Esta reflexão traz alguns esclarecimentos e ensinamentos sobre a reparação do mal causado ao nosso semelhante e como pacificar os ressentimentos do passado.
Embora o arrependimento seja o primeiro passo para a regeneração, ele por si só não basta, pois somente a reparação pode anular o efeito destruindo a causa da falta, que consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal. Se não realizar a reparação nesta vida, enquanto estiver a caminho com o seu adversário, serão precisas a expiação e a reparação em existências seguintes.
Em nossas existências, quantas infrações ou faltas cometemos e males causamos aos nossos semelhantes, com consequências danosas. Em algum momento, poderemos até não praticar o mal, mas se não praticarmos o bem e o amor não evoluiremos.
Como somos seres imperfeitos e portadores de inúmeras infrações, em uma única existência não conseguimos reparar todas as faltas do passado. Contudo, importante não adquirir novas faltas, procurando sempre praticar o bem na sua plenitude para evoluir.
Em nossas vidas, deparamo-nos com diversas situações conflituosas. Em certos momentos, reage-se por impulso ou intencionalmente, com ira, raiva, ódio e violência desproporcional, sustentados pelo egoísmo doentio, pelo orgulho ferido, pela inveja desmedida, pela vaidade descontrolada, entre tantos outros sentimentos inferiores.
Acreditando no direito de defesa e sobrevivência, reage-se na mesma intensidade das ofensas e agressões recebidas e até parte-se para o revide de forma passional.
Nesta vida, já poderemos ser punidos pelas infrações que cometemos às leis que regem a existência corporal, por meio dos males causados à sociedade. Outros males decorrem das infrações do abandono voluntário a que relegamos às leis divinas.
O sofrimento acompanha o ser humano desde as suas origens, no começo de sua caminhada evolutiva, a partir do momento em que começou a se desviar das leis divinas.
Muitos ressentimentos, ódios, raivas, invejas, perseguições e desejos de vingança, entre seres, são levados para depois da desencarnação, sendo causas de diversos sofrimentos, tormentos e obsessões. O ressentimento é produto do atraso moral, das imperfeições e das fraquezas, representando uma animosidade crescente dentro de nós.
Ofendemos e somos ofendidos, deliberadamente ou sem intenção. Ferimos os nossos semelhantes porque não conseguimos frear os impulsos. Uma simples contrariedade é motivo para perder o equilíbrio.
É preciso controlar os impulsos agressivos: pensar, antes de dizer qualquer coisa; selecionar as palavras a serem empregadas; abolir palavras depreciativas, ironia, brincadeiras de mau gosto, crítica destrutiva, gestos indelicados, gritos; respeitar as ideias alheias; pedir perdão quando não agir adequadamente; praticar o princípio de só fazer ao próximo o que se deseja para se mesmo.
A cólera conduz aos sentimentos mais primitivos, das almas baixas ou dos Espíritos inferiores, beirando a selvageria, sendo causa de diversas enfermidades físicas e males psíquicos, sentimentos que impedem se faça o bem e pode levar até à prática do mal.
A cólera funciona como mecanismo de autodefesa diante do que acredita ser um perigo. Por isso, deve-se dominá-la, pois poderá invocar forças tenebrosas, proporcionar momento impensado, escuros compromissos, descendo da harmonia à perturbação e vagueando nos labirintos da prova por tempo indeterminado.
Os acessos de cólera não resolvem os problemas. Diante destes males, é preciso estar atento às constantes influências negativas e promover uma reforma íntima na busca de renovação, transformação e mudança de determinados comportamentos.
O caminho da reabilitação moral do Espírito passa pelo arrependimento, pela expiação e pela reparação, as condições necessárias para apagar os traços de uma falta.
O arrependimento suaviza a expiação, abrindo o caminho para a reabilitação. Porém, Deus não dá valor a um arrependimento estéril, ele tem que ser real e mediante frutos.
A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal. Quem não repara os seus erros numa existência, achar-se-á numa existência ulterior em contato com as mesmas pessoas que de si tiverem queixas, e em condições voluntariamente escolhidas, de modo a demonstrar-lhes reconhecimento e fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha feito. Pela reencarnação, somos solidários no passado e no futuro, em que as relações se perpetuam no mundo espiritual e no corporal.
Deus perdoa aos que sinceramente se arrependem e atende à reparação. Somente o bem repara o mal. A reparação nenhum mérito terá no homem se não modificar o seu egoísmo, orgulho e interesses materiais. É preciso mudar o comportamento.
Diante de situações conflituosas, antes da decisão aconselhada pela ira ou pela violência, devemos perguntar ao amor o caminho a ser seguido. O amor responderá com sabedoria como prosseguir: ele falará da mansidão, da brandura, da paz e da esperança.
O perdão é ato de se desprender do ressentimento e a indulgência é característica de quem tem facilidade em perdoar os erros cometidos por outros indivíduos.
Do amor ao próximo até amar os inimigos, mede-se a evolução moral, donde decorre o grau da perfeição.
Não estamos apenas à espera do benefício para o nosso coração e para a nossa consciência, mas estamos igualmente assumindo o compromisso de desculpar os que nos ofendem.
Outra meta é a busca da paz interior, a paz de Espírito, dentro do contexto de reforma íntima, mudando nosso comportamento segundo as leis de Deus e os ensinamentos de Jesus e, como consequência, contribuir para a paz na Terra. Com a paz interior, cada um de nós estará semeando a paz na Terra. Inspirados pelo amor ao semelhante e sem mágoas, devemos trabalhar pela paz e pelo entendimento entre os homens.
Porém, a resposta do amor exigirá grande esforço e tempo para reflexão. Esforço e tempo estarão conectados com a paciência, no autocontrole emocional que suporta situações desagradáveis, sem perder a calma e a concentração.
É imprescindível saber suportar para renovar, sofrer para soerguer, apoiar para levantar e renunciar para possuir.
Com esta reflexão, compreendemos que todo efeito tem causa. Se a causa não se encontrar na vida atual, há de ser anterior a essa vida. O homem sofre as consequências de suas faltas. Não há uma só infração à lei de Deus que não acarrete a sua punição. Por isso, temos que reparar as nossas faltas praticando o bem, principalmente a quem causamos o mal, libertando a alma das amarras perturbadoras do egoísmo e do orgulho.
Entendendo as causas das dores e dos sofrimentos, pela lei de causa e efeito, o ser humano esforça-se pela aceitação dos mesmos, resigna-se, não reclama, tampouco se revolta ou desespera, porque sabe que esses males são necessários ao seu progresso espiritual.
Procura, então, perdoar, renovar, reparar e pacificar todo tipo de ressentimento, com serenidade e confiança, porquanto a libertação dos sofrimentos de causas passadas trará benefícios que impulsionarão a nossa evolução moral e espiritual.
Bibliografia:
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); psicografia de Divaldo Pereira Franco. Tesouros Libertadores. 1ª Edição. Salvador/BA: Leal, 2016.
BÍBLIA SAGRADA.
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. O Céu e o Inferno. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.