Há um ditado popular que diz ser a gratidão a memória do coração. Isso porque a gratidão exterioriza um sentimento interior de reconhecimento a um bem recebido de alguém ou a uma dádiva que a vida lhe proporcionou ou proporciona.
Por conseguinte, de suma importância a identificação e o reconhecimento do bem ou da graça recebida, os quais poderão impulsionar o sentimento de gratidão de diferentes maneiras, tais como: por gestões ou palavras; mediante ações de retribuição ou doação; praticando atitudes beneméritas; realizando prece de agradecimento; dentre outras.
Apesar do bem recebido, há quem não o identifique ou tampouco o reconheça como tal, por diversos motivos, em especial pela insensibilidade, pela indiferença, pelo egoísmo, pelo orgulho, pela soberba, pela vaidade, pela ingratidão ou pela cegueira para as coisas de Deus. Assim, o sentimento de gratidão deve tocar o coração de quem foi beneficiado.
Uma coisa é certa, a gratidão une o beneficiário ao benfeitor.
A seguir, apresentaremos uma compilação da literatura espírita que cuida da temática gratidão.
O Espírito Joanna de Ângelis, no livro “Psicologia da gratidão”, na psicografia de Divaldo Pereira Franco, ensina:
“A gratidão é um sentimento mais profundo e significativo, porque não se limita apenas ao ato da recompensa habitual. É mais grandioso, porque traz satisfação e tem caráter psicoterapêutico.
Todo aquele que é grato, que compreende o significado da gratidão real, goza de saúde física, emocional e psíquica, porque sente alegria de viver, compartilha de todas as coisas, é membro atuante na organização social, é criativo e jubiloso.
Predomina, porém, nas massas, que infelizmente diluem a identidade do indivíduo, confundindo os valores éticos e comportamentais, a ingratidão, filha inditosa da soberba, quando não do orgulho ou da prepotência, esses remanescentes do instinto, transformados em sombra perturbadora. (…)
A gratidão é uma bênção de valor desconhecido, porque sempre tem sido considerada na sua forma simplista e primária, sem o conteúdo psicoterapêutico de que se reveste.
Quando se reflexiona em torno da gratidão, quase imediatamente se pensa em devolver parte do que foi recebido, o que a torna insignificante e destituída de valor.
Permanece aí a visão material imediatista, sem os conteúdos psicológicos renovadores. (…)
A gratidão deve ser um estado interior que se agiganta e mimetiza com as dádivas da alegria e da paz.
Por essa razão, aquele que agradece com um sorriso ou uma palavra, com uma expressão facial em silêncio ou numa canção oracional, com o bem que esparze, é sempre feliz, vivendo pleno. Entretanto, aquele que sempre espera receber, que faz e anela pela resposta gratulatória, que se movimenta e realiza atos nobres, mas conta com o alheio reconhecimento, imaturo, negocia, permanecendo instável, neurastênico, em inquietação.
Quando se é grato, nunca se experimenta nenhum tipo de decepção ou queixa, porque nada espera em resposta ao que realiza.
A busca, portanto, da autorrealização é alcançada a partir do momento em que a gratidão exerce o seu predomínio no Self, sem nenhuma sombra perturbadora, constituindo-se uma sublime bênção de Deus. (…)
Uma das razões fundamentais para que a gratidão se expresse é o estímulo propiciado pela humildade que faz se compreenda quanto se recebe, desde o ar que se respira gratuitamente aos nobres fenômenos automáticos do organismo, preservadores da existência.
Nessa percepção da humildade, ressuma o sentimento de alegria por tudo quanto é feito por outros, mesmo que sem ter ciência, em favor, em benefício dos demais. Essa identificação proporciona o amadurecimento psicológico, facultando compreender-se que ninguém é autossuficiente a tal ponto que não dependa de nada ou de ninguém, numa soberba que lhe expressa a fragilidade emocional.
Sem esse sentimento de identificação das manifestações gloriosas do existir, a gratulação não vai além da presunção de devolver, de nada se ficar devendo a outrem, de passar incólume pelos caminhos existenciais, sem carregar débitos…
Quando se é grato, alcança-se a individuação que liberta. Para se atingir, no entanto, esse nível, o caminho é longo, atraente, fascinante e desafiador. (…)
À medida que a psique desenvolve a consciência, fazendo-a superar os níveis primitivos recheados pela sombra, mais facilmente adquire a capacidade da gratidão. (…)
A vida sem gratidão é estéril e vazia de significado existencial. (…)
Assim sendo, um grande obstáculo à gratidão madura é o hábito de esperar-se resposta ao ato gentil, de aguardar-se que o outro, o beneficiário, reconheça o que recebeu e retribua. Eis aí uma forma sub-reptícia de narcisismo, quando se faz algo e se exige gratidão, ficando-se decepcionado pela ausência dessa resposta, o que induz muitos ansiosos às atitudes infantis de que nunca mais farão nada mais por ninguém, pois que não o merecem.
O sentimento da gratidão sempre deve estar desacompanhado da expectativa de qualquer forma de retribuição, nem mesmo sequer de um olhar ou de um sorriso, que expressariam reciprocidade. Havendo, é bem melhor, porque o outro igualmente se encontra em processo de amadurecimento psicológico e de contribuição valiosa à sociedade. Mas será uma exceção e não uma lei natural e constante.
Todo ato de generosidade, pela sua maneira de ser, dispensa gratulação e manifesta-se naturalmente. (…)
O ego destaca-se, perverso, em todos os cometimentos, e a ingratidão assinala a maneira de ser de cada um. Pensa-se exclusivamente no interesse pessoal, embora a prejuízo dos outros, e a competição desleal esfacela os relacionamentos, que se assinalam, com raríssimas exceções, trabalhados pela hipocrisia e pela animosidade mal disfarçada.
Nesse comenos, a traição, o descaso por aqueles que auxiliaram no começo da jornada, a ingratidão manifestam-se em escala assustadora.
A ingratidão, porém, é doença da alma que necessita de urgente tratamento nas suas nascentes.
O ingrato é alguém que perdeu o endereço da felicidade e, aturdido, deambula por caminhos equivocados.
Ninguém nasce grato, nem consegue a gratidão de um salto.
Aprende-se gratidão mediante a sua prática, que deve ser iniciada na família, essa sociedade em miniatura, na qual a afetividade manifesta-se com naturalidade. (…)
O desafio à gratidão dá-se nos tempos difíceis, quando surgem as adversidades que são também parte do processo desafiador da evolução, porquanto nem sempre os céus humanos estarão adornados de astros, sendo todos convidados a atravessar a noite escura da alma com a luz do sentimento reconhecido a Deus pela oportunidade de experienciar novas maneiras de viver.
Normalmente, o sofrimento ceifa a gratidão e o indivíduo foge para a lamentação deplorável, para a autoacusação ou autojustificação, comparando-se com as demais pessoas que lhe parecem felizes e destituídas de qualquer inquietação.
De certo modo, sem as experiências dolorosas, ninguém pode avaliar aquelas que são enriquecedoras e benignas por falta de parâmetros de avaliação. Necessário nesses momentos mais difíceis liberar-se da raiva, da mágoa, evitando a ingratidão pelos bens armazenados e pelas horas felizes anteriormente vividas, continuando a amar a vida mesmo nessas circunstâncias indispensáveis. (…)
O apóstolo Paulo, na sua epístola aos Colossenses, no capítulo 3, versículo 16, exorta os discípulos, convidando-os a louvar Deus com gratidão em seus corações. Oportunamente, referira-se, noutra epístola, aos Coríntios, à sua gratidão pelos padecimentos, por todas as aflições que lhe chegavam em razão da sua vinculação com Jesus.
Gratidão pelo sofrimento reparador, como gratidão pela alegria da fé iluminativa.
A gratidão nele habitava como sentido existencial, porquanto reconhecia que a dedicação ao ideal libertador do evangelho representava-lhe uma bênção, e que tudo no Universo sucede em intercâmbio de valores.
As dádivas fruídas são os frutos abundantes e opimos da sementeira produzida a suor e luta, mas com alegria feita de reconhecimento pela oportunidade de realizar algo dignificante, não apenas para si mesmo, mas que pode transcender o ego na direção de outrem, da comunidade.
Sem essa compreensão, a vida humana não tem sentido, mantendo-se no automatismo vegetativo, sem a significação psicológica enobrecedora. (…)
Inúmeras vezes a gratidão insinua-se no comportamento dos indivíduos que, por falta de hábito, por timidez e constrangimento, não se encorajam a expressá-la, reprimindo-a injustificadamente.
Como a gratidão necessita do combustível do amor para poder atingir o seu grau de completude, a pessoa deve exercitar a imaginação ativa, vivenciando-a em todas as situações da sua existência, expressando-a intimamente, oferecendo-a com sorrisos silenciosos, sendo útil à comunidade que começa na intimidade da família, mediante os esforços para manter a gentileza e o carinho em qualquer circunstância.
Também poderá fazê-lo através da oração direcionada ao seu próximo, em vibrações harmônicas de bondade e de desejos fervorosos em benefício dos outros.”
Cairbar Schutel, no livro “Parábolas e Ensinos de Jesus”, em “Reconhecimento e gratidão”, comenta:
“De caminho para Jerusalém, passava Jesus pela divisa entre a Samaria e a Galileia. Ao entrar ele numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, que ficaram de longe, e levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem compaixão de nós! Jesus logo que os viu disse-lhes: Ide mostrar-vos aos sacerdotes. E em caminho ficaram limpos. Um deles, vendo-se curado, voltou dando glória a Deus em alta voz, e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe, e este era samaritano. Perguntou Jesus: Não ficaram limpos os dez? Onde estão os outros nove? Não se achou quem voltasse a dar glória a Deus senão este estrangeiro? E disse ao homem: levanta-te e vai; a tua fé te curou.’
(Lucas, XVII, 11-19)
‘Muitos dos seus discípulos se retiraram, e não andavam mais com Jesus. Perguntou, então Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna: e nós temos crido e conhecemos que tu és o Santo de Deus.’
(João, VI, 66-69)
‘Marta, preocupada com o serviço, chegando-se ao Senhor disse: A ti não se te dá que minha irmã me tenha deixado só a servir? Manda-lhe, pois, que me ajude. Mas respondeu-lhe o Senhor: Marta, está muito ansiosa e te ocupas com muitas coisas, entretanto poucas são necessárias, ou antes uma só; porque Maria escolheu a boa parte que não lhe será tirada.’
(Lucas, X, 40-42.)
‘Aí tendes uma guarda; ide segurá-lo como entendeis. Partiram eles e tornaram seguro o sepulcro, selando a pedra e deixando ali aguarda.’
(Mateus, XXVII, 65-66.)
‘Passado o Sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para ir embalsamá-lo.’
(Marcos, XVI, 1.)
Reconhecimento e gratidão são as duas expansões da alma humana, que assinalam muito bem o estado moral de cada indivíduo.
O reconhecimento é o testemunho da genuinidade de uma coisa, de um fato, de uma pessoa.
O reconhecimento é princípio inteligente que nos aproxima da verdade.
Como ato de discernimento, o reconhecimento pode dar lugar ao bom ou mau juízo que façamos de um objeto ou de uma pessoa.
Como virtude moral, o reconhecimento é o princípio da gratidão: onde aquele chega a seu mais elevado cimo, esta começa a sua espiral que se eleva ao infinito.
O reconhecimento, que é discernimento espiritual, obedece sempre ao estado de espírito do julgador.
O reconhecimento, como produto do benefício, é a confissão do bem, pelo bem que o bem nos fez.
A gratidão grava a ideia do bem e mantém, pelo autor do benefício, vivo sentimento de carinho.
O reconhecimento lembra a ideia do benefício.
A gratidão aviva a lembrança do benfeitor.
O reconhecimento é um movimento de inteligência, variável, como variável é a inteligência em cada ser humano.
A gratidão é uma confirmação da razão, sancionada por gesto do coração.
Há reconhecimento e há gratidão; onde aquele para, por não poder continuar o seu caminho, esta começa num sulco de luz, a ascensão para a eternidade.
Não há virtude mais nobre, por isso mesmo mais rara que a gratidão. Ela nos conduz pelo amor e nos eleva a Deus.
Muitas são as almas reconhecidas, mas poucas são as que têm gratidão.
Dos dez leprosos curados em terras da Palestina, só um voltou a dar graças ao Senhor. De todos os restabelecidos pelo Senhor não se contam, talvez, três, que lhe seguissem os passos. De todos os que ouviram dos melodiosos lábios a palavra de salvação, insignificante foi o número dos agradecidos; inúmeros foram os que reconheceram o Verbo de Deus, e muito maior em número foram os que, apesar de O reconhecerem, repudiaram a sua Palavra.
Padres, doutores, rabinos, escribas, fariseus, governadores e césares, depois que reconheceram o poder do Verbo Divino, é que resolveram crucificar o inocente!
E aquele mesmo que depois de haver mostrado o seu reconhecimento na mais alta expressão de inteligência, lava as mãos ao derramamento de sangue e acede ao sacrifício da vítima, porque não tem coragem de ser grato.
O mundo está cheio de reconhecidos, mas vazio de gratidão.
De oitenta e quatro discípulos que seguiam o Mestre Nazareno, setenta e dois abandonaram-no em meio do caminho dando motivo à pergunta do humilde galileu aos outros doze: ‘E vós também não vos quereis retirar? Ao que respondeu Pedro: Para quem havemos nós de ir, Senhor? Tu tens Palavras de Vida Eterna!’
O reconhecimento incita o interesse; a gratidão reveste o amor.
Marta e Lázaro são reconhecidos, mas só Maria tem gratidão: ‘Venit mulier habens alabastrum unguenti nardi spicati pretiosi et fracto alasbastro, effudit super ejus — uma mulher com um frasco de fino perfume de nardo ungiu-O’. (Marcos, XIV, 3.)
Nicodemos, movido pelo reconhecimento, vai ao encontro de Jesus, mas como não tem gratidão, espera a noite para se aproximar do Filho de Deus: Nicodemos hic venit ad Jesum nocte. (João, III, 1-2.)
No reconhecimento só age o interesse.
Na gratidão é o amor que fala.
Para guarda do sepulcro, Herodes envia milícia; Madalena leva flores e perfumes.
O reconhecimento é o princípio inteligente que nos aproxima da verdade; a gratidão é um dever que a ela nos alia.
Na vida particular, como na vida social, há reconhecimento e gratidão; mas aquele, quando lustrado pela nobreza de caráter, é o princípio em que germinam as graças que nos dão a pureza de sentimento.
O reconhecimento é, finalmente, para a gratidão, o que a bolota é para o carvalho.
Assim como aquela só se transforma em árvore por força do tempo e poder dos elementos, o reconhecimento só se caracteriza em gratidão depois de um cultivo acurado da lei do amor lembrada pelo Cristo e de uma evolução proveitosa do Espírito nos ciclos ascendentes da Verdade.”
O Espírito Joanna de Ângelis, no livro “Vida feliz”, Capítulo XXIII, na psicografia de Divaldo Pereira Franco, ensina:
“Tem piedade dos ingratos.
Eles asfixiaram os sentimentos nobres nos vapores da soberba.
A gratidão é o sentimento digno que deve viger no homem que recebe benefícios da vida.
Todos a devemos a alguém ou a muitas pessoas que nos socorreram nos momentos graves da existência.
A ajuda na hora certa é responsável por tudo de bom que te venha a acontecer, impelindo-te ao reconhecimento perene.
Sê grato em todas as situações.”
Ainda o Espírito Joanna de Ângelis, no livro “Episódios diários”, no Capítulo 9, em “Ação – bondade”, na psicografia de Divaldo Pereira Franco, esclarece:
“A cobrança da gratidão diminui o valor da dádiva.
O bem não tem preço, pois que, à semelhança do amor, igualmente não tem limite.
Quando se faz algo meritório em favor do próximo aguardando recompensa, eis que se apaga a qualidade da ação, em favor do interesse pessoal grandemente pernicioso.
O Sol aquece e mantém o planeta sem qualquer exigência.
A chuva abençoa o solo e o preserva rico, em nome do Criador, sustentando os seres e se repete em períodos ritmados, não pedindo nada.
O ar, que é a razão da vida, existe em tão harmonioso equilíbrio e discrição, que raramente as criaturas se dão conta da sua imprescindibilidade.”
O Espírito Emmanuel, no livro “Pão nosso”, em “Agradecer”, no Capítulo 163, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, ensina:
“E sede agradecidos. – Paulo. (Colossenses, 3:15.)
É curioso verificar que a multidão dos aprendizes está sempre interessada em receber graças, entretanto, é raro encontrar alguém com a disposição de ministrá-las.
Os recursos espirituais, todavia, em sua movimentação comum, deveriam obedecer ao mesmo sistema aplicado às providências de ordem material.
No capítulo de bênçãos da alma, não se deve receber e gastar, insensatamente, mas recorrer ao critério da prudência e da retidão, para que as possibilidades não sejam absorvidas pela desordem e pela injustiça.
É por isso que, em suas instruções aos cristãos de Colossos, recomenda o apóstolo que sejamos agradecidos.
Entre os discípulos sinceros, não se justifica o velho hábito de manifestar reconhecimento em frases bombásticas e laudatórias.
Na comunidade dos trabalhadores fiéis a Jesus, agradecer significa aplicar proveitosamente as dádivas recebidas, tanto ao próximo, quanto a si mesmo.
Para os pais amorosos, o melhor agradecimento dos filhos consiste na elevada compreensão do trabalho e da vida, de que oferecem testemunho.
Manifestando gratidão ao Cristo, os apóstolos lhe foram leais até ao último sacrifício; Paulo de Tarso recebe o apelo do Mestre e, em sinal de alegria e de amor, serve à Causa Divina, através de sofrimentos inomináveis, por mais de trinta anos sucessivos.
Agradecer não será tão-somente problema de palavras brilhantes; é sentir a grandeza dos gestos, a luz dos benefícios, a generosidade da confiança e corresponder, espontaneamente, estendendo aos outros os tesouros da vida.”
O Espírito Joanna de Ângelis, no livro “Florações evangélicas”, no Capítulo 28, na psicografia de Divaldo Pereira Franco, em “Gratulação”, esclarece:
“No torvelinho das aflições, fácil é para o homem esquecer-se das doações superiores com que o Senhor da Vida o aquinhoou.
Por qualquer insignificante problema, a contrariedade lhe tisna a lucidez, fazendo que blasfeme ou se desgaste em injustificável rebelião.
Diz-se comumente que a vida não merece ser vivida, pois que somente decepções e lutas se amontoam por todo lado, em torva conspiração contra a paz.
E há tanta beleza e harmonia na Terra! No entanto, acostumado às bênçãos, não as aquilata devidamente, reportando-se ao seu valor somente quando as circunstâncias o privam de qualquer uma dessas concessões.
Necessário é, portanto, sair um pouco do castelo do eu para examinar com lucidez a Casa do Pai Criador e valorizar os tesouros de que pode dispor, exaltando a glória do viver.
***
Se possuís visão, recorda os que a perderam.
Se dispões da audição, pensa nos que não conseguem ouvir.
Se podes movimentar-te, evoca os limitados na paralisia.
Se desfrutas saúde, considera os padecentes das múltiplas enfermidades.
Se és aquinhoado com um lar, examina a situação dos desabrigados.
Se te fizeste pai ou mãe, tem em mente os que não lograram fruir tal aspiração.
Se reténs os valores transitórios, medita a respeito dos que nada possuem.
Mas se te escasseia esta ou aquela dádiva, tem paciência e espera.
Ninguém na Terra se encontra afortunadamente completo, como ninguém há que esteja em abandono total.
Aqueles que te parecem felizes, apenas parecem.
E os que se te afiguram desgraçados, estão temporariamente resgatando dívidas, dirigidos por sábios desígnios.
Gratidão é rara moeda entre os homens.
Habituados à ambição desenfreada, da vida somente desejam gozar, sem outra aspiração, aquela que conduz à plenitude permanente, a dos valores imperecíveis.
***
Os problemas são frutos da inércia do próprio homem que, negligente, acumula dificuldades, por egoísmo, desaire ou precipitação.
A vida é um desafio que merece carinhoso esforço de coragem e significativa contribuição de trabalho.
Ser grato pela oportunidade de crescer, significa o mínimo que se pode responder a esse empreendimento que é a reencarnação.
Todos rogam atingir novas metas, sem embargo não se fazem reconhecidos do Senhor pelos alvos lobrigados.
Gratidão, por isso, nas horas da agonia, como do testemunho, mediante a humildade ante as provações redentoras, necessárias.
Em qualquer situação em que te encontres, agradece a Deus, abençoando por meio da confiança no futuro as horas difíceis do presente.
Convidado diretamente ao desespero, não olvides as alegrias fruídas, e, conduzido à rebeldia, recua na direção da paz já desfrutada.
Reconhecido ao Pai Amantíssimo, Jesus, mesmo perseguido, incompreendido, atormentado, permaneceu tranquilo e fiel em confiança absoluta, como a expressar Sua sublime gratidão.”
O Espírito Emmanuel, no livro “Paz e renovação”, em “Agradeçamos a Deus”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, escreveu:
“Necessário conservar o coração agradecido a Deus para que as aflições não nos deteriorem os sentimentos.
Para isso, é forçoso procurar o lado melhor das coisas e ocorrências, a outra face das pessoas e circunstâncias.
Em muitos episódios da nossa caminhada na Terra, porque a provação nos visite, afundamo-nos em desânimo, todavia, em nos apercebendo com segurança quanto à significação disso, compreendemos para logo que a provação é alavanca psicológica, sem a qual não solucionaríamos as dificuldades alheias.
Certas afeições, no mundo, nos abandonam em caminho, amarfanhando-nos o Espírito, no entanto, que seria de nós se determinados laços possessivos nos detivessem o coração, indefinidamente?
Empeços materiais persistem conosco, por tempo enorme, contudo, acabamos notando que sem eles, quase sempre, ser-nos-ia impraticável a consolidação do equilíbrio espiritual.
A decepção trazida por um amigo é razão para grande sofrimento, entretanto, a pouco e pouco, reconhecemos que a decepção, no fundo, não existe, de vez que a ruptura de certas relações se traduz por transitório desnível, através do qual se rompem hoje tarefas abraçadas em comum para se refazerem, de futuro, em novas condições de harmonia e de rendimento no bem de todos.
O bisturi do cirurgião é suscetível de inquietar-nos a vida mas retira de nós aquilo que pode induzir-nos à morte prematura.
Saibamos agradecer ao Senhor os dons de que fomos aquinhoados.
Dor é aviso, obstáculo é medida de resistência, desilusão é reajuste, contratempo é lição. Se sabemos aceitá-los, transformam-se-nos sempre em dispositivos para a obtenção da felicidade maior.
Isso ocorre, porque, na maioria das ocasiões, os desapontamentos nada mais são que oportunidades a fim de que as nossas emoções se façam respostas na órbita de nossos deveres ou para que os nossos raciocínios se recoloquem na direção de Deus.”
Por tudo isso, seja grato à vida, aos pais, aos filhos, à esposa, ao esposo, à família, aos parentes, aos amigos, aos bens, talentos e auxílios que Deus proporcionou, assim como aos adversários, ao sofrimento e à dor decorrentes das provas retificadoras e renovadoras, cujas lições farão alçar níveis mais elevados na escala evolutiva em direção à perfeição.
Para tanto, limpe a janela de sua alma para ver e identificar as dádivas recebidas, reconhecendo que é preciso agradecer, afastando a cegueira dominante no fundo do coração.
Bibliografia:
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Episódios diários. 10ª Edição. Salvador/BA: Editora LEAL, 2016.
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Florações evangélicas. 6ª Edição. Salvador/BA: Leal, 2020.
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Psicologia da gratidão. (?)ª Edição. Salvador/BA: LEAL, (?).
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Vida feliz. 18ª Edição. Salvador/BA: LEAL, 2020.
BÍBLIA SAGARADA
EMMANUEL (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Pão Nosso. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.
EMMANUEL (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Paz e renovação. 14ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.