As finalidades das comunicações mediúnicas têm: fim providencial; convencer que tudo não se acaba com a vida terrestre; passar ideias mais justas sobre o futuro; instruir para o nosso melhoramento e avanço; utilidade para as consequências morais que delas dimanam; conhecer a lei da Natureza; demonstrar a existência da alma e a sua imortalidade; e não se destinam a servir aos interesses materiais.
A comunicação com Espíritos é consolação, pois proporciona-nos conversar com parentes e amigos que partiram antes de nós. Pela evocação, aproximam-se de nós, colocam-se ao lado, ouvindo e respondendo, cessando a separação existente. Auxiliam-nos com conselhos, testemunham o afeto que nos guardam e a alegria que experimentam por lembrarmos deles. Traz alegria em saber-lhes ditosos, informar os pormenores da nova existência e a certeza de que um dia iremos nos juntar a eles.
As comunicações mediúnicas mostram também o estado futuro da alma em realidade. Põem-nos diante das circunstâncias da vida futura, ao mesmo tempo, em que as mostram como consequências da vida terrestre e do mau uso das nossas faculdades.
A dúvida sobre a possibilidade das comunicações mediúnicas é a ideia falsa do estado da alma depois da morte. Pensam ser ela um sopro, uma fumaça, uma coisa vaga, apenas apreensível ao pensamento. Se a considerar ainda unida a um corpo fluídico, formando com ele um ser concreto e individual, as suas relações com os encarnados nada têm de incompatível com a razão.
Mecanismos das comunicações mediúnicas
O papel exercido pelo perispírito
O perispírito nas comunicações mediúnicas desempenha papel fundamental por ser responsável pela transmissão das sensações. O Espírito, ser sensível e inteligente, recebe a impressão das sensações exteriores pelo perispírito. No ato de iniciativa do Espírito, o perispírito transmite e o corpo executa.
O perispírito do médium capta os fluidos do Espírito comunicante, provocando sensações, boas ou más, conforme o grau evolutivo do Espírito. Estas sensações e percepções variam, em tipos e graus, porque depende da organização perispiritual e da maior ou menor facilidade com que se pode operar a combinação dos fluidos. Influi também a maior ou menor simpatia do médium para com os Espíritos que encontram nele a força fluídica necessária.
Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este reage sobre o organismo material com que se acha em contacto molecular. Se os eflúvios são de boa natureza, o corpo ressente uma impressão salutar; se são maus, a impressão é penosa.
O papel exercido pela mente
O médium é intérprete do pensamento e da vontade dos Espíritos que se comunicam por seu intermédio. Usa a mente para conhecer as intenções e as ideias do Espírito comunicante.
Há que se considerar o mundo mental do agente e do recipiente.
A inteligência receptiva sujeita-se às possibilidades e à coloração dos pensamentos em que vive. A inteligência emissora submete-se aos limites e às interpretações dos pensamentos que é capaz de produzir.
Está a mente na base das manifestações mediúnicas. A mente é como um espelho, refletindo as imagens que nos cercam e arremessando aos outros as imagens que criamos. Como imãs, atrairemos a claridade e a beleza, se instalarmos a beleza e a claridade no espelho de nossa vida íntima.
Conjugando a ação do perispírito e da mente podemos perceber os fluidos ambientais e dos Espíritos que nos cercam, entrando em sintonia com eles, captando-lhes as intenções, sentimentos, vontade e ideias. Este é o mecanismo básico das comunicações mediúnicas.
Sintonia mediúnica
A sintonia faz-se pela ligação da mente do Espírito comunicante à mente do médium.
Na comunicação mediúnica, forma-se um circuito mental de “vontade-apelo” e “vontade-resposta”, definindo o comando da entidade comunicante e a concordância do médium.
Exprime uma conjugação natural ou provocada nos domínios da inteligência, totalizando os serviços de associação, assimilação, transformação e transmissão da energia mental.
Emissor e receptor guardam possibilidades particulares nos recursos do cérebro, processando circuitos elementares do campo nervoso, atendendo a trabalhos espontâneos do Espírito (ideação, seleção, autocrítica e expressão).
Durante o intercâmbio mediúnico, o médium está, mais ou menos acentuado, num estado de transe. A sintonia mediúnica é apenas uma das etapas do transe, obtida por meio da concentração e utilizando duas importantes ferramentas: o pensamento e a vontade.
A influência moral do médium
A influência moral do médium nas manifestações dos Espíritos é uma séria dificuldade encontrada na prática mediúnica.
Os médiuns viciosos, que não se esforçam para combater as imperfeições, sobretudo o orgulho e a vaidade, são alvo do ataque de Espíritos imperfeitos, muito inescrupulosos, capazes de apropriar-se do nome de Entidades veneráveis. Todas as imperfeições morais são outras tantas portas abertas ao acesso dos maus Espíritos, que exploram com habilidade o orgulho.
Natureza das comunicações mediúnicas
As comunicações dos Espíritos podem ser boas ou más, justas ou falsas, profundas ou frívolas, conforme a natureza dos que se manifestam.
Os que dão provas de sabedoria e erudição são Espíritos adiantados no caminho do progresso. Os que se mostram ignorantes e maus são ainda atrasados, mas que com o tempo hão de progredir.
Os Espíritos só podem responder sobre aquilo que sabem, segundo o seu estado de adiantamento e dentro dos limites do que lhes é permitido dizer, porque há coisas que eles não devem revelar, por não ser ainda dado ao homem tudo conhecer.
As manifestações mediúnicas refletem a elevação ou a baixeza de ideias, saber e ignorância deles, seus vícios e suas virtudes.
Da diversidade de qualidades e aptidões dos Espíritos, resulta que não basta dirigirmo-nos a um Espírito qualquer para obtermos uma reposta segura a qualquer questão; porque, acerca de muitas coisas, ele não nos pode dar mais que sua opinião pessoal, a qual pode ser justa ou errônea.
Se ele é prudente, não deixará de confessar a sua ignorância sobre o que não conhece; se é frívolo ou mentiroso, responderá de qualquer forma, sem se importar com a verdade; se é orgulhoso, apresentará suas ideias como verdades absolutas.
Do apóstolo João: “não creias em todos os Espíritos, mas examinai se eles são de Deus”. (Primeira Epístola de João: 4:1)
Há imprudência e leviandade em aceitar sem exame tudo o que vem dos Espíritos. É preciso conhecer o caráter dos que estão em relação conosco. Reconhece-se a qualidade dos Espíritos por sua linguagem.
Os Espíritos verdadeiramente bons e superiores é sempre digna, nobre, lógica e isenta de contradições; nela se respira a sabedoria, a benevolência, a modéstia e a mais pura moral; ela é concisa e despida de redundâncias.
Nos Espíritos inferiores, ignorantes ou orgulhosos, o vácuo de ideias é quase sempre preenchido pela abundância de palavras.
Todo pensamento evidentemente falso, toda a máxima contrária à sã moral, todo conselho ridículo, toda expressão grosseira, trivial ou simplesmente frívola, enfim, toda manifestação de malevolência, de presunção ou arrogância, são sinais incontestáveis da inferioridade dos Espíritos.
Em quatro categorias principais se podem grupar os matizes que as comunicações dos Espíritos apresentam. Segundo seus caracteres mais acentuados, elas se dividem em: grosseiras, frívolas, sérias e instrutivas.
Comunicações mediúnicas grosseiras
Provem de Espíritos inferiores, impuros, viciosos e grosseiros. São Espíritos ignorantes de moral limitada, têm ideia das coisas muitas vezes falsa e incompleta e são incapazes de resolver certas questões.
Podem induzir-nos em erro, voluntária ou involuntariamente, sobre aquilo que nem eles mesmos compreendem.
A linguagem dos Espíritos está sempre relacionada ao grau de elevação a que tenham chegado. Os Espíritos inferiores sempre refletem as paixões humanas.
Se o Espírito se apresenta com um nome respeitável e venerado, atentar para a linguagem, que pode denotar baixeza, pretensão, arrogância, fanfarronice, acrimônia, pois é indício característico de inferioridade e embuste.
Comunicações mediúnicas frívolas
Emanam de Espíritos levianos, zombeteiros ou brincalhões, antes maliciosos do que maus, sem importância no que dizem.
Sem ser indecorosas, as comunicações agradam a certas pessoas que com elas se divertem, por encontrar prazer nas confabulações fúteis, em que muito se fala para nada dizer.
Os Espíritos levianos intrometem-se nas comunicações. Mistificam os que têm a fraqueza e neles creem. Dos que sintonizam com eles, deles se afastam os Espíritos sérios.
A frivolidade das reuniões mediúnicas dá como resultado atrair os Espíritos levianos que só procuram ocasião de enganar e mistificar. Não há utilidade as experiências curiosas, frívolas e divertidas.
As reuniões dessa natureza fazem sempre mais mal que bem, porque afasta da Doutrina maior número de pessoas do que atraem; além de que, prestam-se à crítica dos detratores, que assim acham fundados motivos para zombarias.
Comunicações mediúnicas sérias
São ponderosas quanto ao assunto e elevadas quanto à forma. Toda comunicação séria objetiva um fim útil.
Entretanto, nem todos Espíritos sérios são igualmente esclarecidos. Há muita coisa que eles ignoram e podem enganar-se de boa-fé.
Espíritos superiores recomendam submeter as comunicações ao crivo da razão e da mais rigorosa lógica.
Nas comunicações sérias, cumpre distinguir as verdadeiras das falsas, o que nem sempre é fácil, porquanto à sombra da elevação da linguagem é que certos Espíritos presunçosos, ou pseudo-sábios, procuram conseguir a prevalência das mais falsas ideias e dos mais absurdos sistemas.
Para dar maior credibilidade do que fazem, sem escrúpulos, utilizam nomes de respeitáveis e venerados Espíritos.
Espíritos superiores não vão às reuniões fúteis. Se acaso eles aí se mostram algumas vezes, é somente com o fim de dar um conselho salutar, combater vícios, reconduzir ao bom caminho os que dele se iam afastando. Se não forem atendidos, retiram-se.
Engana-se quem crê que Espíritos sérios se prestem a responder futilidades e questões ociosas, em que se lhes manifestem pouca afeição, falta de respeito e nenhum desejo de se instruir.
Comunicações mediúnicas instrutivas
São comunicações sérias com objetivo de ensinamento dado pelos Espíritos sobre as ciências, a moral, a filosofia, etc. São mais ou menos profundas, conforme o grau de elevação e de desmaterialização do Espírito. Para obter frutos reais dessas comunicações, preciso que elas sejam regulares e continuadas com perseverança.
Os Espíritos sérios se ligam aos que desejam instruir-se e lhes secundam os esforços.
Pela regularidade e frequência das comunicações, pode-se apreciar o valor moral e intelectual dos Espíritos que as dão e a confiança que eles merecem.
Allan Kardec enfatiza que a primeira qualidade das reuniões é que elas sejam sérias. Todos os Espíritos cujas manifestações se desejam são de natureza especialíssima. Logo, não se pode aliar o sublime ao trivial, nem o bem ao mal. Quem quiser obter boas coisas precisa dirigir-se a bons Espíritos. Não basta que se evoquem bons Espíritos, é preciso que os assistentes estejam em condições propícias para que eles assintam em vir.
Nas reuniões levianas e superficiais, os Espíritos superiores não virão.
Uma reunião só é verdadeiramente séria, quando cogita de coisas úteis, com exclusão de todas as demais.
Qualificando de instrutivas as comunicações, supõem-se verdadeiras, pois o que não for verdadeiro não pode ser instrutivo, ainda que dito na mais imponente linguagem.
Não se pode incluir certos ensinos que de sério apenas têm a forma, muitas vezes empolada e enfática, com que os Espíritos que os ditam, mais presunçosos do que instruídos e iludem os que os recebem. Não podendo suprir a substância que lhes falta, são incapazes de sustentar por muito tempo o papel que procuram desempenhar. Traem-se por sua fraqueza pela sequência que tenham os seus ditados, ou que sejam levados aos seus últimos redutos.
Evocações e comunicações espontâneas dos espíritos
Os Espíritos podem comunicar-se espontaneamente, ou acudir ao nosso chamado, isto é, vir por evocação.
Pensam alguns que se deve abster de evocar tal Espírito e ser preferível que se espere que ele queira comunicar-se. Fundamentam-se que, ao evocar determinado Espírito, não se pode ter a certeza de ser ele quem se apresente, ao passo que se vem espontaneamente, de sua vontade, melhor prova a sua identidade, pois que manifesta o desejo de entreter-se conosco. Isso é um erro porque: há em torno de nós Espíritos inferiores que querem comunicar-se; e se não chamar a nenhum em particular é abrir a porta a todos os que queiram entrar. Numa reunião, não dar a palavra a ninguém é deixá-la livre a toda gente e sabe-se o que daí resulta.
A chamada direta de determinado Espírito constitui um laço entre ele e nós. Chamando-o pelo nosso desejo, opomos uma espécie de barreira aos intrusos. Sem uma chamada direta, um Espírito nenhum motivo terá muitas vezes para vir confabular conosco, a menos que seja o nosso Espírito familiar.
As comunicações espontâneas não apresentam inconvenientes, quando se está senhor dos Espíritos e certo de não deixar que os maus tomem a dianteira. Então, é bom aguardar a boa vontade dos que se disponham a comunicar-se, porque nenhum constrangimento sofre o pensamento deles e dessa maneira podem-se obter coisas admiráveis.
Entretanto, pode suceder que o Espírito por quem se chama não esteja disposto a falar, ou não seja capaz de fazê-lo no sentido desejado. Sabemos que o desejo natural de todo aspirante a médium é o de poder confabular com os Espíritos das pessoas que lhe são caras; deve, porém, moderar a sua impaciência, porquanto a comunicação com determinado Espírito apresenta muitas vezes dificuldades materiais que a tornam impossível ao principiante.
Para que um Espírito possa comunicar-se, preciso é que haja entre ele e o médium relações fluídicas, que nem sempre se estabelecem instantaneamente. Somente à medida que a faculdade se desenvolve, é que o médium adquire pouco a pouco a aptidão necessária para pôr-se em comunicação com o Espírito que se apresente.
Pode dar-se que aquele com quem o médium deseje comunicar-se não esteja em condições propícias a fazê-lo, embora se ache presente, como também pode acontecer que não tenha possibilidade, nem permissão para acudir ao chamado dirigido.
Convém que, no começo, ninguém se obstine em chamar determinado Espírito, com exclusão de qualquer outro, pois sucede não ser com esse que as relações fluídicas se estabelecem mais facilmente, por maior que seja a simpatia que lhe vote o encarnado.
Antes de pensar em obter comunicações de tal Espírito, importa que o aspirante leve a efeito o desenvolvimento da sua faculdade, para o que deve fazer um apelo geral e dirigir-se principalmente ao seu anjo guardião.
Manifestações dos Espíritos nos grupos mediúnicos
Nas reuniões mediúnicas das casas espíritas, os Espíritos se manifestam de forma espontânea, segundo planejamento estipulado pela direção espiritual do grupo mediúnico. No entanto, é comum evocar a assistência dos benfeitores espirituais, os quais revelam a sua presença por meio de mensagens consoladoras e esclarecedoras.
Deixar a manifestação dos Espíritos comunicantes a critério da direção espiritual indica comportamento prudente, evitando a ocorrência de alguns inconvenientes, tais como: o Espírito não pode ou não deve se manifestar; estimular, direta ou indiretamente, a provocação de fenômeno mediúnico, sem maior finalidade.
Emmanuel esclarece que nas reuniões doutrinárias mediúnicas devem prevalecer a sinceridade e aplicação individuais, no estudo das leis morais que regem o intercâmbio entre o planeta e as esferas do invisível. De modo algum se deverá provocar as manifestações mediúnicas, cuja legitimidade está na espontaneidade, mesmo porque o programa espiritual das sessões está com os mentores que as orientam do plano invisível, exigindo-se de cada estudioso a mais elevada porcentagem de esforço próprio na aquisição de conhecimento, porquanto o plano espiritual distribuirá sempre, de acordo com as necessidades e os méritos de cada um. Forçar o fenômeno mediúnico é tisnar uma fonte de água pura com a vasa das paixões egoísticas da Terra, ou com as suas injustificáveis inquietações.
Emmanuel não aconselha a evocação direta e pessoal de Espíritos nas reuniões mediúnicas, justificando:
“Se essa evocação é passível de êxito, sua exequibilidade somente pode ser examinada no plano espiritual. Daí a necessidade de sermos espontâneos, por quanto, no complexo dos fenômenos espiríticos, a solução de muitas incógnitas espera o avanço moral dos aprendizes sinceros da Doutrina. O estudioso bem intencionado, portanto, deve pedir sem exigir, orar sem reclamar, observar sem pressa, considerando que a esfera espiritual lhe conhece os méritos e retribuirá os seus esforços de acordo com a necessidade de sua posição evolutiva e segundo o merecimento do seu coração. Podereis objetar que Allan Kardec se interessou pela evocação direta, procedendo a realizações dessa natureza, mas precisamos ponderar, no seu esforço, a tarefa excepcional do Codificador, aliada a necessidades e méritos ainda distantes da esfera de atividade dos aprendizes comuns”.
Bibliografia:
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Médiuns. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Mediunidade: estudo e prática. Programa I. 2ª Edição. Brasília/DF, Federação Espírita Brasileira, 2018.
ROCHA, Cecília (Organizadora). Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita: programa complementar. Tomo Único. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.