Esta reflexão trata do santuário familiar como valiosa oportunidade de aprendizado e evolução, onde se encontram Espíritos amigos e desafetos, até mesmo inimigos do passado, para o progresso mútuo, o devido reajuste, pacificar antigos ressentimentos e selar a necessária reparação.
Quando nascemos, somos acolhidos pelo seio familiar, fruto do amor dos nossos pais e do planejamento reencarnatório delineado no plano espiritual. Neste santuário, como companheiros de viagem, vivenciamos todos os tipos de experiências.
Na convivência familiar, exercitamos os mais variados sentimentos de amor, fé, benevolência, compaixão, confiança, solidariedade, caridade, esperança, piedade, gratidão, respeito, fraternidade, perdão, tolerância, renúncia, sacrifício, união, dentre outros.
O conceito de família está associado ao grupo de pessoas que juntas formam a estrutura familiar, exercendo cada membro um papel diferente com deveres e responsabilidades entre pais, filhos e parentes.
Apesar do modelo familiar ter sofrido transformações, principalmente por diferenças culturais, a sua essência representa a base de uma sociedade, contribuindo para a evolução pessoal e de seus membros como um todo.
Na família, aprendemos os valores que levaremos para a nossa vida. Por este motivo, é importante ressaltar a família não apenas como grupo social, mas também como o núcleo que deve ter por base o amor e a união, ambiente que nos oferece oportunidades de aprendizado e evolução.
A família é organização de origem divina, como instrumento de convivência necessário aos ditames do aperfeiçoamento geral, sendo educandário valioso da alma para a edificação de um mundo melhor, porquanto a vulnerabilidade do bebê e a sua dependência dos cuidados dos adultos são indícios fortes de que a família é uma necessidade psicofísica do homem e, portanto, será difícil imaginar um sistema social sem essa instituição.
Para a Doutrina Espírita, temos as famílias constituídas por laços consanguíneos e por laços espirituais que permanecem unidas para sempre nos planos físico e espiritual.
Os laços de sangue não estabelecem necessariamente vínculos entre os Espíritos que encarnam numa mesma família. No seio familiar, podemos ter Espíritos simpáticos, ligados por relações anteriores que se traduzem por afeição recíproca na vida terrena, ou Espíritos completamente estranhos uns aos outros, divididos por antipatias igualmente anteriores que se expressam na Terra por mútuo antagonismo para servir de provação.
Os pais não criam os Espíritos dos filhos, pois estes preexistiam e foram criados por Deus. Os pais fornecem aos filhos a genética do corpo físico, cumprindo-lhes, no entanto, auxiliá-los no desenvolvimento intelectual e moral para fazê-los progredir.
A família espiritual é unida pela afeição, simpatia, semelhança das inclinações e felizes por estarem juntos. A reencarnação poderá, momentaneamente, separar seus membros, mas eles estarão sempre juntos em pensamento, trabalhando pelo mútuo adiantamento. Os mais adiantados auxiliam os retardatários a progredirem, porquanto surge o sentimento de amor imanente naqueles que estão na frente, no sentido de voltar ou ajudar os que se atrasaram, para que um dia todos se reúnam na grande família espiritual em retorno à “Casa do Pai”. Nenhuma ovelha do rebanho será perdida.
À medida que o ser humano ascende na escala evolutiva, absorve valores espirituais que lhe permitem estender o olhar para além do núcleo familiar. Consegue localizar Espíritos afins situados fora da sua família. Com este reconhecimento, iniciam-se ligações fraternas com diferentes grupos com os quais, no futuro, organizar-se-ão em aldeias, cidades e nações. Nessa direção, é desenvolvida a noção de família universal, ou de Humanidade destinada a se unir pelos laços de fraternidade universal.
A proposta de evolução não é gerar apego, mas promover o desapego entre os seres e ampliar a família humana e cósmica, no sentido de amor universal.
Assim, passamos a compreender a grande família unida por laços espirituais no contexto de fraternidade universal e de amor universal, que vai além das condições biológicas, definidas pela herança genética.
O verdadeiro e mais puro amor é o fraterno, e, quando ele se expande, alcança o estágio de amor fraterno universal. O amor que se constrói a partir das relações afetivas é gerado por experiências de vida, ou de vidas, para que a alma lapide o egoísmo, o orgulho, a vaidade, os impulsos instintivos, o apego e tantas outras mazelas que precisam ser transformadas em consciência e amor maiores em direção à família cósmica.
O Espírito Neio Lúcio, no livro “Jesus no Lar”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, expressou: “O berço doméstico é a primeira escola e o primeiro templo da alma. A casa do homem é a legítima exportadora de caracteres para a vida comum. (…) A paz do mundo começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendemos a viver em paz, entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações? Se nos não habituamos a amar o irmão mais próximo, associado à nossa luta de cada dia, como respeitar o Eterno Pai que nos parece distante? (…) O lar, na maioria das vezes, é o cadinho santo ou o forno preparador. O que nos parece aflição ou sofrimento dentro dele é recurso espiritual. O coração acordado para a vontade do Senhor retira as mais luminosas bênçãos de suas lutas renovadoras, porque, somente aí, de encontro uns com os outros, examinando aspirações e tendências que não são nossas, observando defeitos alheios e suportando-os, aprendemos a desfazer as próprias imperfeições. Nunca notou a rapidez da existência de um homem? A vida carnal é idêntica à flor da erva. Pela manhã emite perfume, à noite, desaparece… O lar é um curso ligeiro para a fraternidade que desfrutaremos na vida eterna. Sofrimentos e conflitos naturais, em seu círculo, são lições”. (Neio Lúcio. Jesus no lar)
Assim, apertemos os laços de família para fortalecê-los pelo amor incondicional entre seus membros, porquanto as famílias por laços espirituais, em similitude de gostos, de interesses, de progresso moral e amor, buscam sempre se reunir na Terra, como faziam no espaço, formando as famílias unidas e homogêneas que aqui existem.
Pratique o amor em sua plenitude, sem esperar retribuição, com indulgência para com todos. As provações e as vicissitudes da vida são para serem superadas com a compreensão da perfeita justiça divina e não para determinarem ou estimularem reações de rebeldia, revolta ou vingança, frutos do orgulho e do egoísmo.
Ame os seus familiares hoje. Amanhã, poderá ser tarde!
Autor: Juan Carlos Orozco
Revisora: Flávia Maia Nobre
Bibliografia:
EMMANUEL (Espírito), na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Pão Nosso. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.
ESTUDO SISTEMATIZADO DA DOUTRINA ESPÍRITA: Programa Fundamental, Tomo I; organizado pela Área de Estudo Doutrinário da Federação Espírita Brasileira; responsável: Cecília Rocha. 2ª Edição, 9ª Reimpressão. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2012.
LÚCIO, Neio (Espírito), na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Jesus no lar. 37ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (coordenação). Aperte mais esse laço. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.