Outro dia na livraria, estava folheando um livro cujo título tratava de “despertar”, apresentando-se como um guia para a espiritualidade sem religião, que me chamou a atenção.
Lendo as “orelhas” do livro, o autor identificava-se como filósofo, ateu e praticante de meditação. Argumentava que a meditação e a prática contemplativa não têm como pré-requisito qualquer tipo de crença “mística” ou “espiritual”. Para ele, a meditação provaria que esses conceitos não existem.
Fez-me lembrar, também, outro livro, em que o escritor expressava que a humanidade não precisa mais de Deus, mas pode desenvolver uma nova forma de consciência coletiva, com a ajuda da inteligência artificial, que cumpra a função da religião. Na sua tese, o romance procura responder às seguintes perguntas: será que Deus sobreviverá à Ciência? Será que somos ingênuos, hoje, por acreditar que o Deus do presente sobreviverá e estará aqui em cem anos?
Fiquei a pensar comigo, como somos testados em nossa fé. Seriam os sinais dos tempos para os anticristos e os falsos profetas? Orai e vigiai!
No dia seguinte, de manhã, alguns pensamentos intuitivos apresentavam-se com argumentos para perseverar, resistir e manter a fé, a exemplo do Apóstolo Paulo de Tarso, no final de sua missão na Terra, diante do combater o bom combate, da luta do bem contra o mal, e guardar a fé.
A fé foi, sem dúvida, o instrumento que garantiu a Paulo a força moral para vencer as vicissitudes da vida. A missão de Paulo não foi fácil, pois sofreu toda sorte de atribulações. A sua missão pode ser resumida em três palavras: fé, esperança e caridade.
Ao invés de argumentos contestatórios diretos, a narrativa da intuição partia da negação para concluir, posteriormente, na afirmação. Quer dizer, o raciocínio lógico seria negar Deus, em um primeiro momento, para fundamentar, na conclusão, que Ele existe.
Tendo como referência os dois autores, teríamos as seguintes premissas contrárias: “Deus não existe”; “temos somente uma existência de vida”; “a alma ou o Espírito faz parte da matéria”, negando a sua existência independente; “o Universo é todo matéria”; “o espiritual é dependente da matéria”, negando a eternidade do Espírito; “cabe somente à Ciência desvendar as leis do Universo”; e “a inteligência artificial ajudará a construir uma consciência coletiva para substituir Deus como inteligência Suprema, cumprindo a função da religião”.
Dessas premissas, pode-se conduzir algumas reflexões e constatações. Começaremos pela narrativa negativa.
Pelos argumentos dos autores materialistas, Deus não existe e tem-se somente uma existência de vida e, depois dela, claro, é o fim de tudo. Logo, devo: viver intensamente em função dos bens materiais, pois os espirituais não existem; buscar, o mais rápido possível, a riqueza; desfrutar, ao máximo, dos prazeres da vida; obter poder; esquecer dos outros, pois eles podem prejudicar os meus planos, os projetos de vida e os anseios de bem viver; cultivar o orgulho e o egoísmo, porque devo pensar primeiro em mim, depois nos outros, ou não, porquanto eles devem procurar as suas próprias oportunidades; e não se pode perder tempo, pois ele passa muito rápido.
O tempo depõe contra os planos materialistas de gozar uma vida “feliz”. Não terei outra chance! Não posso, de jeito algum, desperdiçar a única oportunidade de vida; tenho que desfrutar de tudo ao máximo. Cada segundo será de suma importância. A felicidade dependerá do sucesso e do tempo. Depois de tudo isso, o nada!
Por este raciocínio, por exemplo, se nasci pobre, devo mudar a minha vida para ser rico, seria uma “reforma íntima” ao inverso. A autocrítica seria para identificar a minha situação atual e promover uma mudança para atingir os objetivos e os bens materiais que a vida pode me proporcionar. Para tanto, os fins justificam os meios.
Interessante, quantas pessoas possuem grande riquezas e não têm a paz de espírito, se entregando aos vícios, às drogas, aos sofrimentos, às depressões e morrem na profunda infelicidade. A esses infelizes não haverá outra oportunidade. Para felizes e infelizes, igualmente resta o nada!
Se “Deus não existe”, da mesma maneira, “não haverá justiça e misericórdia divinas”, tudo dependerá das tais “inteligências artificiais” das futuras máquinas, ou seja, elas se encarregarão de construir uma justiça e uma misericórdia para as pessoas, podendo até desprezar o próprio ser humano. Isso porque, se “tudo é matéria”, a “inteligência artificial” “substituirá Deus” e a “religião”. A “Palavra” e a “moral” virão da tal “inteligência artificial”.
Daí uma grande conclusão materialista: a “inteligência” é material.
A “esperança da humanidade” seria toda depositada na tal “inteligência artificial”. Viveremos em função dela, idolatrando e reverenciando-a com fé, como um perfeito ídolo. No passado, os povos reverenciavam estátuas e animais, agora serão as tais máquinas. Poderemos até orar em culto às máquinas do futuro. E o que ocorrerá quando elas derem defeitos? Ficaria para a Ciência dar a solução, como propõe o ilustre escritor.
Aí, a “inteligência artificial” controlará o Universo, apresentando soluções para todos os seus problemas, tais como: expansão, retração, transformação, atração, magnetismo, efeitos gravitacionais, choque de galáxias, buracos negros, dentre outras tantas questões.
Este será o destino da humanidade?
Como é difícil manter a fé em Deus nos dias de hoje! E os nossos filhos, como se guiarão no futuro? Eles acreditarão que a máquina suplantará o homem? Que a Ciência será a solução de tudo na vida?
Na verdade, a existência de Deus não se mostra, mas se confirma pelas suas obras, pela revelação e pelas evidências dos fatos e dos fenômenos do Universo. Assim, têm-se efeitos e causas. Não existe efeito sem causa.
Importante destacar que a inteligência e os sentidos do homem são limitados, pois não conseguem compreender tudo o que existe no Universo, em especial acerca do mundo espiritual, do invisível, do eterno e do infinito.
Nesse ponto, está a grande questão. Alguns atributos de Deus são de Ele ser inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, único, imutável, onipotente, onipresente, perfeito, imaterial, invisível, justo, misericordioso, eterno e infinito.
Não se pode representar o Criador como tendo uma forma, um limite ou uma delimitação qualquer, pois estas qualificações se contrapõem aos seus atributos divinos, indicando que haveria outro ser com os atributos supremos; e assim por diante, tendendo ao infinito.
Para orientar as reflexões, podem ser listados alguns argumentos materialistas que se opõem aos espiritualistas sobre a existência de Deus e do Espírito, colocando-se lado a lado os contrapontos de um e do outro:
Materialistas | Espiritualistas |
O Universo é todo matéria. O Espírito não existe ou depende da matéria e do corpo físico. O corpo físico e o Espírito deixam de existir com a morte do ser humano. Seria o fim de tudo. Assim, cada ser tem uma única existência na morada Terra. Negam o Espírito, porquanto não consegue vê-lo ou comprová-lo pela Ciência. | O Universo é regido pelos princípios material e espiritual. Para renascer, juntam-se corpo e Espírito, mas o que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito. Com a morte, o corpo físico se decompõe e o Espírito sobrevive em outra dimensão, no mundo espiritual. Acredita na pluralidade de existências e de mundos, pois há muitas moradas na casa do Pai. |
Deus não existe. A Ciência não consegue comprovar a sua existência, assim como outros inúmeros fenômenos do Universo, em especial os que não são verificáveis pelos seus sentidos ou por meios artificiais, e as coisas infinitas. | Deus não é um determinado ser, mas inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Não é possível ao homem ver a Deus, pois Ele é imaterial, infinito, eterno, único, imutável, onipotente, perfeito, justo e misericordioso. Não existe efeito sem causa. |
A Ciência dará solução a tudo. Aquilo que o homem descobrir, em função da Ciência, será instrumento para a sua vida na Terra. Os problemas físicos, mentais e espirituais serão solucionados pelas descobertas científicas. | A Ciência investiga e revela algumas leis de Deus, mas o homem é ser imperfeito; a inteligência e os sentidos são limitados e não compreendem e tampouco conseguem observar tudo que existe no Universo, mesmo por meios específicos. O homem é incapaz de entender as coisas infinitas e eternas. |
Religião, fé, razão e Ciência são incompatíveis, pois os argumentos apoiam-se, principalmente, nos dogmas religiosos, em que se acredita sem questionamentos, explicação ou razão. | Religião, fé, razão e Ciência são compatíveis. A verdadeira fé é a inabalável e raciocinada. Ciência e religião são duas alavancas da inteligência humana. Uma revela as leis do mundo material, e a outra as leis do mundo moral. Estas leis, tendo o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se. |
As leis dos homens são imperfeitas, temporárias, mutáveis e aplicadas em determinadas sociedades, conforme suas tradições, costumes e cultura. Importante frisar que as leis dos homens não englobam todos os valores morais selecionados pela sociedade. | As leis de Deus são eternas, infinitas, imutáveis, perfeitas e universais. Há leis materiais e leis morais. Jesus sintetizou os mandamentos das leis de Deus: amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. (Mateus 22: 36-40). O Evangelho de Jesus é o Código Moral dos cristãos, que se fundamenta nas leis de Deus. |
Alguns materialistas negam Deus, o Espírito e a Palavra de Jesus. Outros perseguem e injuriam os seguidores de Deus e de Jesus Cristo, como perseguiram profetas e cristãos na origem do cristianismo. | Haverá anticristos. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós. (Mateus 5: 11-12) |
Desse quadro, percorreremos alguns fundamentos materialistas e espiritualistas, confrontando-se as crenças na existência, ou não, de Deus e do Espírito, bem como as bases da religião, da fé, da razão, da Ciência e dos anticristos.
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