Ao ler o livro “Cinquenta anos depois”, do Espírito Emmanuel, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, nos Capítulos IV (Na Via Nomentana) e V (A pregação do evangelho), temos uma interpretação do Evangelho de Mateus, Capítulo 12, versículos de 46 a 50, realizada por Nestório, personagem de uma das reencarnações de Emmanuel, para uma pequena assembleia de seguidores do Cristianismo nascente.
Esse tema já foi motivo de reflexão neste Blog em “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?”, no qual ressaltou-se que as interpretações conduzem aos ensinamentos relacionados aos laços de família, diferenciando as uniões biológicas das espirituais, sendo que os verdadeiros laços se darão pela prática do amor fraterno universal e pelas afinidades duráveis que se fortalecem mediante a purificação moral e espiritual, perpetuando-se no mundo dos Espíritos, através das várias migrações da alma. Os laços espirituais extrapolam os laços da família consanguínea.
Nesse sentido, considero importante complementar esses ensinamentos com as interpretações extraídas do livro “Cinquenta anos depois”:
“- Meus irmãos, estudaremos ainda hoje os ensinamentos do Mestre, nos capítulos de Mateus, versando a lição desta noite: ‘aqueles que são os verdadeiros irmãos do Messias!…’
E, desenrolando a folha que o tempo desbotara, Sérgio Hostílio leu pausadamente:
Estando Jesus a pregar ainda para a multidão, sua mãe e seus irmãos de fé, do lado de fora, procuravam falar-lhe. Então alguém lhe observou: ‘tua mãe e teus irmãos encontram-se aí fora, procurando-te’. Respondendo a quem o advertira, disse o Mestre: ‘Quem é minha mãe e quem são os meus irmãos?’ E, estendendo a mão para todos os seus discípulos e seguidores, exclamou: ‘Eis aqui minha mãe e meus irmãos, porquanto, quem quer que faça a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe!” (Emmanuel; 2020, p. 81-82)
Em seguida, temos as narrativas de Nestório:
“Depois de relatadas as reminiscências de Éfeso com os seus vultos mais eminentes, falou para comentar a leitura da noite:
– Para tanger o ponto evangélico desta noite, lembremos que Jesus não podia condenar os laços humanos e sacrossantos da família, mas suas palavras, proferidas para a eternidade, abrangem e abrangerão todas as situações e todos os séculos vindouros, de modo a demonstrar que a fraternidade é o seu alvo e que todos nós, homens e grupos, coletividades e povos, somos membros de uma comunidade universal, fraternidade, essa, que um dia nos integrará a todos como irmãos bem-amados, e para sempre.
‘Seus ensinamentos referiam-se àqueles que, cumprindo a vontade soberana e justa do Pai que está nos Céus, marcham na vanguarda dos caminhos humanos, em demanda do seu Reino de amor, cheio de belezas imperecíveis!
‘Os que sabem acatar, neste mundo, os desígnios de Deus, com humildade e tolerância, com resignação e com Amor, chegarão mais depressa junto daquele que se nos revelou há um século o Caminho, Verdade e Vida! Esses Espíritos amorosos e justos, que se iluminaram interiormente pela compreensão e aplicação dos ensinos em toda a vida, estarão mais perto do seu coração misericordioso, cujas pulsações sagradas repercutem em nosso próprio ser, pela magnanimidade infinita que sentimos em torno de nossa alma, em todos os passos desta vida!… Tais criaturas são desde já seus irmãos mais próximos, pela iluminação evangélica no cumprimento das leis do amor e do perdão.
‘Dentro, pois, dessas luzes prodigiosas da Verdade, sentimo-nos compelidos a dilatar o conceito de família no plano universalista, alijando o criminoso egoísmo que, por vezes, nos toma de assalto o coração, criando os germes da discórdia e do sofrimento no próprio lar.
‘Se um homem é a partícula divina da coletividade, o lar é a célula sagrada de todo o edifício da civilização. Um homem divorciado do bem e um lar envenenado pelos desvios do sentimento, operam os desequilíbrios singulares que atormentam os povos!…
‘Jesus conhecia todas as nossas necessidades e ajuizou de nossa situação, não apenas em vista da época que passa, mas de todos os séculos do futuro.
‘Acredito que o Evangelho não poderá ser integralmente compreendido em nossos tempos amargos de devassidão e decadência; todavia, enquanto as forças mais poderosas do mundo se concentram neste Império cheio de orgulho e impiedade, outras energias profundas trabalham o seu organismo atormentado, preparando o advento das civilizações do porvir.
‘Até agora, as águias romanas dominam todas as regiões e todos os mares, mas dia virá em que esses símbolos de ambição e tirania hão de rolar dos seus pedestais, numa tempestade de cinzas e de sombras!… Outros povos serão chamados a dirigir os movimentos do mundo. Mas, enquanto o espírito agressivo da guerra permanecer entre os homens, qual monstro de ruína e de sangue, será sinal de que as criaturas não se realizaram interiormente para serem os irmãos do Mestre, puros e pacíficos.
‘A Terra viverá as suas fases evolutivas de dor e de experiências dolorosas, até que a compreensão perfeita do Messias floresça em todo o mundo, para as almas.
‘Até agora, o Cristianismo tem medrado com as lágrimas e o sangue de seus mártires, mas os Espíritos do Senhor, cujas vozes ouvi na mocidade nas sagradas reuniões da Igreja de Éfeso, asseveravam aos discípulos de João que, não levará muito tempo, o proselitismo do Cristo será chamado a colaborar nas esferas políticas do mundo, para dissipar a treva e a confusão da sua rede de enganos…
‘Nessa época, meus irmãos, talvez que a doutrina do Mestre venha a sofrer o insulto daqueles que navegam no vasto oceano dos poderes terrestres, cheios de vaidade e despotismo. É possível que espíritos turbulentos e endurecidos tentem subverter os valores da nossa fé, desvirtuando-a com as exterioridades do politeísmo, mas ai dos que operarem semelhante atentado, em face das verdades que nos orientam e consolam!…
‘Nos esforços da fé, jamais esqueçamos a exortação do Senhor às mulheres de Jerusalém, que pranteavam ao vê-lo avergado sob o madeiro infamante: ‘Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos, porque dias virão em que se dirá: – Ditosas as estéreis, ditosos os ventres que nunca geraram e os seios que nunca amamentaram! – Pôr-se-ão todos os homens a dizer aos montes: – Caí sobre nós! e às colinas: – Cobri-nos! Porque, se assim procedem com o lenho verde, que se fará, então, com o lenho seco?!’
‘Ai de quantos abusarem em nome da aquele que nos assiste do Céu e conhece nossos mais recônditos pensamentos, pois, mais tarde, conforme o prometeu, a luz do Alto se derramará sobre toda a carne e a voz dos Céus será ouvida na Terra, por meio dos mais doces ensinamentos e das mais elevadas profecias! Se falharem os homens, hão de vir até nós os exércitos de seus anjos, atestando a sua misericórdia…
‘É que, meus irmãos, o Reino de Jesus deve ser fundado sobre os corações, sobre as almas, e não poderá conciliar-se nunca, neste mundo, com qualquer expressão política de egoísmo humano ou de doutrinas de violência, que estruturam os Estados da Terra!
‘O reino do Senhor sofrerá, por muito tempo, ‘a abominação do lugar santo’, pela falsa interpretação dos homens, mas chegará a época em que a Humanidade, hoje decadente e corrompida, se sentirá a caminho de uma Jerusalém gloriosa e libertada!…
‘Guardemos na mente a convicção de que o Reino de Jesus não está nos templos ou nos manuscritos materiais que o tempo se incumbirá de aniquilar em sua passagem incessante e, sim, que os alicerces divinos têm de ser construídos no íntimo do homem, de modo que cada alma possa edificá-lo por si mesma, à custa de esforços e lágrimas, a caminho das moradas gloriosas do Infinito, onde nos aguardarão, depois da jornada, as bênçãos do Cordeiro de Deus, que se imolou na cruz, para nos redimir do infortúnio e do pecado!…” (Emmanuel; 2020, p. 86-89)
Bibliografia:
EMMANUEL (Espírito); psicografado por Francisco Cândido Xavier. Cinquenta anos depois. 34ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2020.
Excelente estudo. Gratidão a todos que contribuíram para realiza-lo.
Pouso Alegre MG
Prezado Isaac Mello, boa noite. Muito obrigado pelo seu comentário. Um fraterno abarço. Juan Carlos