Fraternidade de Maria

Em manifestações de fé e religiosidade pelo mundo, Maria de Nazaré é lembrada de diversas formas e recebeu diferentes nomes: Senhora da Luz, Nossa Senhora, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora de Guadalupe, assim como outras tantas denominações. Maria, para boa parte dos cristãos, não é somente a mãe de Jesus, mas a mãe de todos nós.

A Senhora da Luz, pelos traços de sua personalidade, poderíamos descrevê-la assim: “humilde, ocultava a experiência dos sábios; frágil como o lírio, trazia consigo a resistência do diamante; pobre entre os pobres, carreava na própria virtude os tesouros incorruptíveis do coração, e, desvalida entre os homens, era grande e prestigiosa perante Deus” (Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita, Livro I, Módulo II, Roteiro 2, FEB).

Maria de Nazaré, Espírito angelical de grandes conquistas evolutivas, consciente de sua missão, na Anunciação do Anjo Gabriel de que seria a mãe de Jesus, curvou-se humilde dizendo: “eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas, 1: 38).

Embora Espírito puro, Maria submeteu-se ao esquecimento das realidades espirituais, necessitando da revelação do Anjo e de aceitar a sua missão. Com a aceitação, ajustou-se ao Plano de Deus, usando o livre-arbítrio para a aceitação, em obediência como serva e portadora da graça divina. Por este motivo, Maria foi escolhida dentre todas as mulheres.

O Espírito Humberto de Campos, no livro “Boa Nova”, no Capítulo 30, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, descreve a dor profunda e silenciosa de Maria, que comove e causa admiração, fazendo-nos refletir a respeito da grandiosidade desse Espírito.

Humberto de Campos narra que Maria de Nazaré, junto da cruz, com o coração amargurado, ao ver o seu filho amado naquela hora extrema, revivia as lembranças do passado em sequência de imagens, recordações e circunstâncias maravilhosas.

Maria perguntava-se o que havia feito Jesus para merecer tão duras penas; que desígnios haviam conduzido seu filho à cruz do suplício. Mas, como serva de Deus, reconhecia a intervenção da providência e compreendia a missão celestial do Salvador Divino. Como no início, Maria ratificava o testemunho: “faça-se na escrava a vontade do Senhor”!

A adorável mãe de alma angustiada percebeu que seu filho atingira o último limite dos padecimentos inenarráveis.

Naquele momento, junto de outras mulheres compadecidas, Maria sentiu alguém pousar as mãos sobre os seus ombros. Era João Evangelista que se aproximava dela estendendo os braços amorosos e reconhecidos.

Maria enlaçada pelo discípulo amado, ao pé da cruz, em plena comunhão, procuraram a luz de Jesus em meio àqueles tormentos. Foi quando o Mestre Divino moveu o seu olhar vagarosamente e, percebendo a ansiedade daquelas almas, disse:

“Meu filho! Meu amado filho!Exclamou a mártir, em aflição diante da serenidade daquele olhar de melancolia intraduzível.

O Cristo pareceu meditar no auge de suas dores, mas, como se quisesse demonstrar, no instante derradeiro, a grandeza de sua coragem e a sua perfeita comunhão com Deus, replicou com significativo movimento dos olhos vigilantes:

– Mãe, eis aí teu filho!… – E dirigindo-lhes, de modo especial, com um leve aceno, ao Apóstolo, disse: – Filho, eis aí a tua mãe!” (Humberto de Campos. Boa nova.)

Do Evangelho de João (19: 25-27), temos a mesma narrativa: “E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cleofas, e Maria Madalena. Ora, Jesus, vendo ali a sua mãe, e o discípulo a quem ele amava estando presente, disse a sua mãe: mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa”.

Em continuação, no livro “Boa Nova”, Maria envolveu-se no véu de seu pranto doloroso, mas o grande evangelista compreendeu que o Mestre, na sua lição derradeira, ensinava que o amor universal era o sublime coroamento de sua obra.

Entendeu que, no futuro, a claridade do reino de Deus revelaria aos homens a necessidade da cessação de todo egoísmo e que, no santuário de cada coração, deveria existir a mais abundante cota de amor, não só para o círculo familiar, senão também para todos os necessitados do mundo, e que no templo de cada habitação permaneceria a fraternidade real, para que a assistência recíproca se praticasse na Terra, sem serem precisos os edifícios exteriores consagrados a uma solidariedade claudicante.

Ao dirigir-se à Mãe e ao discípulo João Evangelista, Jesus estabelecia novas relações de amor entre os cristãos, que vai muito além da necessidade de resolver um problema familiar. O intento era de entregar o discípulo a Maria, atribuindo-lhe uma nova missão materna para com todos nós: fraternidade de Maria.

A fraternidade de Maria está nas novas relações de parentesco e de amor entre os cristãos, em que se desenvolvem sentimentos de afeto próprios dos irmãos de sangue, o laço de união entre os homens e de amor ao próximo.

Com a chegada de João Evangelista que abraça Maria na hora extrema de Jesus, o Mestre nos deixa uma linda lição sobre o verdadeiro parentesco e a vida após a morte. Ao apontar João e dizer à própria mãe “eis aí teu filho”, Jesus dá a Maria uma chave para libertar o próprio coração pela perda de um ente querido: o desapego.

Num olhar mais profundo, quer mostrar que o seguimento de Jesus para fazer parte de sua família ultrapassa os laços de parentesco. Jesus inaugura uma nova família constituída não mais do sangue e dos laços de parentesco e sim daqueles que se juntam ao redor de Jesus para fazer a vontade do Pai. Ensina que até Maria, a criatura mais estreitamente ligada a Jesus pelos laços de sangue teve que elevar a ordem mais alta dos seus valores.

Assim, Jesus nos ensinou a realidade do Deus Amor e a caridade (amor ao próximo em ação) como maior dos mandamentos. O Mestre quis mostrar que, ao perder um filho, uma mãe ganha a humanidade inteira de “próximos” por quem pode fazer o bem: a mãe de todos.

O pai, a mãe, os filhos ou parentes próximos são sempre obras de amor inadiáveis, a primeira escola da caridade. Mas o lar será sempre o início do trabalho para que o Espírito chegue ao amor universal. Eis o sentido de enxergarmos a todos como “irmãos”, verdadeiro parentesco espiritual.

Autor: Juan Carlos Orozco

Revisora: Paola Martins de Moraes Aguiar Castro

Bibliografia:

CAMPOS, Humberto de (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. Boa Nova. 37ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita. Orientações espíritas e sugestões didática pedagógica direcionadas ao estudo do aspecto religioso do espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.

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