“Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas, se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas, que tremendas trevas são!” (Mateus, 6: 22-23).
“A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo será tenebroso. Vê, pois, que a luz que em ti há não sejam trevas. Se, pois, todo o teu corpo é luminoso, não tendo em trevas parte alguma, todo será luminoso, como quando a candeia te alumia com o seu resplendor” (Lucas, 11: 34-36).
Essas passagens evangélicas nos conduzem para a importância de se ter bons olhos para a vida e para os nossos semelhantes, extraindo deles o que há de bom para iluminar o nosso interior que impulsionará o processo evolutivo na busca da perfeição.
O olhar somente para as coisas ruins nos cobrirá de sombras, fazendo-nos mergulhar em trevas interiores que produzirão quedas inevitáveis.
Vinicius, no livro “Nas pegadas do Mestre”, em “Olhos bons e olhos maus”, ensina:
“Os olhos são a luz do corpo. É por meio deles que o homem se orienta e se guia, não só em seus passos como no juízo que faz das coisas. Se os olhos são bons, seus passos são acertados e seus juízos retos; se maus, seus passos são dúbios e seus juízos falhos, visto como tudo depende dessa circunstância capital.
Ora, é precisamente isso o que se observa. Os atos dos homens, a maneira de verem e julgarem as coisas estão sempre em relação direta com sua moral.
Assim como o corpo dispõe dos órgãos da vista para o plano físico, da mesma sorte a alma possui também órgãos visuais para o plano espiritual. E tais órgãos sofrem naturalmente a influência do progresso e da evolução que o espírito vai realizando através dos tempos.
É por isso que um mesmo fato pode ser julgado sob diferentes prismas.
As facetas de um mesmo acontecimento assumem proporções diversas consoante a natureza dos olhos espirituais que as observam.
Olhos há que só veem o lado mau dos homens e das coisas. São pessimistas e não podem deixar de o ser, porque é uma questão de defeito no aparelho. Por mais que se esforcem, a perspectiva que abrangem é tão acanhada que lhes não permite divisar além.
Daí o conduzirem-se, muitos, por veredas esconsas.
Daí a origem dos juízos temerários; das blasfêmias; da covardia moral que conduz ao suicídio; da indolência e desânimo que degradam e aviltam os caracteres.
Outros olhos existem que lobrigam sempre a parte sã, o prisma bom de tudo que observam – homens e coisas. Esses são otimistas. O poder visual de que se acham dotados desgasta o mal, interpenetra-o, objetivando divisar o bem que fatalmente há de existir, ainda que em afastadas etapas.
O mal é uma contingência: só o bem possui existência real e imperecível.
Mas nem todos os olhos se acham em condições de descobrir e confirmar este asserto. Não obstante, é uma verdade. Todos os homens têm uma qualidade boa qualquer. Mesmo aqueles assinalados com o terrível estigma de bandidos e celerados não deixam de ter, lá nos recônditos do coração, algo de puro e de belo. No meio das mais densas trevas, existe infalivelmente um ponto luminoso, uma réstia de luz.
E como não ser assim, se Deus palpita em todas as obras da criação? (…)”
Rodolfo Calligaris, em “O Sermão da montanha”, em “Se os teus olhos forem bons…”, interpreta as passagens evangélicas assim:
“Diz um refrão popular que ‘os olhos são o espelho da alma’. Isso quer dizer que nossas qualidades anímicas expressam-se ou dão-se a conhecer pela simplicidade ou má índole com que olhamos e consideramos os outros, as coisas e os acontecimentos.
Pessoas há que só têm olhos para enxergar o lado mau de tudo.
Desconfiadas, vivem com medo de serem ludibriadas em seus afetos ou prejudicadas em seus interesses; maliciosas, não confiam em ninguém e estão sempre a fazer mau juízo do próximo; pessimistas, encaram os fatos da existência invariavelmente pelos seus aspectos menos felizes, e, quando solicitadas a opinar sobre a conveniência de qualquer realização, só sabem desencorajar, desmerecer, demolir.
Vendo unicamente o mal onde quer que pousem suas vistas, esperando constantemente o pior de qualquer evento, essas pessoas mantêm-se em sintonia com o astral inferior, envolvem-se em trevas cada vez mais densas, caem num estado de alma mórbido e desgraçado, acabando, geralmente, em deplorável ruína.
Tornam-se, assim, vítimas daquilo que admitem, criam e nutrem persistentemente em si mesmas.
É de suma importância que aprendamos a ver o bem em todos e em toda parte, para que o bem se manifeste e cresça em nossa vida.
Acreditando no bem, mentalizando o bem e esperando apenas o bem, nossos dias transcorrerão tranquilos e ditosos, pois, como disse o Mestre, ‘o que buscarmos, acharemos’.
Em verdade, sendo o universo criação de Deus, o supremo bem, tudo é bom, tudo obedece a uma finalidade justa, útil e necessária. Até mesmo o que nos fere e faz sofrer e, por isso, ‘parece’ ser um mal, converte-se em benefício para nossas almas, pois fá-las exercitar as virtudes que lhes faltam (a paciência, a resignação, a fé, etc.), preparando-as para um futuro melhor.
Não percamos tempo, portanto, na identificação do mal, ainda que a pretexto de fugirmos dele.
Abramos os olhos e estejamos atentos, isto sim, para nos apercebermos das centenas de oportunidades que se nos oferecem, diariamente, para a prática do bem.
Ajamos sempre com sinceridade de propósito e, onde estivermos: no lar, na rua ou no trabalho, procuremos ser solícitos para com os que nos rodeiam, ajudando-os como e quanto nos seja possível.
Se contrairmos esse hábito, não deixando passar uma só ocasião de servir, se mantivermos aceso o ideal de tornar-nos um instrumento pelo qual o Amor de Deus possa chegar aos nossos irmãos, todo o nosso ser se tornará luminoso, irradiando simpatia, calor humano e felicidade.
Teremos alcançado, então, a glória de ser considerados ‘filhos da Luz’.”
O Espírito Joanna de Ângelis, no livro “Florações evangélicas”, em “Lâmpadas, receptores e transmissor”, no Capítulo 42, na psicografia de Divaldo Pereira Franco, esclarece:
“Mantém acesas as lâmpadas dos olhos e contempla tudo com amor, a fim de que as belezas povoem as paisagens do teu pensamento.
A candeia do corpo são os olhos.
Liga os receptores somente quando as convenientes mensagens sonoras produzam vibrações de nobres sinfonias nos teus painéis mentais, de modo a possuíres permanente festa no Espírito, não obstante as tormentas exteriores que te cerquem.
Quem tiver ouvidos ouça.
Externa apenas o que possa ajudar e silencia tudo aquilo que aguilhoa e martiriza, pois o homem superior é considerado não pelo muito que diz, mas pelo conteúdo enobrecedor do que carregam suas palavras.
Porque a boca fala o de que está cheio o coração.
O olhar de Jesus dulcificava as multidões, Seus ouvidos atentos descobriam o pranto oculto e identificavam a aflição onde se encontrava, e Sua boca bordada de misericórdia somente consolou, cantando a eterna sinfonia da Boa-nova em apelo insuperável junto aos ouvidos dos tempos, convocando o homem de todas as épocas à epopeia da felicidade.
Procura fazer o mesmo com a tua aparelhagem superior.”
O Espírito Emmanuel, no livro “Pão nosso”, no Capítulo 169, em “Olhos”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, esclarece:
“Eles têm os olhos cheios de adultério. – (II Pedro, 2:14)
‘Olhos cheios de adultério’ constituem rebelde enfermidade em nossas lutas evolutivas.
Raros homens se utilizam dos olhos por lâmpadas abençoadas, e poucos os empregam como instrumentos vivos de trabalho santificante na vigília necessária.
A maioria das criaturas trata de aproveitá-los, à frente de quaisquer paisagens, na identificação do que possuem de pior.
Homens comuns, habitualmente, pousam os olhos em determinada situação apenas para fixarem os ângulos mais apreciáveis aos interesses inferiores que lhes dizem respeito. Se atravessam um campo, não lhe anotam a função benemérita nos quadros da vida coletiva, e sim a possibilidade de lucros pessoais e imediatos que lhes possa oferecer. Se enxergam a irmã afetuosa de jornada humana, que segue não longe deles, premeditam, quase sempre, a organização de laços menos dignos. Se encontram companheiros nos lugares em que atendem a objetivos inferiores, não os reconhecem como possíveis portadores de ideias elevadas, porém como concorrentes aos seus propósitos menos felizes.
Ouçamos o brado de alarme de Simão Pedro, esquecendo o hábito de analisar com o mal.
Olhos otimistas saberão extrair motivos sublimes de ensinamento, nas mais diversas situações do caminho em que prosseguem.
Ninguém invoque a necessidade de vigilância para justificar as manifestações de malícia. O homem cristianizado e prudente sabe contemplar os problemas de si mesmo, contudo, nunca enxerga o mal onde o mal ainda não existe.”
Assim, procure valorizar o que as pessoas têm de melhor e minimize os seus defeitos, compreendendo que todos nós somos seres em evolução, e cada um de nós se encontra em determinado estágio de progresso.
Se olharmos sempre o lado ruim das pessoas e da vida, será muito difícil conviver e viver. Reflita sobre isso!
Bibliografia:
BIBLIA SAGRADA.
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Florações evangélicas. 6ª Edição. Salvador/BA: LEAL, 2020.
CALLIGARIS, Rodolfo. O Sermão da Montanha. 18ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.
EMMANUEL (Espírito); na psicografia Francisco Cândido Xavier. Pão nosso. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.
VINICIUS. Nas pegadas do Mestre. 12ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2014.