“E outro de seus discípulos lhe disse: Senhor, permite-me que primeiramente vá sepultar meu pai. Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus mortos”. (Mateus, 8: 21-22; Lucas, 9: 59-60)
O estudo e a interpretação do Evangelho deve considerar o seu sentido espiritual. É preciso separar a exposição puramente literal, de entendimento relativo e controvertido, do sentido espiritual, que oferece conclusões lógicas à nossa indagação. Se apegados à letra, seremos conduzidos a conclusões equivocadas e contrárias aos ensinamentos de Jesus.
O correto entendimento é a base para a compreensão das lições evangélicas, tais como: contextualizar o conteúdo da mensagem, quanto aos aspectos e fatos históricos e geográficos; identificar as circunstâncias da ocorrência do fato; entender as atribuições relativas a cargos e ocupações; e identificar o verdadeiro sentido da mensagem pela interpretação de palavras e expressões utilizadas no texto.
É de causar estranheza ao entendimento, pela razão e pelo senso natural de caridade, a ideia de não darmos a bênção na sepultura ao corpo de alguém que morreu. Entretanto, Jesus orienta: “deixa os mortos sepultar os seus mortos”. Obviamente, cadáver não pode enterrar cadáver. Logo, não é este o sentido da orientação de Jesus. As considerações precedentes mostram que, nas circunstâncias em que foram proferidas, não podiam conter censura àquele que considerava um dever de piedade filial ir sepultar seu pai.
O Mestre se refere aos “mortos de Espírito’’ que ainda não se despertaram para o trabalho de conscientização espiritual. “Os mortos que sepultam mortos” são Espíritos prisioneiros das ilusões da matéria, que trazem a consciência adormecida.
Em “Acorda e ajuda”, Emmanuel esclarece: “Jesus não recomendou ao aprendiz deixasse ‘aos cadáveres o cuidado de enterrar os cadáveres’, e sim conferisse ‘aos mortos o cuidado de enterrar os seus mortos’. Há, em verdade, grande diferença. O cadáver é carne sem vida, enquanto um morto é alguém que se ausenta da vida. Há muita gente que perambula nas sombras da morte sem morrer”.
Continuando, Emmanuel aconselha: “Aprende a participar da luta coletiva. Sai, cada dia, de ti mesmo, e busca sentir a dor do vizinho, a necessidade do próximo, as angústias de teu irmão e ajuda quanto possas. Não te galvanizes na esfera do próprio ‘eu’. Desperta e vive com todos, por todos e para todos, porque ninguém respira tão somente para si. (…) Cedamos algo de nós mesmos, em favor dos outros, pelo muito que os outros fazem por nós. Recordemos, desse modo, o ensinamento do Cristo. Se encontrares algum cadáver, dá-lhe a bênção da sepultura, na relação das tuas obras de caridade, mas, tratando-se da jornada espiritual, deixa sempre ‘aos mortos o cuidado de enterrar os seus mortos’.”
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA.
EMMANUEL (Espírito); Saulo Cesar Ribeiro da Silva (Coordenador). O Evangelho por Emmanuel: comentários ao Evangelho segundo Mateus. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira (organizadora). Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte I. Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.
Meio complicada essa explicação. Bastava Jesus dizer para ele enterrar o morto, visto que cadáveres não podem ficar nas ruas. Depois lhe diria que, na parte espiritual seria diferente. Acredito que dever haver algum engano na tradução. Afinal, a bíblia foi escrita pelos homens.
Perfeito seu texto, quantos de nós não dizemos, você conhece o fulano sim conheço é um morto vivo, é esse morto vivo que Jesus se refere, depois de 2000 mil anos, se Jesus aparecesse pra nós agora, quantos de nós trocaria os nosso mortos por Jesus.?
Prezado Davi de Barros, boa noite! Muito obrigado pelo seu comentário. Verdade, algumas pessoas são mortas-vivas. Um fraterno abraço. Juan Carlos