A Parábola das dez virgens faz parte do sermão profético de anunciação dos tempos de passagem do mundo de provas e expiações para um mundo regenerado, trazendo ensinamentos às nossas vidas, em que devemos nos esforçar por manter a iluminação interior no trabalho edificante na prática do bem, cuja recompensa será a conquista do reino de Deus com acesso à festa de união dos seres humanos com o Criador. Aqueles, que não se prepararem para estes tempos, perderão o início das bodas, quando se fecharem as portas de um momento para outro, pois “Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai” (Mateus, 24: 36).
Do Evangelho de Mateus:
“O Reino de Deus será comparado a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. Cinco dentre elas eram néscias e cinco prudentes. As néscias, tomando as suas lâmpadas não levaram azeite consigo; mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, juntamente com as lâmpadas. Tardando o noivo, toscanejaram todas e adormeceram. Mas à meia noite ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí a seu encontro! Então se levantaram todas aquelas virgens e prepararam suas lâmpadas. E disseram as néscias às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão se apagando! Porém as prudentes responderam: Talvez não haja bastante para nós e para vós. Ide antes aos que o vendem e comprai-o para vós. Enquanto foram comprá-lo, veio o noivo; e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas e fechou-se a porta. Depois vieram as outras virgens e disseram: Senhor, Senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço. ‘Portanto, vigiai, porque não sabeis nem o dia, nem a hora’.” (Mateus, 25: 1-13)
Para falar da conquista do reino de Deus, Jesus faz uma analogia com o ritual do casamento judaico da época, em que o pai do noivo escolhia o momento exato para iniciar a cerimônia. Pela tradição, a noiva aguardava o noivo cercada por dez amigas virgens carregando as suas candeias para iluminar o cortejo que se formava, culminando em uma festa de sete dias.
As bodas, como em outras passagens Evangélicas, representam a união dos seres humanos com o Criador. Haroldo Dutra, em uma palestra na Comunhão Espírita de Brasília, disse: “À medida em que a pessoa inicia a sua comunhão com a espiritualidade, ela entra num clima de intimidade com Deus, a mesma que existe entre um casal. (…) Além da intimidade, o casamento significa fidelidade, cujo verdadeiro sentido é ter fé. (…) Acreditar em Deus é o jardim da infância da fé. (…) O mais difícil é ser fiel aos desígnios de Deus mesmo quando a vontade divina contraria nossos desejos”. Assim, a cerimônia de casamento representa o processo gradativo de auto iluminação do ser humano.
Segundo interpretações da literatura Espírita, na Parábola, Jesus é o noivo, o pai do noivo é Deus e a noiva é o planeta Terra.
A chegada do noivo simboliza o momento de paz, alegria e felicidade que a Terra desfrutará no futuro próximo, quando da passagem do mundo de provas e expiações para mundo regenerado. Nesse sentido, Haroldo Dutra, naquela palestra, esclarece: “Ainda estamos na fase do noivado, aguardando a chegada do noivo”.
As dez virgens são divididas em: prudentes, precavidas, sensatas, sábias ou cautelosas; e néscias, irresponsáveis, insensatas ou ignorantes.
No que diz respeito às virgens prudentes, destaca-se o comentário de William Jacob, no livro “Parábolas de Jesus à Luz da Doutrina Espírita”, que disse: “Vale ressaltar que todas as virgens já sabiam que a probabilidade de o noivo chegar à noite era enorme; portanto, o bom senso e a prudência recomendavam levar o óleo para acender a candeia quando ele se aproximasse”; por conseguinte, as virgens prudentes fizeram o correto, pois se prepararam para a chegada do noivo, esforçando-se por manter a iluminação da candeia, levando azeite a mais em suas vasilhas.
As candeias das virgens significam a nossa iluminação interior de transformação pelo casamento com Deus. Nesse sentido, Haroldo Dutra disse: “As virgens precisavam manter a luz das candeias acesas porque o ambiente externo era de trevas, a exemplo da vida interior de muitas pessoas, que convivem com provações e tormentos. (…) Nossa existência é uma candeia viva. Portanto, gasta o óleo da tua boa vontade para auxiliar o próximo sem medo de se consumir. Só temos uma certeza: o Pai criador cumpre todas as suas promessas”.
Já o azeite ou o óleo simboliza o combustível da candeia para iluminar o coração, a lâmpada sagrada da fé pela aquisição dos conhecimentos que fazem evoluir.
A recompensa pelo esforço empreendido em manter a chama das candeias acesa, no caso das virgens prudentes, foi o acesso delas às bodas e ao noivo. Logo, a conquista do reino de Deus requer de cada um de nós esforço e trabalho edificante na prática do bem. Sem estudo, esforço, trabalho e conhecimentos que aumentem a fé, estamos sujeitos a verem apagadas as nossas candeias, perdendo o início das bodas, quando se fecharem as portas de um momento para outro.
A recusa das virgens prudentes em ceder o azeite de que dispunham significa que ninguém consegue transferir as suas virtudes e nem os seus conhecimentos para o outro, pois os progressos moral e espiritual são individuais, ninguém evolui para o outro, ou seja, não podemos passar pelas provas que cabe ao outro atravessar. Cada um deve se esforçar para adquirir aquilo que quer para si.
Outro aspecto a ressaltar é quanto à data e à hora da chegada do noivo, porque não é possível determinar quando a Terra subirá o degrau evolutivo, como expresso na Parábola da figueira: “Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai” (Mateus, 24: 36), por isso importante o alerta da Parábola: “Portanto, vigiai, porque não sabeis nem o dia, nem a hora”.
Cairbar Schutel, no livro “Parábolas e ensino de Jesus”, esclarece que a fé sem conhecimento pode ser comparada a uma candeia mal provida que à meia noite não dá mais luz. A prudência manda o homem ser precavido, abastecendo a sua candeia com o combustível que se converte em luz para lhe iluminar os passos, o caminho, a estrada por onde tem de seguir, afastando as trevas da noite.
Para Cairbar Schutel, as virgens representam todos os que se conservam isentos da corrupção do mundo, mas não é o bastante resguardar-se da corrupção para se aproximar de Jesus. Sem a candeia bem abastecida de combustível, não se pode ir ao encontro do noivo e entrar com ele nas bodas.
Não basta a virgindade espiritual para a entrada do ser humano no reino de Deus. É preciso que a mesma seja ligada à plenitude do conhecimento dado por Jesus Cristo.
As virgens néscias, por falta de azeite, não encontraram e tampouco puderam receber o noivo, assim como não tomaram parte nas bodas, porque suas lâmpadas se apagaram à chegada do noivo. As virgens prudentes, ao contrário, acompanharam o noivo e com ele entraram nas bodas, porque tinham as suas lâmpadas bem acesas.
Aos que aspiram à conquista do reino de Deus, há que evoluir pela preparação, pelos estudos, pela instrução e pelo exercício da inteligência e da razão para obterem o conhecimento supremo que nos conduzirá à eterna felicidade.
Cairbar Schutel acrescenta que é preciso vigiar, procurar a verdade onde quer que se encontre. É preciso adquirir os conhecimentos, as luzes internas que nos fazem ver o Senhor e nos permitem ingressar em sua morada.
Por isso, orai e vigiai, pois “quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai” (Mateus, 24: 36).
Autor: Juan Carlos Orozco
Revisora: Deise Barbosa
Bibliografia:
AUTORES DIVERSOS. Parábolas de Jesus à Luz da Doutrina Espírita. 2ª Edição. Juiz de Fora/MG: Fergus Editora, 2019.
BÍBLIA SAGRADA.
CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas Evangélicas à Luz Espiritismo. 11ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
O MENSAGEIRO. Editado por: Ana Cristina Sampaio Alves. Haroldo Dutra interpreta a parábola das 10 virgens: o processo de fidelização com Deus. http://mensageiro.comunhaoespirita.org.br/?p=7222. Publicado em 11/11. Acesso em 12 de fevereiro de 2020.
SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.