A cocriação humana em plano menor

Esta reflexão diz respeito a entendimentos da cocriação do ser humano em plano menor, com fundamentos extraídos da Codificação Espírita, de Allan Kardec, e das obras complementares que tratam da eterna criação do Universo, contando com a participação de inteligências divinas ligadas ao Criador para modelar os diversos sistemas da imensidão.

O Universo, em plena harmonia, mediante leis eternas, imutáveis e infinitas, cumpre os desígnios da inteligência suprema, cuja presença de Deus é percebida por suas obras, pois não há efeito sem causa, e todo efeito inteligente tem causa inteligente.

Para o Espiritismo, há solidariedade entre matéria e inteligência na propagação do pensamento do Criador Supremo sob a forma de fluido inteligente, que irradia e atua em todo o Universo, penetrando todas as partes da Criação. Isso porque, todos os seres do infinito e a natureza inteira encontram-se mergulhados no fluido cósmico universal. Tudo está conectado, compondo um todo solidário.

Por essa rede inteligente universal, Deus está em toda parte. Todos os elementos da criação estão em relação constante com o Criador Supremo, tornando-o onisciente de tudo o que se passa e supre a cada um o que lhe diz respeito.

O Espírito André Luiz, no livro “Evolução em dois mundos”, na Primeira parte sobre fluído cósmico, traz luz ao conhecimento de que as inteligências divinas ligadas ao Criador Supremo, ao seu comando e influxo, em perfeita fidelidade e comunhão, mergulhadas no plasma divino, cooperam na construção dos sistemas do Universo, convertendo-os em habitações cósmicas, por meio de um serviço de cocriação no plano maior, tornando-os também agentes colaboradores da Criação.

Essas Inteligências ligadas ao Criador, obedecendo às leis de Deus, podem formar ou cocriar, mas somente Deus é o Criador de toda a eternidade.

Em um plano menor, cada um de nós, também sob os desígnios de Deus, é importante para o todo, pois fazemos parte da construção universal e estamos mergulhados no mesmo oceano fluídico cósmico universal. Assimilando e expressando o pensamento do Criador, cada criatura é detentora de uma capacidade intrínseca de cocriação em um plano menor, inerente à faculdade de pensar, através da qual absorve a força emanante de Deus, moldando-a, à sua vontade, e influenciando, dessa forma, a própria criação.

Cocriar, em plano menor, é o poder que todos temos, segundo a lei universal, à semelhança das inteligências maiores, para cocriar, moldando ou plasmando mundos e moradas, de encarnados e desencarnados, que poderão ser habitações de luz, transformando todo mal de nossa autoria no bem que edifica pelo eterno princípio do amor divino, ou habitações de sombra, geradas por mentes desequilibradas ou criminosas mergulhadas na purgação inferior.

Jesus, como integrante da comunidade de Espíritos puros eleitos pelo Senhor supremo do Universo, Diretor angélico do orbe terrestre, é a mais perfeita expressão do verbo divino para a Terra, identificado com a sua misericórdia e sabedoria, desde a organização primordial do planeta.

Os valores divinos de Jesus são da mais alta hierarquia espiritual, que se fez carne como Enviado de Deus, representação do Pai junto ao rebanho dos filhos transviados do seu amor e da sua sabedoria. Jesus é o caminho, a verdade e a vida em direção ao Pai, exemplo de perfeição moral que a humanidade pode pretender, cuja doutrina é a mais pura expressão da lei divina.

Inseridos nos desígnios de Deus, temos que cumprir o determinismo divino na construção do nosso destino na busca da perfeição em pluralidade de existências e cooperar com a regeneração da humanidade, tendo Jesus como modelo e guia para as nossas condutas do dia a dia.

Nesse determinismo evolutivo, o Espírito imortal necessita adquirir todas as virtudes, sabedorias e aptidões pela prática do bem, do amor e da caridade, concorrendo para a execução dos propósitos divinos, no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais, em que cada um tem seu papel a desempenhar, sendo solidário coletivamente para o progresso geral.

Quanto à cocriação humana em um plano menor, em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, na questão 692, o Codificador pergunta: “Será contrário à lei da Natureza o aperfeiçoamento das raças animais e vegetais pela Ciência? Seria mais conforme a essa lei deixar que as coisas seguissem seu curso normal?” A resposta é: “Tudo se deve fazer para chegar à perfeição e o próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir seus fins. Sendo a perfeição a meta para que tende a Natureza, favorecer essa perfeição é corresponder às vistas de Deus.”

Em seguida, Kardec pergunta: “Mas, geralmente, os esforços que o homem emprega para conseguir a melhoria das raças nascem de um sentimento pessoal e não objetivam senão o acréscimo de seus gozos. Isto não lhe diminui o mérito?” A resposta é: “Que importa seja nulo o seu merecimento, desde que o progresso se realize? Cabe-lhe tornar meritório, pela intenção, o seu trabalho. Demais, mediante esse trabalho, ele exercita e desenvolve a inteligência e sob este aspecto é que maior proveito tira.”

O Espírito Miramez, no livro “Filosofia espírita”, na psicografia de João Nunes Maia, Volume XIV, Capítulo 29 – Uso da inteligência no aperfeiçoamento das raças –, comenta a questão 692 de “O Livro dos Espíritos”:

“Nunca será contrário às leis da natureza o uso da inteligência visando ao progresso, se a recebemos de Deus para que, sob a força do tempo, fôssemos cocriadores na Sua obra.

Jesus Cristo foi, igualmente, um portador da sabedoria divina, que veio nos ensinar como empregar todas as nossas possibilidades de servirmos de instrumentos para a nossa própria felicidade. Quantas coisas não foram descobertas pelos homens de Ciência, que, hoje, trazem a paz e o conforto para a humanidade? Porém, em tudo isso é preciso que se desenvolvam paralelamente os sentimentos de amor, no sentido de que a inteligência não se perca em caminhos sinuosos.

A vida enobrecida é luz para todas as direções. É justo que compreendamos o valor da inteligência e não a empreguemos em rotas contrárias ao bem comum. A Ciência, com o advento da Doutrina Espírita, pode tomar um banho de fraternidade, a fim de que a fé possa alcançar e dar força maior à esperança, para novos dias.

Não são contrários às leis naturais, nem o foram em tempo algum, os esforços dos homens em descobertas que elevem as coisas no respeito que pede a própria natureza. Compete a todos nós, do mundo espiritual, ajudar no que é devido para as descobertas que beneficiam a humanidade, e que os homens estejam à altura de receber as dádivas, sem despertar em seus corações sentimentos contrários à caridade.

A perfeição é uma meta de luz e, no que se refere aos homens, esses não devem esperar somente de Deus o progresso das coisas; necessário se faz que as mãos humanas se movimentem para o crescimento de todas as coisas. Tudo estamos fazendo para que o Evangelho caminhe na frente da inteligência, dando-lhe direção, em nome d’Aquele que é a vida.

Os grandes cientistas que estão no mundo ou que já passaram por ele, não vieram a este planeta por acaso; são, por vezes, missionários que devemos respeitar e orar por eles, pois às vezes, não lhes sobra oportunidade para a prática constante das atividades religiosas.

É necessário recordar que nada se perde na vida. Mesmo os que combatem a verdade, quando se aliam a ela, tornam-se gigantes na inspiração divina. Como exemplo, citamos o apóstolo Paulo, a quem se referiu Jesus, quando disse a Ananias: ‘Vai, porque esse é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos Filhos de Israel’ (Atos, 9:15).

Para sermos salvos de todas as tempestades da consciência, é preciso buscarmos a perfeição, e a perfeição está em sermos retos em tudo que possa nos acontecer.

E os que ouviram disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? (Lucas, 18:26)

Para sermos salvos, não é preciso irmos contra a natureza; basta acompanhá-la nos seus caminhos do progresso. Cada um pode cooperar nas suas mais difíceis operações de amor, onde a verdade não falta. O homem, ainda mais, tem o dever de trabalhar para a evolução das plantas e dos animais, naquilo que tange aos seus progressos, mas, é necessário discernir, pois somente a Deus pertence a vida.

A vida está em Deus. Nós outros, homens, animais e vegetais, somos filhos do Senhor. O trabalho dos homens para a perfeição de tudo e deles mesmos é norma divina, na divina função de enobrecer a própria vida.”

Portanto, em um plano menor, o ser humano participa da cocriação do Universo, cumprindo os desígnios de Deus na parte que lhe toca, sendo solidário para o progresso geral, moldando e plasmando mundo e moradas melhores.

As mãos humanas devem se movimentar para a evolução da Humanidade e do planeta Terra, mas como instrumento divino, principalmente, para o desenvolvimento do saber intelectual, da Ciência, do bem, do amor e da caridade na construção da fraternidade universal a caminho da perfeição, a que todos nós estamos destinados.

Autor: Juan Carlos Orozco

Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

EMMANUEL (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. A Caminho da Luz. 38ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.

EMMANUEL (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. O Consolador. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.

KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra da 5ª ed. francesa de 1869. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

LUIZ, André (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Evolução em dois mundos. 27ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

MIRAMEZ (Espírito); na psicografia de João Nunes Maia. Filosofia espírita: comentários às perguntas de “O Livro dos Espíritos”. Volume XIV. 1ª Edição. Belo Horizonte/MG. Editora Espírita Cristã Fonte Viva, 1990.

https://juancarlosespiritismo.blog/2019/10/17/cocriacao-cooperacao-em-planos-maior-e-menor/

https://juancarlosespiritismo.blog/2021/05/31/a-comunidade-dos-espiritos-puros/

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