Muitos têm estudado acerca das aparições de Jesus após a sua crucificação, questionando-se acerca do Mestre ter visitado a sua mãe antes de subir para seu Pai.
Religiosos não conseguem precisar quantas vezes Jesus ressuscitado apareceu às pessoas, sendo que as principais aparições encontram-se nos Evangelhos Canônicos. Contudo, nenhum deles narra a aparição do Cristo à sua Mãe depois de sua morte.
Paulo de Tarso, na 1ª Epístola aos Coríntios (15: 5-8), escreveu: “E apareceu a Pedro e depois aos doze. Depois disso apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda vive, embora alguns já tenham adormecido. Depois apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos; depois destes apareceu também a mim, como a um que nasceu fora de tempo”.
Em “Atos dos Apóstolos”, há o registro de que Jesus apareceu a Ananias, instruindo-o a Paulo de Tarso na cidade de Damasco, fazendo com que este recuperasse a visão, pois havia ficado, temporariamente, cego, ao presenciar Jesus na estrada de Damasco.
Allan Kardec, em “A Gênese”, no Capítulo XV: Os milagres do Evangelho, em “Aparição de Jesus após sua morte”, lista algumas aparições do Mestre nos Evangelho de João (20: 11-18; 20: 24-29; e 21: 1-8) e de Lucas (24: 13-49; e 24: 50-53).
Em seguida, Kardec expressa: “Todos os evangelistas narram as aparições de Jesus, após sua morte, com circunstanciados pormenores que não permitem se duvide da realidade do fato. Elas, aliás, se explicam perfeitamente pelas leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito e nada de anômalo apresentam em face dos fenômenos do mesmo gênero, cuja história, antiga e contemporânea, oferece numerosos exemplos, sem lhes faltar sequer a tangibilidade. Se notarmos as circunstâncias em que se deram as suas diversas aparições, nele reconheceremos, em tais ocasiões, todos os caracteres de um ser fluídico. Aparece inopinadamente e do mesmo modo desaparece; uns o veem, outros não, sob aparências que não o tornam reconhecível nem sequer aos seus discípulos; mostra-se em recintos fechados, onde um corpo carnal não poderia penetrar; sua própria linguagem carece da vivacidade da de um ser corpóreo; fala em tom breve e sentencioso, peculiar aos Espíritos que se manifestam daquela maneira; todas as suas atitudes, numa palavra, denotam alguma coisa que não é do mundo terreno. Sua presença causa simultaneamente surpresa e medo; ao vê-lo, seus discípulos não lhe falam com a mesma liberdade de antes; sentem que já não é um homem.
Jesus, portanto, se mostrou com o seu corpo perispirítico, o que explica que só tenha sido visto pelos que Ele quis que o vissem. Se estivesse com o seu corpo carnal, todos o veriam, como quando estava vivo. Ignorando a causa originária do fenômeno das aparições, seus discípulos não se apercebiam dessas particularidades, a que, provavelmente, não davam atenção. Desde que viam o Senhor e o tocavam, haviam de achar que aquele era o seu corpo ressuscitado”.
O Espírito Emmanuel, em “Caminho, verdade e vida”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, no Capítulo “Madalena”, indaga: “Por que razões profundas deixaria o Divino Mestre tantas figuras mais próximas de sua vida para surgir aos olhos de Madalena, em primeiro lugar? Somos naturalmente compelidos a indagar por que não teria aparecido, antes, ao coração abnegado e amoroso que lhe servira de Mãe ou aos discípulos amados…”. Em seguida, esclarece: “Entretanto, o gesto de Jesus é profundamente simbólico em sua essência divina. Dentre os vultos da Boa Nova, ninguém fez tanta violência a si mesmo, para seguir o Salvador, como a inesquecível obsidiada de Magdala. Nem mesmo ‘morta’ nas sensações que operam a paralisia da alma; entretanto, bastou o encontro com o Cristo para abandonar tudo e seguir-lhe os passos, fiel até ao fim, nos atos de negação de si própria e na firme resolução de tomar a cruz que lhe competia no calvário redentor de sua existência angustiosa. É compreensível que muitos estudantes investiguem a razão pela qual não apareceu o Mestre, primeiramente, a Pedro ou a João, à sua Mãe ou aos amigos. Todavia, é igualmente razoável reconhecermos que, com o seu gesto inesquecível, Jesus ratificou a lição de que a sua doutrina será, para todos os aprendizes e seguidores, o código de ouro das vidas transformadas para a glória do bem. E ninguém, como Maria de Magdala, houvera transformado a sua, à luz do Evangelho redentor”.
Independentemente de Jesus ter aparecido ou não à sua Mãe logo após a ressurreição, o Espírito Humberto de Campos, no Capítulo 30, do livro “Boa Nova”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, dedica-se à Mãe de Jesus informando que Maria: “De vez em quando, parecia vê-lo em seus sonhos repletos de esperança. Jesus lhe prometia o júbilo encantador de sua presença e participava da carícia de suas recordações”.
Mais adiante, Humberto de Campos narra a vinda de Jesus para buscar a sua Mãe:
“Enlevada nas suas meditações, Maria viu aproximar-se o vulto de um pedinte.
– ‘Minha mãe – exclamou o recém-chegado, como tantos outros que recorriam ao seu carinho -, venho fazer-te companhia e receber a tua bênção’.
Maternalmente, ela o convidou a entrar, impressionada com aquela voz que lhe inspirava profunda simpatia. O peregrino lhe falou do céu, confortando-a delicadamente. Comentou as bem-aventuranças divinas que aguardam a todos os devotados e sinceros filhos de Deus, dando a entender que lhe compreendia as mais ternas saudades do coração.
Maria sentiu-se empolgada por tocante surpresa. Que mendigo seria aquele que lhe acalmava as dores secretas da alma saudosa, com bálsamos tão dulçorosos? Nenhum lhe surgira até então para dar; era sempre para pedir alguma coisa.
No entanto, aquele viandante desconhecido lhe derramava no íntimo as mais santas consolações. Onde ouvira noutros tempos aquela voz meiga e carinhosa?! Que emoções eram aquelas que lhe faziam pulsar o coração de tanta carícia? Seus olhos se umedeceram de ventura, sem que conseguisse explicar a razão de sua terna emotividade.
Foi quando o hóspede anônimo lhe estendeu as mãos generosas e lhe falou com profundo acento de amor: – ‘Minha mãe, vem aos meus braços!’
Nesse instante, fitou as mãos nobres que se lhe ofereciam, num gesto da mais bela ternura. Tomada de comoção profunda, viu nelas duas chagas, como as que seu filho revelava na cruz e, instintivamente, dirigindo o olhar ansioso para os pés do peregrino amigo, divisou também aí as úlceras causadas pelos cravos do suplício. Não pôde mais.
Compreendendo a visita amorosa que Deus lhe enviava ao coração, bradou com infinita alegria: – ‘Meu filho! Meu filho! As úlceras que te fizeram!…’
E precipitando-se para ele, como mãe carinhosa e desvelada, quis certificar-se, tocando a ferida que lhe fora produzida pelo último lançaço, perto do coração. Suas mãos ternas e solícitas o abraçaram na sombra visitada pelo luar, procurando sofregamente a úlcera que tantas lágrimas lhe provocara ao carinho maternal. A chaga lateral também lá estava, sob a carícia de suas mãos. Não conseguiu dominar o seu intenso júbilo. Num ímpeto de amor, fez um movimento para se ajoelhar. Queria abraçar-se aos pés do seu Jesus e osculá-los com ternura. Ele, porém, levantando-a, cercado de um halo de luz celestial, se lhe ajoelhou aos pés e, beijando-lhe as mãos, disse em carinhoso transporte: – ‘Sim, minha mãe, sou eu!… Venho buscar-te, pois meu Pai quer que sejas no meu reino a Rainha dos Anjos’.
Maria cambaleou, tomada de inexprimível ventura. Queria dizer da sua felicidade, manifestar seu agradecimento a Deus; mas o corpo como que se lhe paralisara, enquanto aos seus ouvidos chegavam os ecos suaves da saudação do Anjo, qual se a entoassem mil vozes cariciosas, por entre as harmonias do céu.
No outro dia, dois portadores humildes desciam a Éfeso, de onde regressaram com João, para assistir aos últimos instantes daquela que lhes era a devotada Mãe Santíssima.
Maria já não falava. Numa inolvidável expressão de serenidade, por longas horas ainda esperou a ruptura dos derradeiros laços que a prendiam à vida material”. (Humberto de Campos. Boa Nova)
O Espírito Miramez, com narrativa semelhante a de Humberto de Campos, cita: “Por último, vinha um velhinho com muita dificuldade de andar e ela à espera, com piedade, teve vontade de ir ao encontro do ancião. (…) o velhinho se aproximava lentamente. Maria sentiu um perfume diferente, uma fragrância que lhe comoveu a alma, que somente a presença de seu filho a fazia sentir. (…) parecia que a imagem de Jesus saía da cabeça do ancião, de modo que ela poderia tocar-lhe e sentir a sua magnânima presença!… Maria pegou as mãos do ancião e sentiu vontade de beijá-las, o que fez com ternura. No mesmo instante, notou os sinais dos cravos. Olhou para os pés e viu a mesma coisa. Ergueu a vista e certificou-se que realmente era Jesus, o seu filho do coração!… (…) – Vem, mãe! Meu Pai quer que sejas a rainha dos anjos no meu reino! (MIRAMEZ. Maria de Nazaré)
A despeito de Jesus ter aparecido ou não à sua Mãe logo após a ressurreição, o Mestre veio buscá-la em seus últimos dias terrenos para ser a Rainha dos Anjos no seu reino. Depois de alguns dias, elevou-se a bendita entre todas as mulheres, a escolhida por Deus para ser a Mãe do nosso Mestre.
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA
CAMPOS, Humberto de (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. Boa Nova. 37ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.
EMMANUEL (Espírito), na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Caminho, verdade e vida. (?) Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2014.
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.
MIRAMEZ (Espírito); (psicografado por) João Nunes Maia. Maria de Nazaré. 12ª Edição. Belo Horizonte/MG: Fonte Viva, 2011.