“Os apóstolos disseram ao Senhor: aumenta a nossa fé. Ele respondeu: se vocês tiverem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderão dizer a esta amoreira: arranque-se e plante-se no mar, e ela lhes obedecerá.” (Lucas, 17: 5-6)
As nossas reflexões cuidarão da fé e do seu poder, entendendo-a como essencial para impulsionar a nossa evolução moral e espiritual mediante o seu desenvolvimento pelo trabalho edificante e incessante na prática do bem e da caridade.
Nessa passagem evangélica, Jesus esclarece que a fé tem poder inimaginável, a ponto de mover montanhas e, no caso, a amoreira de um lugar a outro, mesmo que ainda seja pequena como uma semente de mostarda.
Durante a caminhada peregrina na Terra, diante das provas e expiações, a fé poderá vacilar frente às dúvidas, incertezas, hesitações, fraquezas e vulnerabilidades, ou até sucumbir. Nessas situações vacilantes, nem sempre será possível evidenciar a fé que gostaríamos de ter, nascendo o desejo de se aumentar a fé para enfrentar as dificuldades da vida e seguir em frente.
A exemplo dos discípulos de Jesus, em face dos conflitos da vida, emerge o desejo de se aumentar a fé, pedindo a alguém que realize essa ação específica, como se fosse algo que poderia ser transferido de uma pessoa a outra.
O Espírito Emmanuel, no livro “Vinha de luz”, em “Fé”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, esclarece: “Ninguém pode, pois, em sã consciência, transferir, de modo integral, a vibração da fé ao Espírito alheio, porque, realmente, isso é tarefa que compete a cada um”.
Allan Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no Capítulo XIX, em “A fé transporta montanhas”, ensina: “Diz-se vulgarmente que a fé não se prescreve, donde resulta alegar muita gente que não lhe cabe a culpa de não ter fé. Sem dúvida, a fé não se prescreve, nem, o que ainda é mais certo, se impõe. Não; ela se adquire e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais básicas e não de tal ou qual crença particular. Não é à fé que compete procurá-los; a eles é que cumpre ir-lhe ao encontro e, se a buscarem sinceramente, não deixarão de achá-la”.
O Espírito Emmanuel, no livro “Fonte viva”, em “Fé inoperante”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, ensina: “A fé, na essência, é aquele embrião de mostarda do ensinamento de Jesus que, em pleno crescimento, através da elevação pelo trabalho incessante, se converte no reino divino, onde a alma do crente passa a viver.”
Assim, muitos podem auxiliar alguém com ensinamentos, esclarecimentos ou preces de intercessão para que a pessoa possa se encontrar, despertar e seguir o caminho do bem e da caridade em direção ao Pai, com mais fé, mas, realmente, essa é uma ação da vontade de cada um. Logo, devemos buscar a fé, indo ao seu encontro.
Em “Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita”, Livro III, Módulo III, Roteiro 10, extraímos:
“Na verdade, o processo de aquisição da fé é trabalho cotidiano e persistente. As pessoas de caráter fraco ou que desanimam perante os obstáculos, demoram mais na construção do edifício da fé no íntimo do ser. Muitos iniciam essa aquisição através da religião, outros pelo controle mental, desenvolvido pela meditação e vontade disciplinada. (…)
Para a Doutrina Espírita a ‘[…] fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer […]. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.’
Por não ignorar que a aquisição da fé é, em muitos casos, obra dos séculos, foi que Jesus optou por exaltar-lhe o poder, em resposta ao pedido que lhe dirigiram os apóstolos. Entretanto, a fé não precisa ser grandiosa, algo fora do comum, basta que seja verdadeira. Ainda que seja do tamanho de um grão de mostarda, uma semente tão pequena, se ela for exercitada, plantada no terreno da vida, ela crescerá e será capaz de trazer grande providência, ou seja, de realizar coisas prodigiosas: deslocando montanhas (Mt 17: 20) ou fazendo uma amoreira desenraizar-se e ser transportada até o mar (Lc 17:6).
‘A árvore da fé viva não cresce no coração, miraculosamente. Qual acontece na vida comum, o Criador dá tudo, mas não prescinde do esforço da criatura. […]
A maioria das pessoas admite que a fé constitua milagrosa auréola doada a alguns espíritos privilegiados pelo favor divino.
Isso, contudo, é um equívoco de lamentáveis consequências.
A sublime virtude é construção do mundo interior, em cujo desdobramento cada aprendiz funciona como orientador, engenheiro e operário de si mesmo.’
Transportar montanhas e árvores, por ação da fé, são simbolismos usualmente utilizados por Jesus com o intuito de fixar um ensinamento. Não devem, pois, serem considerados literalmente.
‘[…] As montanhas que a fé desloca são as dificuldades, as resistências, a má vontade, em suma, com que se depara da parte dos homens, ainda quando se trate das melhores coisas. Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas são outras tantas montanhas que barram o caminho a quem trabalha pelo progresso da Humanidade. A fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas, que nas grandes. Da fé vacilante resultam a incerteza e a hesitação de que se aproveitam os adversários que se têm de combater; essa fé não procura os meios de vencer, porque não acredita que possa vencer.”
O Mestre demonstra que a verdadeira fé, encontrando solo fértil para recebê-la e desenvolvê-la, já tem poder. Contudo, a fé não se desenvolve sem esforço próprio, trabalho edificante, consciência, estudo, racionalidade, exercício do livre-arbítrio e a aplicação dos meios adequados à sua obtenção.
Á medida que a exercitamos a fé, começamos a ver os seus resultados, porquanto ela se fortalece e vai crescendo até que possa chegar ao ponto de remover o que achamos ser impossível de solucionar.
Por fim, reflitamos a linda mensagem do Espírito Meimei, em “Confia sempre”, que diz:
“Não percas a tua fé entre as sombras do mundo.
Ainda que os teus pés estejam sangrando, segue para frente, erguendo-te por luz celeste acima de ti mesmo.
Crê e trabalha.
Esforça-te no bem e espera com paciência.
Tudo passa e tudo se renova na Terra, mas o que vem do Céu permanecerá.
De todos os infelizes, os mais desditosos são os que perderam a confiança em Deus e em si mesmos, porque o maior infortúnio é sofrer a privação da fé e prosseguir vivendo.
Eleva, pois, o teu olhar e caminha.
Luta e serve.
Aprende e adianta-te.
Brilha a alvorada além da noite.
Hoje, é possível que a tempestade te amarfanhe o coração e te atormente o ideal, aguilhoando-te com a aflição ou ameaçando-te com a morte.
Não te esqueças, porém, de que amanhã será outro dia…”
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA.
EMMANUEL (Espírito); psicografado por Francisco Cândido Xavier. Fonte viva. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2020.
EMMANUEL (Espírito); psicografado por Francisco Cândido Xavier. Vinha de luz. 26ª Edição. Rio de Janeiro/RJ: Federação Espírita Brasileira, 2007.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II: orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.