Parábola do semeador

Pela Parábola do Semeador, Jesus mostra o começo do caminho, da germinação da semente, a ser percorrido para a evolução espiritual, tendo por meta a perfeição, considerando as diversidades evolutivas dos seres humanos, diferentes tipos de solos.

Dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas:

“Naquele mesmo dia Jesus saiu de casa e assentou-se à beira-mar. Reuniu-se ao seu redor uma multidão tão grande que ele teve que entrar num barco e assentar-se nele, enquanto todo o povo ficou na praia. Então lhes falou muitas coisas por parábolas, dizendo: o semeador saiu a semear. Enquanto lançava a semente, parte dela caiu à beira do caminho, e as aves vieram e a comeram. Parte dela caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra; e logo brotou, porque a terra não era profunda. Mas quando saiu o sol, as plantas se queimaram e secaram, porque não tinham raiz. Outra parte caiu entre espinhos, que cresceram e sufocaram as plantas. Outra ainda caiu em boa terra, deu boa colheita, a cem, sessenta e trinta por um. Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça! Os discípulos aproximaram-se dele e perguntaram: por que falas ao povo por parábolas? Ele respondeu: a vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos céus, mas a eles não. A quem tem será dado, e este terá em grande quantidade. De quem não tem, até o que tem lhe será tirado. Por essa razão eu lhes falo por parábolas: porque vendo, eles não veem e, ouvindo, não ouvem nem entendem. Neles se cumpre a profecia de Isaías: ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão. Pois o coração deste povo se tornou insensível; de má vontade ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos. Se assim não fosse, poderiam ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, entender com o coração e converter-se, e eu os curaria. Mas, felizes são os olhos de vocês, porque veem; e os ouvidos de vocês, porque ouvem.

Pois eu lhes digo a verdade: muitos profetas e justos desejaram ver o que vocês estão vendo, mas não viram, e ouvir o que vocês estão ouvindo, mas não ouviram. Portanto, ouçam o que significa a parábola do semeador: quando alguém ouve a mensagem do Reino e não a entende, o maligno vem e lhe arranca o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho. Quanto ao que foi semeado em terreno pedregoso, este é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria. Todavia, visto que não tem raiz em si mesmo, permanece por pouco tempo. Quando surge alguma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo a abandona. Quanto ao que foi semeado entre os espinhos, este é aquele que ouve a palavra, mas a preocupação desta vida e o engano das riquezas a sufocam, tornando-a infrutífera. E, finalmente, o que foi semeado em boa terra: este é aquele que ouve a palavra e a entende, e dá uma colheita de cem, sessenta e trinta por um”. (Mateus, 13: 1-23; Marcos, 4: 1-20; e Lucas, 8: 4-15) 

O semeador divino é Jesus, nosso orientador maior, guia e modelo de perfeição para a Humanidade terrestre. A semente é o seu Evangelho, entendido como roteiro de vida.

Assim, o processo evolutivo espiritual passa pelo acolhimento da semente, a Palavra retratada pelos ensinamentos de Jesus.

Os quatro campos de semeadura, citados na Parábola, simbolizam os diferentes tipos de mentalidade espiritual. Cada ser representa determinado tipo de solo, conforme o seu grau de evolução.

“Cada coração do caminho é comparável a trato de terra espiritual”. (EMMANUEL. O Evangelho por Emmanuel: comentários ao evangelho segundo Mateus)

Jesus lança as sementes para os diferentes solos, convidando-os ao aprendizado e que abram as portas de seus corações, saindo do casulo cristalizado das conveniências, alimentadas e realimentadas ao longo dos tempos para receber a Palavra.

As sementes que caíram ao pé do caminho e as aves as comeram, simbolizam as pessoas que permanecem à margem das orientações espirituais que lhes chegam durante a existência. Podem ser solos indiferentes, que se achegam ao Evangelho, ouvem as lições e retiram-se; seus corações não sentem os ensinamentos e, por comodismo, acham mais fácil abandoná-los; são terrenos ainda não preparados para a semeadura. Guardam, em si, a promessa de produzir quando as provações ou o conhecimento lhes marcarem a existência.

Independentemente da indiferença humana, o semeador continua sempre na sua missão de semear, independentemente dos solos e das circunstâncias, sem aguardar os resultados dessa semeadura, oferecendo oportunidades a todos os que estiverem dispostos a conhecer o Evangelho. Essas oportunidades são convites para se proceder uma reforma íntima pela renovação espiritual, durante nossa labuta diária, e que representam bênçãos divinas que dependem da nossa capacidade de ‘ver’ e ‘ouvir’ para saber aproveitá-las.

Somente reencarnações sucessivas de aprendizado poderão reajustar os situados ao “pé do caminho” para as realidades espirituais e para a importância do Evangelho. Mesmo assim, o semeador continua a sua missão de semear, oferecendo oportunidades a todos que estiverem dispostos a conhecer o Evangelho. Cada ser é dono do seu destino e pelo livre-arbítrio é responsável por escolher o caminho do aperfeiçoamento moral e espiritual.

As sementes que caíram em solo pedregoso, indicam os seres com formações mentais cristalizadas, de Espíritos imperfeitos, em que as pedras precisam ser removidas ou desfeitas, seja pelo conhecimento de verdades imortais seja pela melhoria moral, bênçãos concedidas pela bondade do pai Celestial. As pedras podem, também, ser vistas como condicionamentos ou reflexos dominantes da personalidade que se expressam sob a forma de interesses passageiros e superficiais, e que não cedem espaço a entendimentos mais profundos.

As pessoas de terreno pedregoso são as entusiastas de primeiro momento que, ante os menores obstáculos que surgem no exercício do bem, não conseguem se manter fiéis aos ensinamentos de Jesus, deles se afastando. Percebe-se que não basta à semente germinar, é preciso que ela cresça e frutifique.

As boas intenções se revelam, muitas vezes, carentes de persistência, não conseguindo sobreviver aos desafios da vida. Indicam a personalidade dos que se mantêm nos interesses horizontais do conhecimento superficial, sem revelarem maior capacidade de aprofundamento. Faltam ao terreno, além da terra, nutrientes e água, necessários à germinação e ao equilíbrio da semente.

Em nossas próprias condições espirituais, percebemos que, se não existem raízes nas nossas manifestações de mudança para melhor, é natural que a sementeira fracasse ou que a transformação seja adiada. Fica claro que toda disposição de melhoria não se deve restringir às boas intenções, fáceis de serem dissolvidas nas lutas do cotidiano. É necessário que construamos uma boa base de conhecimento doutrinário que possa alimentar a nossa sincera vontade de melhorar, criando empecilhos ao desânimo e ao abandono do trabalho.

Os de solos espinhosos cresceram e foram sufocadas. Os espinhos representam as viciações, as más inclinações, o egoísmo, a intolerância, a maledicência, o autoritarismo, o orgulho, a vaidade, o personalismo, entre tantos outros vícios, que criam obstáculos ao processo de evangelização da criatura humana.

Um pensamento negativo ou a supervalorização de coisas materiais, por exemplo, podem crescer desordenadamente, abafando, por egoísmo ou comodismo, os valores imortais que nos chegam do Alto.

As sementes germinadas entre os espinhos, por sua vez, originaram o crescimento de uma frágil planta que logo morre sufocada. Assim, devemos ter cuidado com os espinhos que podem colocar em risco a boa produção da semeadura, além de sufocarem os mais valorosos projetos e as mais nobres intenções.

“Muitos estarão soterrados no pedregulho dos preconceitos, ao pé de outros que se enrodilham no espinheiral da ilusão, requisitando tempo enorme para se verem livres”. (EMMANUEL. O Evangelho por Emmanuel: comentários ao evangelho segundo Mateus.)

A “boa terra” representa o solo fértil que possui condições propícias à germinação da semente, ao surgimento e amadurecimento da planta, assim como a produção do fruto. Os ensinamentos do Evangelho, quando alcançam as pessoas simbolizadas pela “boa terra”, são assimilados e difundidos, num processo natural.

A semente em solo fértil é semeada num coração mais amadurecido e receptivo ao Evangelho, disposto a acatar novos aprendizados e a renunciar às antigas e infelizes aquisições. O terreno fértil produz uma lavoura de significativo valor caracterizada por frutos suculentos e nutritivos. Quando o terreno está devidamente preparado, a produção está assegurada, num processo contínuo.

E outra caiu em boa terra e deu fruto: um, a cem, outra a sessenta, e outro, a trinta”. (Mateus 13: 8)

Mesmo em solo fértil, cada um produz de acordo com a sua evolução ou grau de adiantamento espiritual: uns produzem mais, outros produzem menos. “Um, a cem, outra a sessenta, e outro, a trinta” revela que o percentual de produção pode ser menor em uns, mas que não deixa de dar a sua resposta, sempre positiva.

“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, é o alerta que nos informa ser preciso, não apenas escutar orientações, propriamente ditas, mas, aprender a identificar oportunidades de crescimento. “Quem tem ouvidos para ouvir”, não perde tempo com lamentações, gemidos ou clamores. Conhece as dificuldades que envolvem os que produzem bons frutos, mas não se detém: trabalha incessantemente, guiando-se pelas elevadas intuições que lhes inspiram os benfeitores espirituais, sem medos, pressas ou retardamentos. Palmilha o caminho da efetiva libertação, transformando-a em reservas de bom ânimo e encorajamento em bálsamos que aliviam as dores do próximo.

Os adeptos sinceros do Evangelho de Jesus são, assim, a “boa terra”, inspirados nos ensinamentos da Boa-Nova, esforçam-se em vivenciá-los, sem medir sacrifícios.

Elucida o esclarecido benfeitor espiritual Emmanuel: “se o terreno de teu coração vive ocupado por ervas daninhas e se já recebeste o princípio celeste, cultiva-o, com devotamento, abrigando-o nas leiras de tua alma. O verbo humano pode falhar, mas a Palavra do Senhor é imperecível. Aceita-a e cumpre-a, porque, se te furtas ao imperativo da vida eterna, cedo ou tarde o anjo da angústia te visitará o espírito, indicando-te novos rumos”.

Que tipo de solo você é?

Com a Parábola do Semeador, Jesus nos ensina a ser “solo fértil”. Receba a semente, regue-a, faça germinar, desenvolva a boa árvore.

Quais são os seus frutos? “Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto. Pois cada árvore se conhece pelo seu fruto”. (Lucas 6:43-45)

A busca da perfeição é longo processo de evolução, cujo modelo e guia é Jesus, o Semeador divino, por meio do seu Evangelho, a semente de elevação, no contexto de uma perfeição relativa à Humanidade, representada por diferentes tipos de solos espirituais, glebas espirituais ou campos da vida. A doutrina que Jesus ensinou, por meio da Palavra, é a mais pura expressão da lei de Deus.

Pela Parábola do Semeador, enfatiza-se como receber a semente da evolução na busca da perfeição, em que deveremos ser solo fértil, acolhendo a Palavra para ser plantada, regada, germinada, crescer, dar folhagens e, depois, colher bons frutos.

Jesus sempre está lançando suas sementes, “transferindo a imagem para o solo do espírito, em que tantos imperativos de renovação convidam os obreiros da boa vontade à santificante lavoura da elevação, somos levados a reconhecer que o servidor do Evangelho é compelido a sair de si próprio, a fim de beneficiar corações alheios”. (EMMANUEL. O Evangelho por Emmanuel: comentários ao evangelho segundo Mateus.)

Os problemas não se encontram no semeador divino e tampouco nas suas sementes, mas sim nos diversos tipos de solo, sendo causas dos insucessos para germinar a Palavra dentro de cada ser, quer sejam diante de corações duros no meio do caminho, das pedras, da pouca profundidade da terra ou dos espinhos que sufocam a sementeira do amor.

Temos que remover as pedras, os espinhos, as dificuldades e os obstáculos da vida para prosseguir firme, estendendo as mãos ao serviço do amor, tendo como terreno o próximo que te propicia a colheita, e, tanto quanto possível, semear sempre.

Basta plantar o bem, sempre agindo pelo amor e perseverando no trabalho dignificante do bem, na produção para o benefício de todos.

O grau de perfeição estará na escala do amor ao próximo como a si mesmo até o amor aos inimigos e aos que perseguem. Este é o caminho para a perfeição, mediante a pluralidade de existências, que começa pelo acolhimento dentro de nós da semente da Palavra. Todos podemos espalhar as sementes de amor e luz.

Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

EMMANUEL (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. O Evangelho por Emmanuel: comentários ao evangelho segundo Mateus. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Da 3ª Edição francesa. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira. Estudo aprofundado da doutrina espírita: Livro II – Ensinos e Parábolas de Jesus – Parte I, Orientações espíritas e sugestões didático pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2015.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira. Estudo aprofundado da doutrina espírita: Livro III – Ensinos e Parábolas de Jesus – Parte II, Orientações espíritas e sugestões didático pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.

SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

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