As tentações e a vigilância permanente

Esta reflexão associa a vigilância permanente com as tentações que servem de provas para o ser humano resistir, manter a fé e a confiança em Deus, precavendo-se dos excessos, compreendendo a utilidade dos bens terrenos e conseguindo dominar os atrativos dos prazeres decorrentes dos nossos desejos.

Enquanto seres imperfeitos, sempre seremos tentados em nossas existências, pois as tentações são inerentes às vulnerabilidades e às fraquezas da carne diante dos desejos e das satisfações pelo gozo dos bens materiais.

“Bem-aventurado o homem que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam”. (Tiago 1: 12)

Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, na questão 122, sobre “Como podem os Espíritos, em sua origem, quando ainda não têm consciência de si mesmos, gozar da liberdade de escolha entre o bem e o mal? Há neles algum princípio, qualquer tendência que os encaminhe para uma senda de preferência a outra?” A resposta dos Espíritos Superiores é que “o livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Já não haveria liberdade, desde que a escolha fosse determinada por uma causa independente da vontade do Espírito. A causa não está nele, está fora dele, nas influências a que cede em virtude da sua livre vontade. É o que se contém na grande figura emblemática da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação, outros resistiram”.

Desta resposta, verificamos que o livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo, daí a importância de desenvolvê-la para o exercício da liberdade de escolha, que é determinada pela vontade do Espírito. As influências externas somente darão causas se cedermos por nossa vontade. Se há quedas, é porque caímos em tentação.

Kardec, na questão 469, indaga como podemos neutralizar a influência dos maus Espíritos, tendo como resposta “praticando o bem e pondo em Deus toda a vossa confiança, repelireis a influência dos Espíritos inferiores e aniquilareis o império que desejem ter sobre vós. Guardai-vos de atender às sugestões dos Espíritos que vos suscitam maus pensamentos, que sopram a discórdia entre vós outros e que vos insuflam as paixões más. Desconfiai especialmente dos que vos exaltam o orgulho, pois que esses vos assaltam pelo lado fraco. Essa a razão por que Jesus, na oração dominical, vos ensinou a dizer: ‘Senhor! não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal’.”

Logo, poderemos repelir a influência, as sugestões e os maus pensamentos de Espíritos inferiores praticando o bem e confiando em Deus, os quais se aproveitam das nossas fraquezas e vulnerabilidades.

Para certos homens, o meio onde se encontram não representa a causa dos vícios e crimes, mas neste encontram a prova que o Espírito escolheu no planejamento reencarnatório, levado pelo desejo de expor-se à tentação para ter o mérito da resistência.

O meritório estará em resistir à tentação que arrasta ao excesso ou ao gozo das coisas inúteis. É superar as vulnerabilidades da carne em que os Espíritos perversos procuram desviar-nos da senda do bem e do arrependimento.

Por outro lado, sempre serão boas as influências dos bons Espíritos, pois “não há arrastamento irresistível: o homem pode sempre cerrar ouvidos à voz oculta que lhe fala no íntimo, induzindo-o ao mal, como pode cerrá-los à voz material daquele que lhe fale ostensivamente. Pode-o pela ação da sua vontade, pedindo a Deus a força necessária e reclamando, para tal fim, a assistência dos bons Espíritos. Foi o que Jesus nos ensinou por meio da sublime prece que é a oração dominical, quando manda que digamos: ‘não nos deixes sucumbir à tentação, mas livra-nos do mal’.”

Em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, várias questões relacionam o desejo do bem ou do mal dos Espíritos às suas ordens de perfeição ou imperfeição. Conforme os desejos, progredirão mais ou menos.

Por exemplo, na questão 97, a resposta expressa que se considerar os caracteres gerais dos Espíritos, pode-se reduzir a três principais ordens: “Na primeira, colocar-se-ão os que atingiram a perfeição máxima: os puros Espíritos. Formam a segunda os que chegaram ao meio da escala: o desejo do bem é o que neles predomina. Pertencerão à terceira os que ainda se acham na parte inferior da escala: os Espíritos imperfeitos. A ignorância, o desejo do mal e todas as paixões más que lhes retardam o progresso, eis o que os caracteriza”.

Nos Espíritos puros, não há descrição de desejos. Já na segunda ordem, dos bons Espíritos, o desejo do bem é o que neles predomina. Na terceira ordem, dos Espíritos imperfeitos, a ignorância, o desejo do mal e todas as paixões más retardam o progresso. Por conseguinte, identifica-se quão importante o ser humano vigiar e resistir às tentações, desenvolvendo a fé e a razão, precavendo-se dos excessos e compreendendo a utilidade dos bens terrenos e dominando os atrativos dos prazeres decorrentes dos nossos desejos, como meio para evoluir moral e espiritualmente.

O desejo é o motor do barco que impulsiona a euforia, a vida e a evolução. Sempre teremos desejos para as nossas satisfações. Ninguém vive sem desejos. No entanto, este barco movido pelos desejos precisa do leme para dar direção. O problema é como controlamos os nossos desejos. É preciso dominá-los para ter o comando do leme do barco, dar direção e rumo às nossas vidas.

Somos imagem e semelhança do Criador, trazemos o DNA divino e as potencialidades da alma para alcançar a perfeição relativa à Humanidade. Temos ainda os talentos e as aquisições para proceder a necessária evolução.

Para tanto, as vulnerabilidades da carne exigem oração e vigilância permanente, porque não somos perfeitos. Diante da prova, orar, envidando meios de transformá-la em experiência benéfica. Orar não exprime somente adorar e aquietar-se, mas comungar com o poder divino, que é crescimento incessante para a luz, e com o divino amor, que é serviço infatigável no bem. Vigiar significa guardar, precaver, cuidar, trabalhar e defender-se.

Se nos propusermos a sair dos processos de tentação, é preciso vigiar.


Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor. 32ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.

DIAS, Haroldo Dutra. As origens das tentações. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=d6dGzRbN7-I&list=PLWVpdx_AU1eguwuDlV-D2SHfkk5YYl-Qi&index=24&t=0s. Publicado em: 20 de agosto de 2015, pela Federação Espírita do Rio Grande do Sul. Acessado em: 30 de março de 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

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