Essa reflexão trata de identificar, quanto aos aspectos morais, uma das razões por que algumas pessoas param no conhecimento adquirido e não o aplicam em suas vidas.
Pensadores escreveram que o conhecimento sem a prática não serve para nada, é inútil ou mera informação.
Nesse contexto, para colher os possíveis ensinamentos, citaremos duas passagens evangélicas que servirão de apoio à reflexão:
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertarás.” (João, 8: 32)
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mateus, 22: 37-40)
No Evangelho de João, um dos equívocos de interpretação relaciona-se à palavra verdade, em que pessoas julgam ser as delas, ou dos homens, e não a de Deus: verdade eterna, imutável e infinita. Outro equívoco está na palavra libertação: Que libertação é essa? Qual o seu objetivo? O que é libertado? Como se processa essa libertação? A interpretação não pode ser literal e tampouco isolada dos demais ensinamentos do Mestre Jesus.
No Evangelho de Mateus, a verdade divina ensina a lei maior do amor, o amor fraterno universal exemplificado pelo Cristo, que não deixa dúvida de interpretação quanto à tarefa a ser realizada por todos nós.
A esse respeito, o Espiritismo adota o lema “Fora da caridade não tem salvação”, em que caridade representa o amor em ação para com o próximo e salvação a libertação da alma, do Espírito encarnado, ou seja, a prática do amor ensinada por Jesus para com o nosso semelhante é uma verdade divina que liberta a alma.
Voltando à reflexão, muitos até possuem os entendimentos morais das citadas passagens evangélicas, mas não costumam colocá-los em prática.
Uma razão seria: mais fácil praticar um conhecimento da Ciência do que praticar um ensinamento moral e ter que enfrentar você mesmo para mudar o comportamento.
Temos coragem para muitas coisas, mas, quando se trata de combater no nosso interior, melhor empreender uma luta externa, onde encontraremos as desculpas para justificar os equívocos, erros, falhas e vícios, postergando a introspectiva que devemos realizar para mudar o comportamento e corrigir o rumo na vida.
É a dificuldade para enfrentar a luta íntima contra as próprias imperfeições, pois exige ações de autodescobrimento, autoconhecimento, vontade, consciência de si mesmo, livre-arbítrio e responsabilidade.
O progresso moral acompanha o progresso intelectual, mas nem sempre o segue imediatamente. O progresso moral segue o intelectual quando o Espírito desenvolve o seu livre-arbítrio e começa a compreender o bem e o mal, realizando escolhas corretas e tendo consciência das responsabilidades dos seus atos.
Enquanto o Espírito não desenvolve o senso moral, pode acontecer de a inteligência estar a serviço da prática do mal. A moral e a inteligência são duas forças que só com o tempo chegam a se equilibrar.
A moral envolve valores que regem o comportamento diante das normas instituídas pela sociedade ou pelo grupo social, determinando o sentido moral de cada indivíduo em suas relações saudáveis e harmoniosas. Busca o bem-estar social.
Entretanto, para ser efetivamente bom, o ser humano precisa vivenciar a lei maior do amor: bem é tudo o que é conforme a lei de Deus, e mal é tudo o que dela se afasta.
A consciência moral decorre da estruturação do mundo moral no íntimo do ser, pois o indivíduo moralizado é alguém que considera o sentido da vida dentro de um contexto maior, que não se resume apenas ao atendimento às necessidades de sobrevivência biológica da espécie.
Para que um ato seja considerado efetivamente moral é necessário que seja voluntário, espontâneo, livre, consciente, intencional, jamais imposto. Revestido dessas características, o ato moral apresenta responsabilidade e compromisso.
Responsável é aquele que responde pelos seus atos, isto é, a pessoa consciente e livre assume a autoria do seu ato, reconhecendo-o como seu e respondendo pelas suas consequências.
Nesse contexto, em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, na questão 791, verificamos que uma civilização estará regenerada quando desaparecer os males que ela mesma haja produzido, ou seja, quando a moral estiver tão desenvolvida quanto a inteligência, pois o fruto não pode surgir antes da flor.
Cita-se, também, a resposta à questão 905, em “O Livro dos Espírito”: “A moral sem as ações é o mesmo que a semente sem o trabalho. De que vos serve a semente, se não a fazeis dar frutos que vos alimentem? Grave é a culpa desses homens, porque dispunham de inteligência para compreender. Não praticando as máximas que ofereciam aos outros, renunciaram a colher-lhes os frutos”.
Para vencer o obstáculo de conhecer a verdade e não praticar o verdadeiro amor, nada melhor do que uma reforma íntima, a luta contra as próprias imperfeições, por meio do autodescobrimento e autoconhecimento, para tornarmos mais conscientes de nós mesmos e dos nossos recursos latentes, libertando-nos dos sentimentos inferiores contrários às leis de Deus, em razão da própria evolução, mediante esforço, trabalho edificante, prática do amor e da caridade.
Dominados pelo materialismo, damos asas ao egoísmo, ao orgulho, à vaidade, dentre outros sentimentos inferiores que evidenciam a pequenez espiritual em que vivemos, ludibriando-nos na posse de bens materiais e no prazer da riqueza e do poder, tendo como roteiro de vida o “eu”.
O conhecimento da verdade e a prática do verdadeiro amor são essenciais para se empreender caminhadas sublimes de aprendizados, serviços e progressos.
Conhecendo a verdade divina, ela iluminará a alma, criando condições para se libertar das impurezas e dos sentimentos inferiores, despertando-a para as coisas de Deus. Entretanto, o que realmente impulsionará a evolução moral e espiritual é a prática do verdadeiro amor, ensinado e exemplificado pelo Mestre Jesus.
Não adianta conhecer a verdade divina se não a praticar com caridade. Seria algo semelhante ao que disse Tiago: “… a fé, se não se traduzir em obras, é morta em si mesma” (Tiago, 2:17). Por esse motivo, o Espiritismo tem por lema “fora da caridade não tem salvação”, em que todos os deveres do homem se resumem nessa máxima.
A libertação pela verdade é longo processo pelo trabalho incessante na prática do amor ao próximo como a si mesmo. É a prática do puro amor, sem esperar retribuição, reconhecimento e gratidão. É o amor pelo amor, que perdoa, faz caridade, tem misericórdia e piedade, não é orgulhoso e tampouco egoísta.
Não basta amar os que nos amam, fazer bem aos que nos fazem bem. A lógica do amor não é retributivo, onde somente damos amor a quem nos deu amor, como uma transação comercial, mas sim doar amor em abundância, o amor fraterno universal que irradia e multiplica.
Do amor ao próximo até amar os inimigos, mede-se a evolução moral, donde decorre o grau da perfeição, como disse Jesus: “sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai celestial”.
Com fé em Deus, confiança no amor do Cristo e entregando-se ao trabalho de renovação espiritual, com bom ânimo, alcançaremos a força espiritual necessária para superar as montanhas de dificuldades que surgem no caminho.
Iluminados pela verdade e praticando o amor fraterno universal, seremos instrumentos divino, cooperando na obra de elevação moral e espiritual do mundo.
O momento atual é de perseverança e vigilância para não se desviar do caminho do bem e do amor.
Permanecendo na Palavra, conhecendo a verdade divina, que ilumina e liberta a alma, e praticando o amor ensinado e exemplificado pelo Cristo, a perseverança e a vigilância surgem como essenciais preceitos de conduta nas lutas renovadoras, das quais somos convocados a fazer as escolhas mais acertadas em prol dos mais elevados sentimentos de fraternidade universal, pela prática da caridade para com nós mesmos e para com os nossos semelhantes.
O Espiritismo como religião se preocupa com as consequências morais do seu ensino científico-filosófico, buscando na ética e na moral pregadas por Jesus os elementos que deverão nortear a conduta do ser humano em direção ao Criador.
Embora o Espiritismo não seja uma religião constituída, tradicional, estruturada com base em rituais, sacramentos, dogmas e classes sacerdotais, ele se preocupa com a atitude de vida e o proceder, buscando uma identificação com Deus, por meio de uma vida reta, digna e fraterna, e não através de atitudes exteriores, artificiais e mecanizadas.
Por tudo isso, ao conhecer a verdade que liberta a alma, pratique o verdadeiro amor para com você mesmo e o seu semelhante na busca da tão almejada perfeição a caminho do Pai. Não pare no conhecimento da verdade, vá em frente na sua ação amorosa!
Bibliografia
BIBLIA SAGRADA.
EMMANUEL (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier. O Consolador. 29ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
EMMANUEL (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Verdade e amor. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2015.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
ROCHA, Cecília (Organizadora). Estudo sistematizado da Doutrina Espírita: programa fundamental – Tomo I. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.