ideias ou premissas, identifica e opera conceitos e encontra coesão ou contradição entre pensamentos.
Nesse sentido, as razões podem ser muitas e fundamentadas em inúmeros argumentos para justificar algo, coisa ou alguém. Ademais, elas podem ser apoiadas em fatos incontestáveis, duvidosos ou ilusórios de percepções equivocadas.
Quando se acredita em algo, a razão pode ser sugestionada por ideias construídas ou pré-estabelecidas, fazendo com que se refute outros posicionamentos contrários ao que se concebe. Além disso, por trás da razão pode haver coisas que se desconhece.
Por isso, importante compreender a essência das coisas, dos fatos, dos fenômenos ou das pessoas por meio do pensamento racional.
Ilusão
A ilusão poderá ser uma percepção errônea ou um entendimento equivocado que prejudica os sentidos para a compreensão de algo ou alguém.
Pela ilusão, pode-se identificar uma aparência fora da realidade, um fato ou fenômeno distorcido, enganoso ou falso. A ilusão ludibria os sentidos e a mente, ofuscando a razão para discernir ou enxergar a realidade dos fatos. O ser iludido é enganado.
Quando se percebe enganado, há a desilusão, afastando aquele pensamento com a sensação de desapontamento, frustração ou decepção.
O nível de frustração estará relacionado ao grau de expectativa que a pessoa estabeleceu daquilo que desejava, pensava, imaginava ou esperava.
Dogma
Dogma é o princípio que se acredita ou convenciona sem discussão, debate ou evidências científicas.
Os dogmas são crenças que devem respeitados pelos seus membros sem críticas.
Alguns princípios religiosos são dogmáticos.
Fé raciocinada e inabalável
Allan Kardec cuidou desse tema em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no Capítulo XIX – A fé transporta montanhas, – A fé religiosa. Condição da fé inabalável –, esclarecendo:
“Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Assentando no erro, cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana. Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade; preconizar alguém a fé cega sobre um ponto de crença é confessar-se impotente para demonstrar que está com a razão. (…)
A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega já não é deste século, tanto assim que precisamente o dogma da fé cega é que produz hoje o maior número dos incrédulos, porque ela pretende impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio. É principalmente contra essa fé que se levanta o incrédulo, e dela é que se pode, com verdade, dizer que não se prescreve. Não admitindo provas, ela deixa no espírito alguma coisa de vago, que dá nascimento à dúvida. A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.”
Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos”, na Introdução, também aborda essa temática:
“Toda a gente admira a moral evangélica; todos lhe proclamam a sublimidade e a necessidade; muitos, porém, assim se pronunciam por fé, confiados no que ouviram dizer, ou firmados em certas máximas que se tornaram proverbiais. Poucos, no entanto, a conhecem a fundo e menos ainda são os que a compreendem e lhe sabem deduzir as consequências. A razão está, por muito, na dificuldade que apresenta o entendimento do Evangelho que, para o maior número dos seus leitores, é ininteligível. A forma alegórica e o intencional misticismo da linguagem fazem que a maioria o leia por desencargo de consciência e por dever, como leem as preces, sem as entender, isto é, sem proveito. Passam-lhes despercebidos os preceitos morais, disseminados aqui e ali, intercalados na massa das narrativas. Impossível, então, apanhar-se-lhes o conjunto e tomá-los para objeto de leitura e meditações especiais.”
O primeiro exame comprobativo é, pois, sem contradita, o da razão, ao qual cumpre se submeta, sem exceção, tudo o que venha dos Espíritos. Toda teoria em manifesta contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos já adquiridos, deve ser rejeitada, por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura. Incompleto, porém, ficará esse exame em muitos casos, por efeito da falta de luzes de certas pessoas e das tendências de não poucas a tomar as próprias opiniões como juízes únicos da verdade. Assim sendo, que hão de fazer aqueles que não depositam confiança absoluta em si mesmos? Buscar o parecer da maioria e tomar por guia a opinião desta. De tal modo é que se deve proceder em face do que digam os Espíritos, que são os primeiros a nos fornecer os meios de consegui-lo.”
Kardec no livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no Capítulo I – Não vim destruir a lei, em “Aliança da Ciência e da Religião”, item 8, ensina:
“A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se. Se fossem a negação uma da outra, uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade, porquanto Deus não pode pretender a destruição de sua própria obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de ideias provém apenas de uma observação defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí um conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância.
São chegados os tempos em que os ensinamentos do Cristo têm de ser completados; em que o véu intencionalmente lançado sobre algumas partes desse ensino tem de ser levantado; em que a Ciência, deixando de ser exclusivamente materialista, tem de levar em conta o elemento espiritual e em que a Religião, deixando de ignorar as leis orgânicas e imutáveis da matéria, como duas forças que são, apoiando-se uma na outra e marchando combinadas, se prestarão mútuo concurso. Então, não mais desmentida pela Ciência, a Religião adquirirá inabalável poder, porque estará de acordo com a razão, já se lhe não podendo mais opor a irresistível lógica dos fatos.
A Ciência e a Religião não puderam, até hoje, entender-se, porque, encarando cada uma as coisas do seu ponto de vista exclusivo, reciprocamente se repeliam. Faltava com que encher o vazio que as separava, um traço de união que as aproximasse. Esse traço de união está no conhecimento das leis que regem o universo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo, leis tão imutáveis quanto as que regem o movimento dos astros e a existência dos seres. Uma vez comprovadas pela experiência essas relações, nova luz se fez: a fé dirigiu-se à razão; esta nada encontrou de ilógico na fé: vencido foi o materialismo. Mas nisso, como em tudo, há pessoas que ficam atrás, até serem arrastadas pelo movimento geral, que as esmaga, se tentam resistir-lhe, em vez de o acompanharem. É toda uma revolução que neste momento se opera e trabalha os espíritos. Após uma elaboração que durou mais de dezoito séculos, chega ela à sua plena realização e vai marcar uma nova era na vida da Humanidade. Fáceis são de prever as consequências: acarretará para as relações sociais inevitáveis modificações, às quais ninguém terá força para se opor, porque elas estão nos desígnios de Deus e derivam da lei do progresso, que é Lei de Deus.”
Portanto, cada um tem a plena liberdade de escolher os princípios morais e religiosos que deseja, mediante o livre-arbítrio do seu julgamento e raciocínio.
Contudo, nem sempre será possível chegar a uma conclusão de consenso a respeito de determinado assunto e tampouco aceitar como definitivo algo que não foi analisado e conhecido suficientemente.
Um caminho seria buscar a elucidação de uma dúvida, fugindo de ambiguidades que produzem confusões de ideias ou interpretações equivocadas.
A fé raciocinada e inabalável seria aquela que pode encarar de frente a razão em todas as épocas.
Naturalmente, a Ciência sempre questionou a revelação divina com diferentes entendimentos, desde os mais radicais, que negam a existência de Deus, até os que aceitam parcial ou totalmente a ideia de um Criador Supremo.
Como a ideia de Deus é inerente ao ser humano, é possível que, no futuro, a Ciência se encontre a Religião, estabelecendo uma aliança.
Religiosamente, o simples fato de crer em Deus motiva reformas íntimas nas pessoas, que passam a reconhecer o valor da providência divina e aproveitam a chance de melhorar-se moralmente, compreendendo a extensão do amor, da misericórdia e da justiça divinas.
Esses entendimentos alimentam a alma e servem de apoio para vencer os desafios existenciais, sem entorpecer os sentidos e a vontade.
Pela fé raciocinada, o ser não se limita a crer, pois ele compreende porque raciocina.
A fé inabalável será caraterística das futuras gerações nesse momento de transição planetária. A fé que esclarece e fortifica, que une em um sentimento comum de amor a Deus e ao próximo.
Autor: Juan Carlos Orozco
Bibliografia:
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
