Os talentos são bens, dons e recursos que a Providência divina nos outorga para serem empregados em benefício próprio e de nossos semelhantes. O que foi emprestado será devolvido no momento do ajuste de contas perante o Senhor.
O tempo concedido para as suas utilizações é a existência terrena, porquanto ao retornarmos para o plano espiritual esses bens, dons e recursos serão devolvidos à divindade, ou seja, aqui ficarão, pois eles são como empréstimos.
Os talentos, como meios para impulsionar a evolução intelectual, moral e espiritual, são para garantir o progresso atual e ajudar a construir a futura morada, porque a experiência terrena não é mais que uma etapa para fazermos as aquisições dos tesouros libertadores da alma, de atributos e virtudes que levaremos em nossa bagagem evolutiva junto à imortalidade do Espírito.
Jesus ensina que os bens concedidos pelo Pai, tudo aquilo que necessitamos, são para ser gerenciados de acordo com a capacidade e as possibilidades de cada um, pois a bondade e a misericórdia divinas fornecem em cada experiência reencarnatória as bênçãos necessárias ao reajuste espiritual.
As provas impostas aos Espíritos pelas leis divinas são como uma avaliação de merecimento por suas obras ao final de cada existência, precisando ser superadas para adquirir os atributos morais evolutivos necessários para o acúmulo de experiências que nos impulsionarão na busca da perfeição em pluralidade de existências. Conforme forem cumpridas essas provas, aceleramos ou estacionamos o nosso progresso.
Os Espíritos não podem se isentar das provas que lhes cumprem sofrer, porquanto, se assim fosse, que mérito teriam para gozar dos benefícios da perfeição.
As provações podem ser difíceis, mas nelas o Espírito é colocado em situações que o afasta da inércia, proporcionando-lhe oportunidades para trabalhar a melhoria das suas atuais condições de vida.
Pode o Espírito, “por prova e por expiação, escolher uma existência em que seja arrastado ao crime, quer pelo meio onde se ache colocado, quer pelas circunstâncias que sobrevenham, mas será sempre livre de agir ou não agir. Assim, o livre-arbítrio existe para ele, quando no estado de Espírito, ao fazer a escolha da existência e das provas e, como encarnado, na faculdade de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que todos nos temos voluntariamente submetido. Cabe à educação combater essas más tendências. Fá-lo-á utilmente, quando se basear no estudo aprofundado da natureza moral do homem. Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza moral, chegar-se-á a modificá-la, como se modifica a inteligência pela instrução e o temperamento pela higiene” (Resumo teórico do móvel das ações humanas – item 872, em “O Livro dos Espíritos”).
As provas e expiações são sinais de relativa inferioridade do Espírito, necessitando evoluir, porquanto o que é perfeito não precisa ser provado ou expiado.
Pelos efeitos que provocam, as provas são forma de testar-lhe a capacidade moral mediante o uso correto dos talentos na prática do bem e da caridade. Cada situação de nossa vida pode ser entendida como uma prova para dar mais um passo em direção à evolução e todos os atos viciosos têm consequências para com quem havemos procedido mal, constituindo um dos castigos que nos estão reservados.
Assim, o recebimento e o uso dos talentos envolvem o Espírito em provações, em que, dependendo de como os utilizamos, pela lei de causa e efeito, motivará expiações pelas faltas cometidas, mediante penitência, castigo, cumprimento de pena ou sofrimento compensatório de culpa.
Nas expiações, o Espírito vê-se colocado prisioneiro das más ações cometidas pelo uso indevido do livre-arbítrio. Pelas faltas cometidas, renasce para repará-las, sofrendo as tribulações correspondentes à pena imposta pela justiça divina, para apreender com a dor como instrumento de educação e cura espiritual.
Por tudo isso, não podemos nos esquecer da condição de usufrutuário dos bens concedidos e aprender a conservar no próprio íntimo os valores que levaremos, porquanto restituímos à vida o que ela emprestou em nome de Deus, mas os tesouros espirituais ganhos, no campo da educação e das boas obras, serão somados ao ser espiritual.
O ajuste de contas é momento da aferição de valores que cedo ou tarde nos alcança. A nossa missão justifica-se pelas obras realizadas. Não há como fugir dessa avaliação divina. Neste sentido, os planejamentos reencarnatórios têm como base essa aferição, a análise dos resultados dos trabalhos desenvolvidos pelo Espírito em cada etapa de aprendizado.
Muitos se vangloriam em soberba dos talentos que possuem e nada contribuem de produtivo e útil. Outros lamentam ociosamente o reduzido talento e temem a luta, mas estes se esquecem de suas missões e dos trabalhos a serem realizados em decorrência dos talentos concedidos por Deus mediante empréstimo.
Cada um traz uma tarefa a cumprir, segundo o progresso que já realizou. A uns é atribuída uma tarefa de repercussão ampla, a outros apenas no seio da família, mas todos os Espíritos trazem responsabilidades definidas, e o tempo concedido para a sua movimentação é a existência no corpo físico.
A nossa missão justifica-se pelas obras realizadas. Aquele que não se esforçar para acrescentar alguma coisa àquilo que recebe da misericórdia divina, expiará em futuras reencarnações. Serão existências marcadas por provas e expiação, em que o indivíduo estará submetido ao jugo da lei de causa e efeito.
Assim, derrama o tesouro de amor que o Pai Celestial lhe situou no coração, através das bênçãos de fraternidade e simpatia, bondade e esperança para com os semelhantes e serás, invariavelmente, a criatura realmente feliz, sob as bênçãos da Terra e dos Céus.
Bibliografia:
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Médiuns. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira. Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II. Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.