O “Setembro Amarelo” é dedicado à prevenção do suicídio, sendo comemorado no dia 10, data escolhida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2003, para chamar a atenção dessa questão, em que várias organizações, instituições, entidades e iniciativas beneficentes e sociais promovem campanhas de conscientização para a prevenção do suicídio.
As causas do suicídio são variadas: transtornos mentais, depressão, dependência química e de drogas, esquizofrenia, alcoolismo, etc.
Em outras circunstâncias, o suicídio acontece de maneira impulsiva diante de algumas situações impactantes e inesperadas da vida, como final de relacionamentos, perda de pessoas queridas, abusos ou mesmo crises financeiras. O suicídio também é comum em pessoas que sofrem discriminação e ações de preconceitos.
Importante destacar que podemos colaborar na prevenção do suicídio, colocando-se à disposição de quem necessita de ajuda, muitas vezes com comportamento nem sempre percebido pelas demais pessoas.
Devemos cuidar da saúde mental, assim como do corpo.
Testemunho com um amigo
O meu amigo sofria de profunda depressão por longo tempo.
Não raro, éramos chamados em seu auxílio para levar palavras de consolo e de bom ânimo para tentar mudar o seu estado interior, principalmente da alma.
Lidar com pessoa deprimida requer certo tato e entendimento da situação em que ela se encontra, pois tudo parece ser real e sem solução, causando tremendo sofrimento e achando que a vida não tem mais sentido. Há um grande conflito existencial.
O socorre imediato é muito importante e proporciona algum alívio, mas logo os pensamentos ruins e fixos retornam, dominando a mente.
Certo dia, levei o meu amigo a um Centro Espírita para ele ouvir a palestra, receber passe e ter atendimento fraterno, inclusive de desobsessão.
Ao ouvir a palestra, imaginei que ela tinha sido encomendada especialmente para o meu amigo. Falei comigo mesmo: esta é a ajuda do céu para o meu amigo.
Quando olhei para o lado, ele não estava prestando a atenção e os ensinamentos e os esclarecimentos não o alcançaram. A ideia fixa e a obsessão não o deixavam prestar a atenção em nada.
Em outro momento bem depois, ele tentou o suicídio em sua casa. Como uma providência divina, a esposa dele recebeu um “alerta do Céu” que o impediu de cometer aquele ato.
A sua esposa nos avisou e fomos em seu socorro. Conversamos muito até controlar a situação.
Novamente, levei o meu amigo a outro Centro Espírita para continuar o tratamento de desobsessão.
Depois do atendimento fraterno, ele não parecia muito melhor.
Saindo do Centro Espírita, comecei a conversar com ele. Era mais uma maneira de tentar controlar o seu ânimo de suicídio.
Falei para ele:
– Se você acha que com o suicídio os seus sofrimentos vão acabar, é puro engano, pois o Espírito é imortal e a vida continua, o que acaba é o corpo físico. Eles vão continuar e serão ainda maiores com o seu suicídio.
– Se você acha que com o suicídio vai esquecer tudo, isso não ocorrerá, porquanto é exatamente o contrário; depois da morte do corpo físico, você recuperará a memória do passado e dessa existência, ou seja, não vai esquecer nada, pelo contrário, vai lembrar de tudo.
– Acabar com a sua vida, prematuramente, é contra a lei de Deus e isso terá consequências na sua vida espiritual.
Depois dessas palavras, ele me olhou e ficou muito pensativo e senti que tudo aquilo havia tocado profundamente o seu interior.
Foi tão impactante para ele que, naquele momento, comecei a sentir uma perturbação espiritual, como querendo me atingir por ter dito aquelas palavras ao meu amigo.
De imediato, comecei a rezar sem parar e conversando mentalmente com o suposto Espírito obsessor, dizendo a ele que comigo não. Não adiantaria ele tentar me perturbar, pois eu tinha Deus e o Mestre Jesus ao meu lado. Disse também que o meu Anjo da Guarda e os Espíritos benfeitores e familiares estavam comigo.
Depois de uma hora de orações, senti alívio com o fim daquela perturbação espiritual, como se aquele Espírito obsessor do meu amigo havia me deixado em paz.
Esse fato, marcou-me muito!
Sempre que posso, dou o meu testemunho como uma forma de ajudar àqueles que estão em profundo sofrimento.
O meu amigo não tentou mais o suicídio.
Em um mundo extremamente materialista, precisamos buscar uma maior espiritualização. Buscar a Deus e a Jesus no coração e na alma, pois Ele é a força, a esperança, a confiança e o consolo para as nossas aflições e tribulações para superar as provas e expiações dessa vida.
A partir dessa postagem, colocaremos alguns textos para melhor entender a questão do suicídio.
Do “Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita”, Livro IV: “O Consolador Prometido por Jesus”, Módulo II: “A morte e seus mistérios”, no Roteiro 2: “Mortes prematuras”, no item 3, extraímos:
“3. Suicídio
As causas alegadas para cometer o suicídio são várias. Em geral, indicam desconhecimento do valor que as provações representam no mecanismo de reajuste da consciência culpada perante as leis de Deus, e, também, declarada desinformação quanto à continuidade da vida no além-túmulo.
Analisemos o seguinte conjunto de ideias, retirado, respectivamente, de O evangelho segundo o espiritismo e de O livro dos espíritos.
» A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as ideias materialistas, numa palavra, são os maiores incitantes ao suicídio: produzem a covardia moral. Quando se veem homens de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçarem por provar aos que os ouvem ou leem que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão tentando convencê-los de que, se são infelizes, o melhor que podem fazer é matar-se? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa consequência? Que compensação podem oferecer-lhes? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada. […]. 8
» A propagação das ideias materialistas é, pois, o veneno que inocula a ideia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se fazem seus defensores assumem terrível responsabilidade. Com o Espiritismo a dúvida já não é possível, modificando-se, portanto, a visão que se tem da vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente para além do túmulo, mas em condições muito diversas. Daí a paciência e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; daí, numa palavra, a coragem moral. 8
» […] Deus ajuda aos que sofrem, e não aos que não têm força nem coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes os que as suportam sem se queixar, porque serão recompensados! 9
» O suicídio não apaga a falta. Ao contrário, em vez de uma, haverá duas.
Quando se teve a coragem de praticar o mal, é preciso tê-la também para lhe sofrer as consequências. Deus é quem julga e, algumas vezes, conforme a causa, pode abrandar os rigores de sua justiça. 10
As consequências do suicídio são muito diversas. Não há penas fixadas e, em todos os casos, são sempre relativas às causas que o produziram. Há, porém, uma consequência à qual o suicida não pode escapar: o desapontamento. Ademais, a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias. Alguns expiam sua falta imediatamente, outros em nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam. 11
» De fato, […] os efeitos do suicídio não são idênticos. Há, porém, os que são comuns a todos os casos de morte violenta e que resultam da interrupção brusca da vida. Isto se deve principalmente à persistência mais prolongada e tenaz do laço que une o Espírito ao corpo, já que esse laço se encontra em todo o seu vigor no momento em que é rompido, enquanto na morte natural ele se enfraquece gradualmente e muitas vezes se desfaz antes mesmo que a vida se haja extinguido completamente. As consequências deste estado de coisas são o prolongamento da perturbação espiritual, sucedendo um período de ilusão em que o Espírito, durante mais ou menos tempo, julga pertencer ainda ao número dos vivos [encarnados]. 12
O suicídio pode ser classificado como direto ou indireto, ou consciente em inconsciente.
O suicídio direto, independentemente da causa geradora, é precedido de um planejamento arquitetado, às vezes, em nível de detalhes: ‘No suicídio intencional, sem as atenuantes da moléstia ou da ignorância, há que considerar não somente o problema da infração ante as Leis divinas, mas também o ato de violência que a criatura comete contra si mesma, através da premeditação mais profunda, com remorso mais amplo.’ 13
Emmanuel prossegue esclarecendo a respeito das consequências do suicídio direto:14
Atormentada de dor, a consciência desperta no nível de sombra a que se precipitou, suportando compulsoriamente as companhias que elegeu para si própria, pelo tempo indispensável à justa renovação. Contudo, os resultados não se circunscrevem aos fenômenos de sofrimento íntimo, porque surgem os desequilíbrios consequentes nas sinergias do corpo espiritual, com impositivos de reajuste em existências próximas. […] Ser-nos-á fácil, desse modo, identificá-los, no berço em que repontam, entremostrando a expiação a que se acolhem. Os que se envenenaram, conforme os tóxicos de que se valeram, renascem trazendo as afecções valvulares, os achaques do aparelho digestivo, as doenças do sangue e as disfunções endocrínicas, tanto quanto outros males de etiologia obscura; os que incendiaram a própria carne amargam as agruras da ictiose ou do pênfigo; os que se asfixiaram, seja no leito das águas ou nas correntes de gás, exibem os processos mórbidos das vias respiratórias, como no caso do enfisema ou dos cistos pulmonares; os que se enforcaram carreiam consigo os dolorosos distúrbios do sistema nervoso, como sejam as neoplasias diversas e a paralisia cerebral infantil; os que estilhaçaram o crânio ou deitaram a própria cabeça sob rodas destruidoras, experimentam desarmonias da mesma espécie, notadamente as que se relacionam com o cretinismo, e os que se atiraram de grande altura reaparecem portando os padecimentos da distrofia muscular progressiva ou da osteíte difusa. Segundo o tipo de suicídio, direto ou indireto, surgem as distonias orgânicas derivadas, que correspondem a diversas calamidades congênitas, inclusive a mutilação e o câncer, a surdez e a mudez, a cegueira e a loucura, a representarem terapêutica providencial na cura da alma.
No suicídio indireto o atentado contra a própria vida ocorre em decorrência dos comportamentos e hábitos desenvolvidos pelo indivíduo, os quais, de uma forma ou de outra, lesam a saúde física, psíquica, ou ambas, ao longo dos anos. Enquadram nesta categoria todos os vícios, desde os chamados lícitos ou legalmente tolerados, e os ilícitos (drogatização por substâncias psicoativas), destituídos do apoio da lei. Os graves processos obsessivos e enfermidades mentais severas fazem parte dessa classificação, uma vez que o indivíduo não tem mais domínio sobre si mesmo, sobre os seus pensamentos e atos.
Não existem dúvidas sobre os efeitos produzidos pela dependência de drogas ilícitas no organismo físico e na mente do Espírito. A utilização sistemática de substâncias consideradas lícitas, entretanto, apresenta consequências danosas de pequena, média ou grande magnitude, conforme o caso, as quais, em geral, não são seriamente consideradas pelos usuários. Na verdade, o uso de drogas toleradas pela lei representa terrível armadilha à saúde física e mental, sobretudo se o usuário dispõe de algum esclarecimento intelectual e espiritual. Daí a existência de inúmeras campanhas educativas a respeito das consequências do tabagismo, do alcoolismo, do sexo irresponsável, da gula desenfreada, entre outros. Todo cuidado é pouco, pois, nessa situação, não é incomum Espíritos aportarem no mundo espiritual como suicidas.
Por fraqueza moral, esses Espíritos ingeriram ou absorveram tóxicos considerados permissíveis, durante o período da existência física, não ponderando seriamente, contudo, sobre os efeitos dessas substâncias na produção de lesões que debilitaram o corpo físico, predispondo-o a doenças não programadas, antecipando, dessa forma, o tempo programado para a desencarnação. Isto sem considerar os maus exemplos que fornecem e os sofrimentos que produzem nas pessoas queridas. Analisemos, a propósito, este depoimento do Espírito Joaquim Dias: 15
Alcoólatra! Que outra palavra existirá na Terra, encerrando consigo tantas potencialidades para o crime? O alcoólatra não é somente o destruidor de si mesmo. É o perigoso instrumento das trevas, ponte viva para as forças arrasadoras da lama abismal. O incêndio que provoca desolação aparece numa chispa. O alcoolismo que carreia a miséria nasce num copinho. De chispa em chispa, transforma-se o incêndio em chamas devoradoras. De copinho a copinho, o vício alcança a delinquência. […].
Quanto ao suicídio, produzido por obsessão grave, inserimos, em seguida, trechos de significativa mensagem presente no livro Vozes do grande além, que relata a triste experiência vivenciada pelo Espírito Hilda. A mensagem fornece preciosos ensinamentos a respeito do assunto. 16
Amigos: Há duas palavras com significação muito diferente na Terra e na Vida Espiritual. Uma delas é “consciência”, a outra é “responsabilidade”. No plano físico, muitas vezes conseguimos sufocar a primeira e iludir a segunda temporariamente, mas, no campo das Verdades Eternas, não será possível adormecer ou enganar uma e outra. A consciência revela-nos tais quais somos, seja onde for, e a responsabilidade marca-nos a fronte com os nossos merecimentos, culpas ou compromissos. Enquanto desfrutais o aprendizado na experiência humana, acautelai-vos na conceituação dessas duas forças, porque o pensamento é a energia coagulante de nossas aspirações e desejos. Por isso, não fugiremos aos resultados da própria ação. Fala-vos humilde companheira que ainda sofre, depois de aflitiva tragédia no suicídio, alguém que conhece de perto a responsabilidade na queda a que se arrojou, infeliz. O pensamento delituoso é assim como um fruto apodrecido que colocamos na casa de nossa mente. De instante a instante, a corrupção se dilata e atraímos em nosso desfavor todos aqueles elementos que se afinam com a nossa invigilância e que se sentem garantidos por nossa incúria, presidindo-nos a perturbação que fatalmente nos arrasta a grande perda. […] Agora, que se me refazem as energias, recebi a graça de acordar nos amigos encarnados a noção de “responsabilidade” e “consciência”, no campo das imagens que nós mesmos criamos e alimentamos, serviço esse a que me consagrei, até que novo estágio entre os homens me imponha a recapitulação total da prova em que vim a desfalecer. É por essa razão que terminamos as nossas frases despretensiosas, lembrando a vós outros que o pensamento deplorável, na vida íntima, é assim como o detrito que guardamos irrefletidamente em nosso templo doméstico. Se somos atenciosos para com a higiene exterior, usando desinfetantes e instrumento de limpeza, assegurando a saúde e a tranquilidade, movimentemos também o trabalho, a bondade e o estudo, contra a dominação do pensamento infeliz, logo que o pensamento infeliz se esboce levemente na tela de nossos desejos imanifestos. Cumpramos nossas obrigações, visitemos o amigo enfermo, atendamos à criança desventurada, procuremos a execução de nossas tarefas, busquemos o convívio do livro nobre, tentemos a conversação robusta e edificante, refugiemo-nos no santuário da prece e devotemo-nos à felicidade do próximo, instalando-nos sob a tutela do bem e agindo sempre contra o pensamento insensato, porque, através dele, a obsessão se insinua, a perseguição se materializa, e, quando acordamos, diante da própria responsabilidade, muitas vezes a nossa consciência chora tarde demais.”
Referências
1. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008, questão 165– comentário, p. 166.
2. KARDEC, Allan. Questão 358, p. 268.
3. _____. Questão 359, p. 268.
4. XAVIER, Francisco Cândido. Ceifa de luz. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 16, p. 70.
5. _____. Religião dos espíritos. Pelo Espírito Emmanuel. 21. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Item: doenças escolhidas, p. 233 e 235.
6. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Op. Cit., questão 199, p. 184.
7. _____. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. V, item 21, p. 131-133.
8. _____. Item 16, p. 123-124.
9. _____. O livro dos espíritos. Op. Cit., questão 946, p. 573.
10. _____. Questão 948, p. 574.
11. _____. Questão 957, p. 578-579.
12. _____. Questão 957 – comentário, p. 579.
13. XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos espíritos. Op. Cit. Item: Suicídio, p. 181.
14. _____. p. 181-183.
15. XAVIER, Francisco Cândido. Vozes do grande além. Diversos Espíritos, 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. cap. 30 (mensagem do Espírito Joaquim Dias), p. 121-122.
16. _____. Cap. 39 (mensagem do Espírito Hilda), p. 163-166.
17. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Op. Cit. Cap. V, item 28, p.144-145.
18. XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos espíritos. Op. Cit. Item: sofrimento e eutanásia, 87-89.”
Bibliografia:
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (organizadora). Estudo aprofundado da Doutrina Espírita: O Consolador Prometido por Jesus. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.