Esta reflexão é extraída do Capítulo XVIII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, cujo título é “Muitos os chamados, poucos os escolhidos”.
Durante as nossas existências, Deus está sempre nos chamando e convocando para sermos cidadãos de seu reino, batendo à nossa porta, porquanto o reino de Deus ainda não é deste mundo, mas a nossa cegueira e a surdez seletiva, aliadas ao orgulho, ao egoísmo e às escolhas infelizes decorrentes do nosso livre-arbítrio, funcionam como uma barreira para as coisas de Deus.
O Mestre Jesus ensina que dia virá em que o reino de Deus será deste mundo. Isso se dará quando os homens forem regenerados pela verdade na estrada do progresso e da fé, com a reforma íntima, a renovação, o despertar, a libertação e a salvação do Espírito.
Jesus representa a verdade que a humanidade tem condição de assimilar, implantando o reino de Deus dentro de cada um, a fim de que num futuro possa transformar a Terra em um mundo melhor e regenerado.
A tônica dos ensinos de Jesus é sobre a vida além da morte do corpo físico, a vida que nunca acaba, quer o Espírito esteja em mundos materiais, quer esteja em planos espirituais. Assim, Ele demonstra como o homem deve ser para poder viver o reino de Deus, onde o mal não tem guarida e só existe o bem.
Para isso, o homem tem de desenvolver todo o seu potencial intelectual e moral, desenvolvendo esse reino de amor e sabedoria dentro de si.
Os chamados são os que recebem o convite divino para “a festa do Senhor”, a festa de casamento para o reino dos Céus ou de união com o seu filho Jesus, guia e modelo da humanidade terrestre, como na Parábola do festim das bodas.
Neste aspecto, todos são chamados para ter acesso à felicidade, que é atributo dos que têm consciência, pelo livre-arbítrio, e trajam as vestes de núpcias do amor, da humildade, da boa vontade em encontrar a verdade para observá-la. É preciso que o Espírito seja guiado pelos preceitos do mandamento maior: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
O livre-arbítrio nos proporciona o poder das escolhas e somos responsáveis por elas, inclusive pelas consequências e pelos males que causamos aos nossos semelhantes. Não podemos simplesmente jogar a culpa nos outros ou nas circunstâncias externas, ou eximindo-nos das nossas responsabilidades.
É o homem que escolhe aceitar os ensinamentos da Palavra, a semente e o fermento da fé, e pautar a sua vida sob os princípios da orientação de Jesus.
Duas são as estradas que se apresentam aos homens: da evolução e da degradação. Também são duas as portas que se abrem: da vida e da morte.
Aqueles que caminham pela estrada da evolução, hão de, forçosamente, passar pela porta estreita que conduz à vida. A estrada da evolução é apertada, poucos são os que acertam com ela, mas grande é o número dos que não querem acertar, pois ouviram dizer que ela é apertada. A estrada da degradação é larga, muitos são os que por ela passam e dela não querem sair, por ser espaçosa e facultar-lhes uma série considerável de diversões.
Estreita é a porta da salvação, porque o homem vê-se obrigado a grandes esforços sobre si mesmo para a transpor, para vencer as más tendências, coisas que aos poucos se resignam. É complemento à máxima: muitos são os chamados e poucos os escolhidos.
Os convidados para a festa das bodas apresentam características semelhantes aos Espíritos que foram chamados para trabalhar na vinha do Senhor, em que os escolhidos serão os primeiros no reino dos Céus, pois souberam aproveitar os trabalhos edificantes ao longo de sucessivas reencarnações e não temeram as lutas e tampouco os desafios impostos pelas provações. Os últimos serão os primeiros diante da perseverança na prática do bem e por terem resistido às tentações. A perseverança eleva o moral, tempera o caráter tornando-o mais forte, ainda que submetidos a grandes dificuldades.
Atender ao chamamento, escolher a porta estreita e percorrer o caminho da salvação dependem da conduta de cada ser que deseja aproveitar este momento de vida na Terra para preparar o seu futuro espiritual. Chamados, todos já fomos, porque depende de Deus. Escolhidos, ainda somos poucos, porque depende de nós.
Nesta ocasião de transição planetária, a despeito das dores e dos sofrimentos reinantes, é momento propício para a aferição dos valores morais e de precaução, pois as ações que provocam desordens e desarmonias no mundo testam o caráter dos escolhidos.
Em alguns momentos da vida, deparamo-nos com situações, como provas, que testam a nossa capacidade de resistir, vigiar, precaver ou dominar os atrativos dos prazeres decorrentes dos nossos desejos e do gozo dos bens materiais. Como seres imperfeitos, sempre seremos tentados, porquanto as tentações são inerentes às vulnerabilidades e fraquezas da carne, principalmente quando os desejos se relacionam a bens materiais.
Contudo, as influências externas somente darão causas se cedermos por nossa vontade, cujas permissões poderão promover quedas diante da tentação. Uns cedem, outros resistem. A força que impulsiona os desejos precisa de controle e domínio para dar direção correta às nossas vidas. Logo, o resistir às tentações está em como controlamos e dominamos os nossos desejos.
Pela ação da vontade, pedindo a Deus a força necessária, podemos ter a assistência dos bons Espíritos que nos auxiliarão a resistir às tentações.
Por fim, precisamos utilizar as potências da alma para melhorarmos e evoluir, principalmente o potencial de amar e de suportar a dor em comunhão com o Pai, pois “muitos os chamados, poucos os escolhidos”.
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.