A palavra egoísta qualifica aquele que trata somente dos seus interesses, desejos e necessidades. O egoísta demonstra amor excessivo ao bem próprio, sem compartilhar com os interesses e as necessidades alheias.
Uma pessoa egocêntrica se considera o centro das atenções e das atividades, em exagerada exaltação da própria personalidade.
Na pessoa egocêntrica, a imaginação e o pensamento mantêm-se ocupados com o próprio “eu” e os seus interesses, sendo incapaz de se colocar no lugar de outro.
Além da necessidade de ser o foco das atenções, a pessoa egocêntrica preocupa-se somente com a sua opinião e não costuma ter a capacidade de sentir a dor do outro. O mundo gira ao seu redor, o resto é desinteressante. Uma das consequências das atitudes egocêntricas conduz a que os outros suportem as próprias dificuldades sem ajuda.
Na infância, o egocentrismo é considerado atitude psíquica normal, principalmente pela ausência de distinção entre as realidades pessoal e do mundo, ou seja, a ideia de “eu” se confunde com a realidade do mundo. A criança vê tudo como uma extensão de si mesma sem conhecimento da realidade do mundo que habita.
Na adolescência, há uma maior percepção do mundo, mas as pessoas não são maduras o suficiente para compreender a diversidade nas perspectivas dos outros.
À medida que crescemos e amadurecemos, passamos a integrar outras percepções à visão de mundo, afastando-se do egocêntrico. Contudo, alguns não conseguem passar dessa fase e incorporam o egocentrismo em sua personalidade adulta. Nesse sentido, a educação no lar contribui para o aumento ou a redução desse sentimento.
As pessoas egocêntricas evidenciam algumas características: fala somente de si; utilizam constantemente a primeira pessoa do singular; sobressaem atitudes exuberantes, ambiciosas e confiantes; valorizam-se excessivamente, com sentimento de grandeza na tentativa de ser alguém que não é ou possuir talentos que não tem; necessidade de ser lisonjeada o tempo todo; exibicionismo em suas ações, falas e pensamentos; ser protagonista dos acontecimentos, colocando-se em lugar de destaque, ou, quando convém, de vítima; projetam a culpa nos outros, em algo ou a outros fatores, para compensar seus erros, fracassos, dificuldades e defeitos; distorce a realidade para a sua necessidade; oportunismo para estar ao lado de quem acredita ser admirado, importante ou famoso, em especial para obter algum benefício; incapacidade de reconhecer os sentimentos alheios, com falta de empatia para compreender seus sentimentos, percepções, dores ou opiniões; necessidade de controlar os outros para que eles se encaixem em suas narrativas idealizadas; não aceitar críticas; incapaz de fazer autocríticas; não ter vínculos afetivos íntimos; dentre outras tantas.
Assim, o egoísmo é causa para diferentes tipos de males pelo amor exagerado aos próprios interesses a despeito dos de outrem, cujos débitos serão efeitos nessa vida ou em existências futuras.
Em “O Livro dos Espíritos”, na questão 913, os Espíritos Superiores ensinam: “Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades”.
Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, esclarece: “O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem. Digo: coragem, porque dela muito mais necessita cada um para vencer-se a si mesmo, do que para vencer os outros. Que cada um, portanto, empregue todos os esforços a combatê-lo em si, certo de que esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é o causador de todas as misérias do mundo terreno. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens.”
O egoísmo e o orgulho podem se transformar em excesso de amor-próprio, sentimento de prazer, vaidade, ostentação, arrogância e soberba, provocando satisfação do próprio valor e mérito, acreditando-se ser melhor ou mais importante do que os outros.
Em “Obras Póstumas”, na Primeira Parte, em “O egoísmo e o orgulho”, Allan Kardec ensina:
“É bem sabido que a maior parte das misérias da vida tem origem no egoísmo dos homens. Desde que cada um pensa em si antes de pensar nos outros e cogita antes de tudo de satisfazer aos seus desejos, cada um naturalmente cuida de proporcionar a si mesmo essa satisfação, a todo custo, e sacrifica sem escrúpulo os interesses alheios, assim nas mais insignificantes coisas, como nas maiores, tanto de ordem moral, quanto de ordem material. Daí todos os antagonismos sociais, todas as lutas, todos os conflitos e todas as misérias, visto que cada um só trata de despojar o seu próximo.
O egoísmo, por sua vez, se origina do orgulho. A exaltação da personalidade leva o homem a considerar-se acima dos outros. Julgando-se com direitos superiores, melindra-se com o que quer que, a seu ver, constitua ofensa a seus direitos. A importância que, por orgulho, atribui à sua pessoa, naturalmente o torna egoísta.
O egoísmo e o orgulho nascem de um sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos têm sua razão de ser e sua utilidade, porquanto Deus nada pode ter feito inútil. Ele não criou o mal; o homem é quem o produz, abusando dos dons de Deus, em virtude do seu livre-arbítrio. (…) A exageração é o que o torna mau e pernicioso. O mesmo acontece com todas as paixões que o homem frequentemente desvia do seu objetivo providencial. Ele não foi criado egoísta, nem orgulhoso por Deus, que o criou simples e ignorante; o homem é que se fez egoísta e orgulhoso, exagerando o instinto que Deus lhe outorgou para sua conservação.
Não podem os homens ser felizes, se não viverem em paz, isto é, se não os animar um sentimento de benevolência, de indulgência e de condescendência recíprocas; numa palavra: enquanto procurarem esmagar-se uns aos outros. A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e todos os deveres sociais; uma e outra, porém, pressupõem a abnegação. Ora, a abnegação é incompatível com o egoísmo e o orgulho; logo, com esses vícios, não é possível a verdadeira fraternidade, nem, por conseguinte, igualdade, nem liberdade, dado que o egoísta e o orgulhoso querem tudo para si. Eles serão sempre os vermes roedores de todas as instituições progressistas; enquanto dominarem, ruirão aos seus golpes os mais generosos sistemas sociais, os mais sabiamente combinados. (…)
Para que os homens vivam na Terra como irmãos, não basta se lhes deem lições de moral; importa destruir as causas de antagonismo, atacar a raiz do mal: o orgulho e o egoísmo. Essa a chaga sobre a qual deve concentrar-se toda a atenção dos que desejem seriamente o bem da Humanidade. Enquanto subsistir semelhante obstáculo, eles verão paralisados todos os seus esforços, não só por uma resistência de inércia, como também por uma força ativa que trabalhará incessantemente no sentido de destruir a obra que empreendam, por isso que toda ideia grande, generosa e emancipadora arruína as pretensões pessoais. (…)
Identifique-se o homem com a vida futura e completamente mudará a sua maneira de ver (…). Se lançar os olhos para o alto, para uma felicidade a que ninguém pode obstar, interesse nenhum se lhe deparará em oprimir a quem quer que seja e o egoísmo se lhe torna carente de objeto. Todavia, restará o estimulante do orgulho.
A causa do orgulho está na crença, em que o homem se firma, da sua superioridade individual. Ainda aí se faz sentir a influência da concentração dos pensamentos sobre a vida corpórea. Naquele que nada vê adiante de si, atrás de si, nem acima de si, o sentimento da personalidade sobrepuja e o orgulho fica sem contrapeso.
A incredulidade não só carece de meios para combater o orgulho, como o estimula e lhe dá razão, negando a existência de um poder superior à Humanidade. O incrédulo apenas crê em si mesmo; é, pois, natural que tenha orgulho. Enquanto que, nos golpes que o atingem, unicamente vê uma obra do acaso e se ergue para combatê-la, aquele que tem fé percebe a mão de Deus e se submete. Crer em Deus e na vida futura é, conseguintemente, a primeira condição para moderar o orgulho; porém, não basta. Juntamente com o futuro, é necessário ver o passado, para fazer ideia exata do presente.
Para que o orgulhoso deixe de crer na sua superioridade, cumpre se lhe prove que ele não é mais do que os outros e que estes são tanto quanto ele; que a igualdade é um fato e não apenas uma bela teoria filosófica; que estas verdades ressaltam da preexistência da alma e da reencarnação. (…)
Provando que os Espíritos podem renascer em diferentes condições sociais, quer por expiação, quer por provação, a reencarnação ensina que, naquele a quem tratamos com desdém, pode estar um que foi nosso superior ou nosso igual noutra existência, um amigo ou um parente. Se o soubesse, o que com ele se defronta o trataria com atenções, mas, nesse caso, nenhum mérito teria; por outro lado, se soubesse que o seu amigo atual foi seu inimigo, seu servo ou seu escravo, sem dúvida o repeliria. Ora, não quis Deus que fosse assim, pelo que lançou um véu sobre o passado. Deste modo, o homem é levado a ver, em todos, irmãos seus e seus iguais, donde uma base natural para a fraternidade; sabendo que pode ser tratado como haja tratado os outros, a caridade se lhe torna um dever e uma necessidade fundados na própria Natureza.”
Por tudo isso, devemos combater o egoísmo, o egocentrismo e o orgulho, para viver em paz consigo e perante os seus semelhantes. Procure dominar o egoísmo, as paixões, o ódio, a inveja, o ciúme e o orgulho. Purifique o seu coração, suprindo-o de bons sentimentos, praticando o bem sempre com caridade. Viva em paz com a sua consciência, que o isentará de qualquer sofrimento moral.
Libertando-se do egoísmo, será como na resposta da questão 726, em “O Livro dos Espíritos”: “Vistam o indigente; consolem o que chora; trabalhem pelo que está enfermo; sofram privações para alívio dos infelizes e então suas vidas serão úteis e, portanto, agradáveis a Deus. Sofrer alguém voluntariamente, apenas por seu próprio bem, é egoísmo; sofrer pelos outros é caridade: tais os preceitos do Cristo.”
Bibliografia:
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. Obras Póstumas. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2021.