Se eu quiser falar com Deus, Gilberto Gil (1980)

Por intuição, veio à mente a música de Gilberto Gil, “Se eu quiser falar com Deus”, não sei explicar o porquê, mas isso me fez refletir.

Não havia prestado atenção na letra da música de Gilberto Gil.

Da mentalização, passei a pesquisar na Internet, que me auxiliou na reflexão. Qual mensagem a ser entendida?

Alexandre Pereira, em 2015, escreveu que uma obra de arte, depois de pronta e publicada, não mais pertence ao seu criador. O artista tem o direito legal, mas não o de interpretação.

Assim, podemos ter várias interpretações dessa letra, à semelhança para entender um quadro do cubismo ou abstracionismo.

Vamos tentar desenvolver uma interpretação segundo a Doutrina Espírita, sem saber quem inspirou Gilberto Gil. Para tanto, a que mais se aproximou do que pensavamos, depois de ler atentamente, é a interpretação de Carlos Augusto Abranches, que comentou o seguinte:

Carlos Augusto Abranches: “O compositor e cantor Gilberto Gil escreveu a música ‘se eu quiser falar com Deus’ e deixou uma mensagem muito interessante, diante da reflexão dos que não imaginavam como se portar diante do diálogo com o Criador da Vida. Queremos nesta página, atentar para alguns trechos, numa possível releitura à luz da Doutrina Espírita, para que possamos, caso necessário, compreender as frases de maneira diferente”. 

No final, o autor faz referência ao “Reformador – FEB / maio de 1995”.

Se eu quiser falar com Deus

Minhas observações: não há fórmulas para conversar ou falar com Deus. O importante é que o diálogo seja do fundo do coração, com muita fé, vontade e confiança na bondade, na misericórdia e na justiça de Deus. A oração é um meio de comunicação para se conectar, pela transmissão do pensamento, com um ente espiritual e estabelecer uma sublime ligação com o Céu ou com os planos mais elevados da vida. A fé, a confiança, a constância, a persistência e a vontade na comunicação (oração) são fundamentais para a conexão e conseguir falar com o nosso destinatário. Pela prece, o fluído magnético pode também manipular medicações balsâmicas, produzir prodígios de amor fecundo da cura.

“Tenho que ficar a sós

Tenho que apagar a luz

Tenho que calar a voz

Tenho que encontrar a paz

Tenho que folgar os nós

Dos sapatos, da gravata

Dos desejos, dos receios

Tenho que esquecer a data

Tenho que perder a conta

Tenho que ter mãos vazias

Ter a alma e o corpo nus”

Carlos Augusto Abranches: “Para estar com Deus, realmente a solidão é um elemento íntimo favorável, mas não a solidão que fere, e sim a que me aproxima de minhas necessidades de forma equilibrada e amiga. A luz que devo apagar é a das questões exteriores, para que brilhe a chama da quietude íntima, única forma de calar a voz com grandeza e afrouxar os nós do que teima em me reter no atraso de mim mesmo. Eis o começo do esvaziar-se, para se ter a alma e o corpo nus”.

Minhas observações: falar com Deus é um momento especial, íntimo, de concentração e de libertação espiritual e material. O poder da prece está no pensamento e na vontade. Pode-se orar em toda parte e a qualquer hora, a sós ou em comum.

“Se eu quiser falar com Deus

Tenho que aceitar a dor

Tenho que comer o pão

Que o diabo amassou

Tenho que virar um cão

Tenho que lamber o chão

Dos palácios, dos castelos

Suntuosos do meu sonho

Tenho que me ver tristonho

Tenho que me achar medonho

E apesar de um mal tamanho

Alegrar meu coração”

Carlos Augusto Abranches: “Para se estar com Deus a aceitação da dor é fundamental, más não a aceitação passiva, alienada, e sim a que gera a libertação de quem sofre, do próprio sofrimento, pela conquista da sabedoria em enfrentá-lo. 

Por outro lado, a Lei do Amor garante que ninguém come o pão que o outro diabo amassou, mas só aqueles que nossas próprias criações inferiores fermentaram. 

Devo, igualmente, ser fiel a mim mesmo, como o cão é ao seu dono, para não me perder nas ilusões dos sonhos vazios e de maneira nenhuma me ver tristonho, e sim feliz, porque Deus é Amor, e o aroma do amor é a felicidade”.

Minhas observações: para falar com Deus, devo aceitar as provações e expiações, com resignação e continuar fiel como um cão, afastar as ilusões do orgulho, do egoísmo e da soberba; e, apesar de todas aflições e angústias que nos fazem chorar, devemos alegrar o nosso coração na esperança da bem-aventurança do consolo.

Se eu quiser falar com Deus

Tenho que me aventurar

Tenho que subir aos céus

Sem cordas pra segurar

Tenho que dizer adeus

Dar as costas, caminhar

Decidido, pela estrada

Que ao findar vai dar em nada

Nada, nada, nada, nada

Nada, nada, nada, nada

Nada, nada, nada, nada

Do que eu pensava encontrar”

Carlos Augusto Abranches: “Finalmente, se eu quiser estar com Deus, devo me aventurar, sim, mas somente se for através da sublime viagem de tomar consciência de mim mesmo. Certamente, subirei aos céus pelas cordas invisíveis da fé raciocinada, que me harmonizam razão e afeto. Preciso, ainda, dizer adeus para as ilusões do homem velho e caminhar decidido pela estrada que ao findar vai dar em nada do que eu, com minha visão limitada, pensava encontrar.

Essa estrada, o rumo seguro do progresso sem fim, vai dar no que ainda não conheço, a paz integral, aonde vamos morar com Deus, eu e você, que também quis vir falar com Ele, e encontrou o caminho certo”… 

Minhas observações: para falar com Deus, tenho que buscar o desconhecido, comunicar-me espiritualmente com o pensamento em Deus, esquecer as ilusões materiais, caminhar com vontade pela estrada da fé; e perceber, do que eu sei, há muito que aprender. Buscai primeiro o reino de Deus e todas as coisas serão acrescentadas.

Bibliografia:

ABRANCHES, Carlos Augusto. União das Sociedades Espíritas Intermunicipal de Piracicaba. Se eu quiser falar com Deus. Disponível em: http://www.usepiracicaba.com.br/artigos/espiritismo/898-se-eu-quiser-falar-com-deus-por-carlos-a-abranches. Acesso em 1º de março de 2017.

2 comentários em “Se eu quiser falar com Deus, Gilberto Gil (1980)

  1. Olá, Juan Carlos.
    Gostei de suas reflexões em torno do texto que escrevi para o Reformador de maio de 1995.
    A música de Gilberto Gil suscita inúmeras reflexões, e as suas mostram sintonia com as que me moveram há mais de 25 anos.
    Sigamos juntos, contribuindo com a dinâmica própria da Doutrina que tanto amamos.

    1. Estimado irmão Carlos Abranches, boa tarde!

      Para um final de ano de tanta provação coletiva da Humanidade, receber o seu comentário no meu Blog foi um presente que guardarei com muito carinho.

      Jamais poderia imaginar que o autor das interpretações da canção “Se eu quiser falar com Deus”, de Gilberto Gil, das quais busquei as minhas reflexões, fosse comentar essa postagem. Sabemos que nada é por acaso! Muito bacana mesmo.

      Aproveito a oportunidade para desejar a irmão um feliz Ano Novo com muita paz, saúde e as bençãos de Deus.

      Um fraterno abraço!

      Juan Carlos Orozco

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