Em quantas situações da vida falamos algo a alguém que, depois do dito, sem ter como recolher ou apagar as palavras proferidas, percebemos ser causadores de alguns transtornos indesejáveis ao nosso ente querido ou semelhante. Não raro, após o ocorrido, bate o arrependimento e vem aquele pensamento: deveríamos ter ficado calado.
Dependendo das circunstâncias e da carga emocional, tanto a fala como o silêncio podem acalmar, trazer reflexão e paz, amparar, auxiliar, consolar, como também podem ofender, machucar, causar ressentimentos e perturbações, dentre outros sentimentos.
O silêncio ainda pode significar omissão, desinteresse, indiferença, desistência de algo ou alguém. Em outros momentos, o silêncio demonstra sofrimento, dor, tristeza, solidão, vazio, ou, ainda, desapego e libertação de algo que já não faz mais sentido.
Mas, para certas ocasiões, o silêncio apresenta-se com a melhor resposta.
Então, quando falar ou silenciar?
Jesus disse: “Não é o que entra na boca que macula o homem; o que sai da boca do homem é que o macula. (…) O que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem; porquanto do coração é que partem os maus pensamentos, os assassínios, os adultérios, as fornicações, os latrocínios, os falsos-testemunhos, as blasfêmias e as maledicências. Essas são as coisas que tornam impuro o homem…” (Mateus, 15: 11 e 18-20).
No Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita, Livro II, Módulo II, Roteiro 7: Instruções aos Discípulos, ao interpretar a passagem evangélica de Mateus, Capítulo 10, versículos de 5 a 14, em que Jesus orientava os discípulos na busca das ovelhas perdidas da casa de Israel, indo e pregar, temos o comentário: “É de bom alvitre que, ao entrar na casa material ou na mental de alguém, tenhamos ‘olhos de ver’ e ‘ouvidos de ouvir’. É preciso enxergar o que é bom e ouvir o que é útil. Adotar a discrição ou silêncio ante as vibrações inferiores, porventura ali reinantes, é atestar sabedoria”.
O Espírito Emmanuel, em “Palavras da vida eterna”, no Capítulo 59, do livro “Fonte viva”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, ensina:
“Palavras faladas… palavras escritas…
Dentre as expressões verbalistas articuladas ou silenciosas, junto das quais a tua mente se desenvolve, encontrarás, porém, as palavras da vida eterna.
Guarda teu coração à escuta. (…)
‘Palavras, palavras, palavras…’
Esquece aquelas que te incitam à inutilidade, aproveita quantas te mostram as obrigações justas e te ensinam a engrandecer a existência, mas não olvides as frases que te acordam para a luz e para o bem; elas podem penetrar o nosso coração, através de um amigo, de uma carta, de uma página ou de um livro, mas, no fundo, procedem sempre de Jesus, o Divino Amigo das Criaturas.
Retém contigo as palavras da vida eterna, porque são as santificadoras do Espírito, na experiência de cada dia, e, sobretudo, o nosso seguro apoio mental nas horas difíceis das grandes renovações”.
Por esse texto, as palavras são importantes nas nossas vidas, principalmente as palavras da vida eterna do divino Mestre, que trazem luzes, penetram o coração e purificam o nosso Espírito. Devemos afastar as palavras inúteis que incitam sentimentos inferiores. Lembra o Benfeitor espiritual que também poderemos nos expressar silenciosamente.
Emmanuel, em “Homem de fé”, no livro “Pão nosso”, no Capítulo 9, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, esclarece sobre a importância da palavra e do silêncio: “Em todos os serviços, o concurso da palavra é sagrado e indispensável, mas aprendiz algum deverá esquecer o sublime valor do silêncio, a seu tempo, na obra superior do aperfeiçoamento de si mesmo, a fim de que a ponderação se faça ouvida, dentro da própria alma, norteando-lhe os destinos”.
Assim, a palavra é sagrada e indispensável, mas o silêncio também tem valor sublime e indispensável, em especial para ouvir a ponderação necessária, freando os possíveis impulsos nocivos que ferem as pessoas.
“Esse esforço individual deve começar com o autodomínio, com a disciplina dos sentimentos egoísticos e inferiores, com o trabalho silencioso da criatura por exterminar as próprias paixões” (Espírito Emmanuel. O consolador. Questão 230).
“Os que conhecem espiritualmente as situações ajudam sem ofender, melhoram sem ferir, esclarecem sem perturbar. Sabem como convém saber e aprenderam a ser úteis. Usam o silêncio e a palavra, localizam o bem e o mal, identificam a sombra e a luz e distribuem com todos os dons do Cristo. Informam-se quanto à Fonte da Eterna Sabedoria e ligam-se a ela como lâmpadas perfeitas ao centro da força. Fracassos e triunfos, no plano das formas temporárias, não lhes modificam as energias. Esses sabem porque sabem e utilizam os próprios conhecimentos como convém saber” (Espírito Emmanuel. Vinha de luz. Cap. 44, Saber como convém).
Somente com o tempo e o progresso intelectual, moral e espiritual, em um esforço individual de autodomínio, com a disciplina dos sentimentos egoísticos e inferiores, exterminando as próprias paixões viciosas, aprenderemos a “entrar na casa material ou na mental de alguém” e ter “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir”, conhecer espiritualmente as situações e localizar o bem e o mal.
O Espírito Humberto de Campos, no livro “Boa nova”, em “Joana de Cusa”, Capítulo 15, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, em face da aflição de Joana pelo inadequado comportamento do esposo e da dificuldade extrema para um entendimento recíproco no ambiente do lar, o Mestre aconselha: “O Pai não impõe a reforma a seus filhos: esclarece-os no momento oportuno. Joana, o apostolado do Evangelho é o de colaboração com o céu, nos grandes princípios da redenção. Sê fiel a Deus, amando o teu companheiro do mundo, como se fora teu filho. Não percas tempo em discutir o que não seja razoável. Deus não trava contendas com as suas criaturas e trabalha em silêncio, por toda a Criação. Vai!… Esforça-te também no silêncio e, quando convocada ao esclarecimento, fala o verbo doce ou enérgico da salvação, segundo as circunstâncias!”
Isso porque: “… o ruído é próprio dos homens, enquanto que o silêncio é de Deus, síntese de toda a verdade e de todo o amor” (Humberto de Campos. Boa nova, Capítulo 23, A mulher e a ressurreição).
Conforme as circunstâncias, temos o momento de falar e de silenciar, mas em todas elas devemos trabalhar em silêncio, ser ponderados, ouvir o coração, sem criar contendas com os nossos interlocutores e, quando for o momento certo, utilizar palavras edificantes.
A seguir, alguns conselhos do Espírito Joanna de Ângelis, do livro “Vida feliz”, na psicografia de Divaldo Pereira Franco:
“Não descarregues o teu azedume, conflitos e recalques nos servidores da tua casa, do teu trabalho, da tua esfera social. Eles já sofrem o suficiente, dispensando a carga de amargura e mal-estar que lhes destinas. Coloca-te no lugar deles e verás quanto gostarias de receber gentilezas, ter atenuadas as humilhações que passasses, as dores que carpisses… São teus irmãos carentes. Se te fazem grosserias e são rudes, educa-os com o silêncio e a bondade. Eles desconhecem as boas maneiras, necessitando do teu exemplo….”. (Capítulo CIX)
“No tumulto que toma conta do mundo e das pessoas, reserva-te alguns momentos de silêncio, que se transformem em quietude interior. A agitação, a balbúrdia, o falatório, desarmonizam os centros emocionais do equilíbrio. Cala mais do que fala. Reflexiona antes de expender a tua opinião. Ouve a zoada e alija-te do burburinho, preservando-te em paz. Este comportamento é salutar para todos os momentos da tua vida”. (Capítulo XLII)
“Muita gente se compraz na transmissão de comentários infelizes, veiculando ideias e opiniões malsãs, tomando-se estafeta da insensatez. Permanece discreto diante dos maledicentes e injuriosos, que te testam as resistências, trazendo-te mensagens infames, a fim de levarem a outrem, distorcidas, as tuas palavras. O silêncio, em tais circunstâncias, é como algodão que abafa e amortece o ruído do mal em desenvolvimento”. (Capítulo XLIX)
“Compadece-te dos fracos. Dá-lhes mão amiga em qualquer situação. Além da fragilidade orgânica, são tímidos e dependentes, reconhecendo a deficiência de energias. Ajuda-os com um sorriso afável de companheirismo, com uma promessa de silencioso apoio, mediante um gesto que lhes dê segurança. Coloca-te no lugar deles, e faze, em seu favor, o que gostarias de receber, estando na sua situação”. (Capítulo LVIII)
“Enquanto alguém estiver sendo acusado, mantêm-te em silêncio. Os acontecimentos quando estouram, têm antecedentes que são ignorados pela maioria dos circunstantes. As coisas nem sempre são conforme se apresentam, mas consoante são nos seus valores íntimos. Não faças coro com as acusações expostas. O delinquente e o infeliz pecador, merecem, quando menos, comiseração e oportunidade de reeducação… (Capítulo XL)
“Ante as dificuldades do caminho e as rudes provas da evolução, resguarda-te na prece ungida de confiança em Deus, que te impedirá resvalar no abismo da revolta. Um pouco de silêncio íntimo e de concentração, a alma em atitude de súplica, aberta à inspiração, eis as condições necessárias para que chegue a apaziguadora resposta divina. Cria o clima de prece como hábito, e estarás em perene comunhão com Deus, fortalecido para os desafios da marcha”. (Capítulo CXXXI)
“Um pouco de silêncio interior far-te-á muito bem. A azáfama desgastante, as preocupações contínuas, os sobressaltos, diminuem as resistências morais. Indispensável que te reserves tempo emocional para o teu refazimento, o teu silêncio interior. Ora, sem palavras, e acalma-te, deixando as ideias fluírem com espontaneidade, recompondo as paisagens emocional e nervosa, a fim de prosseguires na luta. Nesses instantes, encontra-te contigo mesmo e experimenta o júbilo de te amares, cuidando de ti e renovando-te, a fim de que nenhum mal permaneça contigo”. (Capítulo CXXVI)
Mensagem final com Espírito Emmanuel: “E façamos dentro de nós o silêncio preciso, emudecendo qualquer indisciplina mental. Sintonizemos o coração em ponto certo, ou, melhor, liguemos o pensamento para a Infinita Sabedoria, tendo o cuidado imprescindível para que a estática de nossas paixões e sensações não interfira com a recepção da bênção que nos advirá da Divina Bondade” (Espírito Emmanuel. Segue-me. Confiaremos).
Bibliografia:
ADRIANA. CVV Araraquara (SP). O que diz o silêncio. Disponível em: https://www.cvv.org.br/blog/o-que-diz-o-silencio/. Publicado em: 2020. Acessado em: 4 de janeiro de 2021.
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Vida feliz. 18ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal, 2020.
CAMPOS, Humberto de (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. Boa Nova. 37ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.
EMMANUEL (Espírito); psicografado por Francisco Cândido Xavier. Fonte viva. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2020.
EMMANUEL (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. O consolador. 29ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
EMMANUEL (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. Pão Nosso. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.
EMMANUEL (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. Vinha de luz. (?)ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2015.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (organizadora). Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte I. Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (organizadora). Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II. Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.