Quem é o próximo?
Pela Parábola do Bom Samaritano, o próximo é o que necessita dos nossos serviços, da nossa palavra, dos nossos cuidados, da nossa misericórdia e da nossa proteção.
Quem tem verdadeiramente amor, auxilia o seu próximo com tudo o que lhe for possível ajudar.
Para o Espírito Emmanuel:
“O próximo, em cada minuto, é aquele coração que se acha mais próximo do nosso, por divina sugestão de amor no caminho da vida.
No lar, é a esposa e o esposo, os pais e os filhos, os parentes e os hóspedes.
No templo do trabalho comum, é o chefe e o subordinado, o cooperador e o companheiro.
Na via pública, é o irmão ou o amigo anônimo que nos partilham a mesma estrada e o mesmo clima.
Na esfera social, é a criança e o doente, o desesperado e o triste, as afeições e os laços da solidariedade comum.
Na luta contundente do esforço humano, é o adversário e o colaborador, o inimigo declarado e oculto ou, ainda, o associado de ideais que nos surgem por instrutores.
Em toda parte, encontrarás o próximo, buscando-te a capacidade de entender e ajudar”.
Você se ama? Quanto é este amor?
Você tem amado o próximo? Quanto é este amor?
Você tem amado o próximo como a si mesmo?
A verdade é que, há dois mil anos, ainda não aprendemos a amar o próximo como a nós mesmos!
A lei de Deus estabelece deveres diante do Pai e para com o próximo, sendo a base de toda a lei.
“Amar o próximo como a si mesmo” relaciona o amor ao próximo com o amor que a pessoa tem dela mesma. Ou seja, a medida com que devemos amar o próximo é a mesma com que nos amamos.
Se não tenho amor próprio, como amar o próximo? Não será possível!
Por outro lado, se tenho amor egoísta, da mesma forma, não há lugar para o amor ao próximo.
Além do egoísmo pessoal, há o egoísmo seletivo: somente amo pessoas do meu círculo de afinidade. De igual maneira, não consigo amar o próximo.
Daí a meta a ser alcançada: estender o círculo de amor além do núcleo de parentesco e amizade, rumo à fraternidade universal.
Pela reencarnação, somos solidários no passado e no futuro, em que as relações se perpetuam no mundo espiritual e no corporal. A fraternidade tem por base as próprias leis da natureza.
A caridade e a fraternidade tornam-se uma necessidade social.
Somente o progresso moral pode assegurar a felicidade dos homens sobre a Terra, colocando um freio nas más paixões; somente ele pode fazer com que reinem a concórdia, a paz e a fraternidade entre os homens.
Assim, a fraternidade não está mais circunscrita a alguns indivíduos que o acaso reúne durante a duração efêmera da vida; ela é perpétua como a vida do espírito, universal como a humanidade, que constitui uma grande família em que todos os membros são solidários uns com os outros, qualquer que seja a época em que viveram.
Recordo, nesse momento, Maria de Nazaré diante da cruz e do seu filho amado.
“Em meio de algumas mulheres compadecidas, que lhe acompanhavam o angustioso transe, Maria reparou que alguém lhe pousara as mãos, de leve, sobre os ombros. Deparou-se com João (Evangelista) que lhe estendia os braços amorosos e reconhecidos.
Maria deixou-se enlaçar pelo discípulo querido e ambos, ao pé da cruz, buscaram a luz daqueles olhos misericordiosos, no cúmulo dos tormentos. Foi aí que a fronte do divino supliciado se moveu vagarosamente, revelando perceber a ansiedade daquelas duas almas em extremo desalento.
– “Meu filho! Meu amado filho!… “exclamou a mártir, em aflição diante da serenidade daquele olhar de melancolia intraduzível”.
O Cristo pareceu meditar no auge de suas dores, mas, como se quisesse demonstrar, no instante derradeiro, a grandeza de sua coragem e a sua perfeita comunhão com Deus, replicou com significativo movimento dos olhos vigilantes: – Mãe, eis aí teu filho!… – e dirigindo-lhes, de modo especial, com um leve aceno, ao Apóstolo, disse: – Filho, eis aí a tua mãe!
Maria envolveu-se no véu de seu pranto doloroso, mas o grande evangelista compreendeu que o Mestre, na sua derradeira lição, ensinava que o amor universal era o sublime coroamento de sua obra.
Entendeu que, no futuro, a claridade do reino de Deus revelaria aos homens a necessidade da cessação de todo egoísmo e que, no santuário de cada coração, deveria existir a mais abundante cota de amor, não só para o círculo familiar, senão também para todos os necessitados do mundo, e que no templo de cada habitação permaneceria a fraternidade real, para que a assistência recíproca se praticasse na Terra, sem serem precisos os edifícios exteriores, consagrados a uma solidariedade claudicante.
Ao dirigir-se à Mãe e ao discípulo João Evangelista, Jesus estabelecia novas relações de amor entre os cristãos, que vai muito além da necessidade de resolver um problema familiar. O intento era de entregar o discípulo a Maria, atribuindo-lhe uma nova missão materna para com todos nós: fraternidade de Maria.
A fraternidade de Maria está nas novas relações de parentesco e de amor entre os cristãos, em que se desenvolvem sentimentos de afeto próprios dos irmãos de sangue, o laço de união entre os homens, e de amor ao próximo.
Com a chegada de João Evangelista, que abraça Maria na hora extrema de Jesus, o Mestre nos deixa uma linda lição sobre o verdadeiro parentesco e a vida após a morte. Ao apontar João e dizer à própria mãe “eis aí teu filho”, Jesus dá a Maria uma chave para libertar o próprio coração pela perda de um ente querido: o desapego.
Num olhar mais profundo, quer mostrar que o seguimento de Jesus para fazer parte de sua família ultrapassa os laços de parentesco. Jesus inaugura uma nova família constituída não mais do sangue e dos laços de parentesco (valor absoluto nas sociedades antigas) e sim daqueles que se juntam ao redor de Jesus para fazer a vontade do Pai. Ensina que até Maria, a criatura mais estreitamente ligada a Jesus pelos laços de sangue (maternidade) teve que elevar a ordem mais alta dos seus valores”.
Assim, Jesus nos ensinou a realidade do Deus Amor e também a caridade (amor ao próximo em ação) como maior dos mandamentos. O Mestre quis mostrar que, ao perder um filho, uma mãe ganha a humanidade inteira de “próximos” por quem pode fazer o bem: a mãe de todos.
O pai, a mãe, os filhos ou parentes próximos são sempre obras de amor inadiáveis, a primeira escola da caridade. Mas o lar será sempre o início do trabalho para que o Espírito chegue ao amor universal. Eis o sentido de enxergarmos a todos como “irmãos”, verdadeiro parentesco espiritual.
No processo de transição planetária, reconhecemos que o amor e o bem em ação sempre serão uma necessidade impostergável para o alvorecer de um mundo regenerado.
O amor resume toda a doutrina de Jesus, visto que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito.
A Terra, orbe de provação e de exílio, será então purificada pelo fogo sagrado e verá praticados na sua superfície a caridade, a humildade, a paciência, o devotamento, a abnegação, a resignação e o sacrifício, virtudes todas filhas do amor.
Do amor ao próximo até amar os inimigos, mede-se a evolução moral, donde decorre o grau da perfeição. Foi por isso que Jesus, depois de haver dado a seus discípulos as regras, lhes disse: “sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai celestial”.
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA.
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MOURA, Marta Antunes de Oliveira. Estudo aprofundado da doutrina espírita: Livro III – Ensinos e Parábolas de Jesus – Parte II, Orientações espíritas e sugestões didático pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.
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MOURA, Marta Antunes de Oliveira. Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita: Livro V – Programa Filosofia e Ciência Espíritas. Contém orientações doutrinárias que priorizam os aspectos filosóficos e científicos do Espiritismo vinculadas às consequências morais do aprendizado espírita. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2011.
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