Esta reflexão apoia-se no Capítulo XXII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, cujo título é “Não separais o que Deus juntou”.
Dependendo da interpretação que se dê, poderá conduzir a entendimentos difusos e, até mesmo, a dogmas que passam a pautar as condutas de determinados fiéis.
Nos dias atuais, falar sobre “Não separeis o que Deus juntou” requer encadear bem as ideias para não se perder o foco das mensagens a serem transmitidas.
Com enfoque na Doutrina Espírita, podemos discorrer sob dois aspectos: materiais e espirituais; ou “união material” e “união espiritual”; ou “união de seres conforme as leis dos homens” e “união de seres segundo as leis de Deus”.
O que Deus juntou que não poderia ser separado pelo homem?
O Espírito Emmanuel, em “Não perturbeis”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, dá pistas ao entendimento: “A palavra divina não se refere apenas aos casos do coração. Os laços afetivos caracterizam-se por alicerces sagrados e os compromissos conjugais ou domésticos sempre atendem a superiores desígnios. O homem não ludibriará os impositivos da lei, abusando de facilidades materiais para lisonjear os sentidos. Quebrando a ordem que lhe rege os caminhos, desorganizará a própria existência. Os princípios equilibrantes da vida surgirão sempre, corrigindo e restaurando… A advertência de Jesus, porém, apresenta para nós significação mais vasta. ‘Não separeis o que Deus ajuntou’ corresponde também ao ‘não perturbeis o que Deus harmonizou’.”
Do ensino do Espírito Emmanuel, temos as uniões de seres por laços materiais e por laços espirituais, cujos entendimentos de separação são diferentes. As uniões de almas por vínculos espirituais seguem os impositivos da lei de Deus para a necessária evolução mútua a caminho da perfeição. Os princípios equilibrantes da vida sempre existirão para corrigir e restaurar a ordem que regem os caminhos dos seres unidos por laços espirituais.
Entre as leis divinas, temos as leis morais que dizem respeito ao homem considerado em si mesmo e nas suas relações com Deus e com seus semelhantes, contendo as regras da vida do corpo, bem como as da vida da alma. As leis morais estão relacionadas à lei de amor, à lei de causa e efeito, à lei de progresso e não a interesses materiais.
Os efeitos da lei de amor são o melhoramento moral da raça humana e a felicidade durante a vida terrestre. O amor que se constrói a partir das relações afetivas é gerado por experiências de vidas para que as almas lapidem seus egoísmos, orgulhos, vaidades, impulsos instintivos, apegos e tantas outras mazelas que precisam ser transformadas em consciência e amor maior em direção à família cósmica. A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres, extinguindo as misérias sociais.
Pela lei de causa e efeito, se a causa não se estiver nesta vida deve achar-se antes desta, porque em todas as coisas a causa deve preceder ao efeito. Nada é por acaso. Os aflitos e angustiados, de hoje, surgem no cenário reencarnatório como antigos infratores da lei de Deus. Equivocados em experiências passadas, renascem oprimidos e sedentos da justiça divina a fim de que possam reajustar sua caminhada evolutiva.
A reencarnação proporciona ao Espírito devedor condições de refazimento do seu destino, sobretudo se há empenho em melhorar. O fogo depurador das reencarnações reparadoras, determinado pela lei de causa e efeito, lhes reajustarão a marcha evolutiva.
Isto porque o progresso moral pode assegurar aos homens a felicidade na Terra, refreando as más paixões e somente esse progresso pode fazer que entre os homens reinem a concórdia, a paz e a fraternidade. O progresso dos seres se desenvolve ao longo das reencarnações sucessivas e durante estadas no plano espiritual.
Muitas vezes, na condição de cônjuges, pais, filhos, ou parentes, não passamos de devedores em resgate de antigos compromissos. Se não houver o regate nesta existência, teremos que saldar a dívida em outra encarnação. Quer dizer: enquanto eu não resgatar a minha dívida perante o meu semelhante, esta permanecerá.
As leis dos homens estabelecem regras e normas que representam um mínimo de moral declarado obrigatório para se viver em uma sociedade delimitada pelas fronteiras de determinado país, que devem ser assumidas pelas pessoas como uma forma de garantir os seus bem-viver. Essas leis são imperfeitas, temporárias e sujeitas às modificações.
Assim, as leis dos homens têm base territorial, cultural e segundo os costumes, valendo apenas para uma área geográfica onde determinada população vive.
A lei civil e os compromissos que ela faz não podem suprir a lei do amor, sustentando uma união que nunca ocorreu. Daí as uniões infelizes. A separação de seres por laços materiais é lei humana, que dissolve legalmente o que, de fato, já estava separado. Não é contrário à lei de Deus, pois que apenas reforma o que os homens hão feito e só é aplicável nos casos em que não se levou em conta a lei divina. Esta separação há objetivado unicamente interesses materiais e não a satisfação da lei de amor.
As condições que regulam essa união e separação são de tal modo humanas que não há no mundo inteiro dois países onde elas sejam absolutamente idênticas, e nenhum onde não haja sofrido mudanças.
O conceito de família está associado a grupo de pessoas que juntas formam a estrutura familiar, exercendo cada membro papel diferente, com deveres e responsabilidades entre cônjuges, pais, filhos e parentes. Apesar de o modelo familiar ter sofrido transformações, principalmente por diferenças culturais, a sua essência representa a base de uma sociedade, contribuindo para a evolução de seus membros como um todo.
Na família, aprendemos os valores que levaremos para a nossa vida. Por este motivo, é importante ressaltar a família não apenas como grupo social, mas também como o núcleo que deve ter por base o amor e a união, ambiente que nos oferece oportunidades de aprendizado e evolução.
Sabe-se que o casal, no ambiente familiar, defronta-se com inúmeras situações do cotidiano, provocando momentos agradáveis e de conflitos, que faz emergir incontáveis sentimentos, bons e ruins, dos seres que escolheram, pelo livre arbítrio, viver juntos.
Arraigada em vidas passadas, a família é formada de agentes diversos, que se reencontram, comumente, afetos e desafetos, amigos e inimigos, para os ajustes e reajustes indispensáveis ante as leis do destino.
Os laços de sangue não estabelecem necessariamente vínculos entre os Espíritos. Os Espíritos que encarnam numa mesma família são, na maioria das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por relações anteriores, que se traduzem por uma afeição recíproca na vida terrena. Ou pode acontecer que sejam completamente estranhos uns aos outros, divididos por antipatias igualmente anteriores, que se expressam na Terra por um mútuo antagonismo, a fim de lhes servir de provação.
A proposta de evolução não é gerar apego ou desapego entre os seres, mas promover e ampliar a família humana e cósmica, no sentido de amor universal. O verdadeiro e mais puro amor é o fraterno, e, quando ele se expande, alcança o estágio de amor fraterno-universal. Por conseguinte, sobressai a família como o núcleo irradiador de amor e união, pela convivência de seus membros, em que juntos devem buscar patamares mais elevados.
Imutável só há o que vem de Deus. Quis Deus que os seres se unissem não só pelos laços da carne, mas também pelos da alma.
Percorridos os caminhos dos esclarecimentos, podemos constatar que a união de pessoas, segundo as leis dos homens, é de acordo com os costumes, as culturas e as tradições dos distintos povos.
As uniões de seres por laços espirituais são conforme as leis de Deus. Não se deve esquecer que essa união atende a necessidades evolutivas mútuas ou de moratórias para o devido resgate.
A união na Terra é sempre resultante de determinadas resoluções no planejamento reencarnatório tomadas no plano Espiritual antes da reencarnação dos Espíritos. Arrastamos, do passado ao presente, os débitos que as circunstâncias nos constrangem a revisar hoje. Se eu não resgatar este débito, ficará para outra existência.
Os alicerces da união consolidam-se na esfera terrestre e prolongam-se nos planos Espirituais, por ensinarem que as ligações humanas respeitáveis objetivam redimir almas.
Quis Deus que os seres se unissem não só pelos laços da carne, mas também pelos da alma. Quando há a união de seres por laços espirituais, estes formam uma família fraterna universal para a evolução de todos.
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA.
DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
Maravilhosa lição.
Muito obrigado pelo seu comentário. Gratidão. Juan Carlos
Ótimas explicações, obrigado, usarei em minhas preleções e aulas.
Muito obrigado pelo seu comentário. Juan Carlos