Relações no além-túmulo

As relações no além-túmulo são abordadas por Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos”, das questões 274 a 290.

O Codificador começa perguntando se “Da existência de diferentes ordens de Espíritos, resulta para estes alguma hierarquia de poderes? Há entre eles subordinação e autoridade”. A resposta é que “Muito grande. Os Espíritos têm uns sobre os outros a autoridade correspondente ao grau de superioridade que hajam alcançado, autoridade que eles exercem por um ascendente moral irresistível”. Assim, a autoridade dos Espíritos Superiores sobre os Inferiores é uma ascendência moral irresistível.

O poder e a consideração de que um homem gozou na Terra não lhe dão supremacia no mundo dos Espíritos, pois que os pequenos serão elevados e os grandes rebaixados. A elevação e o rebaixamento estão relacionados a diferentes ordens dos Espíritos, conforme os seus méritos. O maior da Terra pode pertencer à última categoria entre os Espíritos. Por outro lado, o seu servo pode estar na primeira categoria. Jesus disse: “aquele que se humilhar será exalçado e aquele que se exalçar será humilhado”. Assim, quem foi grande na Terra, como Espírito, pode achar-se entre os de ordem inferior, experimentando alguma humilhação devido ao orgulhoso e à inveja. O título da Terra nada vale no plano espiritual.

Os Espíritos das diferentes ordens se veem, mas se distinguem uns dos outros. Evitam-se ou se aproximam, conforme a simpatia ou antipatia que uns inspiram aos outros. Os da mesma categoria se reúnem por afinidade e formam grupos ou famílias, unidos pelos laços da simpatia e pelos fins a que visam. Os bons, pelo desejo de fazerem o bem; os maus, pelo de fazerem o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se acharem entre os que se lhes assemelham.

Nem todos Espíritos têm acesso aos diferentes grupos ou sociedades. Os bons podem ir a toda parte para influir os maus. As regiões que os bons habitam estão interditadas aos Espíritos imperfeitos, a fim de que não as perturbem com suas paixões inferiores.

Cabe aos bons Espíritos combater as más inclinações dos outros, a fim de ajudá-los a subir. É sua missão. Para isso, exercem sobre os Espíritos imperfeitos uma autoridade irresistível alicerçada na superioridade moral.

Os Espíritos inferiores se comprazem em nos induzir ao mal pelo despeito que lhes causa não terem merecido estar entre os bons. O desejo que neles predomina é o de impedirem, quanto possam, que os Espíritos ainda inexperientes alcancem o supremo bem. Querem que os outros experimentem o que eles próprios experimentam.

Os Espíritos se comunicam por meio do fluido cósmico universal, que estabelece entre eles constante intercâmbio, pois que é o veículo de transmissão dos seus pensamentos. Constitui esse fluido uma espécie de meio de comunicação universal que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro. Razão essa porque os Espíritos não podem dissimular os seus pensamentos, particularmente os Espíritos imperfeitos em relação aos Espíritos Superiores, uma vez que para estes tudo é patente.

Os Espíritos, não tendo o corpo físico, comprovam as suas individualidades pelo perispírito, que os torna distinguíveis uns dos outros.

Por terem coabitado a Terra, os Espíritos se reconhecem. O filho reconhece o pai, o amigo reconhece o seu amigo. Os Espíritos que se conheceram na Terra se reconhecem no mundo dos Espíritos vendo a vida pretérita e lendo nela como em um livro.

Deixando os despojos mortais, a alma vê os parentes e amigos que a precederam no mundo dos Espíritos. Mas, para isso é necessário algum tempo para que ela se reconheça a si mesma e alije o véu material.

A acolhida da alma no seu regresso ao mundo dos Espíritos é a do justo, como bem-amado irmão, desde muito tempo esperado. A do mau, como um ser desprezível.

Quanto ao sentimento que desperta nos Espíritos impuros a chegada entre eles de outro Espírito mau, os maus ficam satisfeitos quando veem seres que se lhes assemelham e privados, também, da infinita ventura, qual na Terra um tratante entre seus iguais.

Os parentes e amigos costumam vir ao nosso encontro quando deixamos a Terra. Os Espíritos vão ao encontro da alma a quem são afeiçoados. Felicitam-na, como se regressasse de uma viagem, por haver escapado aos perigos da estrada, e ajudam-na a desprender-se dos liames corporais. É uma graça concedida aos bons Espíritos irem ao encontro dos que os amam, ao passo que aquele que se acha maculado permanece em insulamento, ou só tem a rodeá-lo os que lhe são semelhantes. É uma punição.

A reunião, depois da morte, de parentes e amigos depende da elevação deles e do caminho que seguem, procurando progredir. Se um está mais adiantado e caminha mais depressa do que outro, não podem os dois conservar-se juntos. Ver-se-ão de tempos a tempos, mas não estarão reunidos para sempre, senão quando puderem caminhar lado a lado, ou quando se houverem igualado na perfeição. Acresce que a privação de ver os parentes e amigos é, às vezes, uma punição.

Além da simpatia geral, os Espíritos se ligam uns aos outros por afeições particulares, tal como sucede entre os encarnados, sendo, porém, mais forte o laço afetivo no plano espiritual, uma vez que não se acha exposto às vicissitudes das paixões. Só entre os Espíritos impuros há ódio e são eles que insuflam nos homens as inimizades e as dissensões.

Dois seres que foram inimigos na Terra poderão não conservar ressentimento um do outro no mundo dos Espíritos, quando compreendem que era estúpido o ódio que se votavam mutuamente e pueril o motivo que o inspirava. Apenas os Espíritos imperfeitos conservam uma animosidade, enquanto se não purificam. Se foi unicamente um interesse material o que os inimizou, nisso não pensarão mais, por pouco desmaterializados que estejam. Não havendo entre eles antipatia e tendo deixado de existir a causa de suas desavenças, aproximam-se uns dos outros com prazer.

Por outro lado, a lembrança dos atos maus que dois homens praticaram um contra o outro constitui obstáculo a que entre eles reine simpatia. Essa lembrança os induz a se afastarem um do outro.

Àqueles a quem fizemos mal neste mundo, se são bons, nos perdoam segundo o nosso arrependimento. Se maus, é possível que guardem ressentimento do mal que lhes fizemos e nos persigam até em outra existência. Deus pode permitir que assim seja, por castigo.

Continua a existir, no mundo dos Espíritos, a afeição mútua que dois seres se consagraram na Terra, desde que originada de verdadeira simpatia. Se, porém, nasceu principalmente de causas de ordem física, desaparece com a causa. As afeições entre os Espíritos são mais sólidas e duráveis do que na Terra, porque não se acham subordinadas aos caprichos dos interesses materiais e do amor-próprio.

A teoria das metades eternas representa, de maneira figurada, a união de dois Espíritos simpáticos. Não pertencem a ordem elevada os Espíritos que a empregam. Não se deve aceitar a ideia de que, criados um para o outro, dois Espíritos tenham, fatalmente, que se reunir um dia na eternidade, depois de haverem estado separados por tempo mais ou menos longo.

Não há união particular e fatal de duas almas. A união que há é a de todos os Espíritos, mas em graus diversos, segundo a categoria que ocupam, isto é, segundo a perfeição que tenham adquirido. Quanto mais perfeitos, tanto mais unidos. Da discórdia nascem todos os males dos humanos; da concórdia resulta a completa felicidade. A simpatia que atrai um Espírito para outro resulta da perfeita concordância de seus pendores e instintos. Da discórdia, nascem todos os males dos humanos; da concórdia resulta a completa felicidade.

Assim, é inexata a expressão “metades eternas” usada para designar certos Espíritos simpáticos, unidos por uma grande afeição, uma vez que, se um Espírito fosse a metade de outro, separados os dois, estariam ambos incompletos.

O Espírito Emmanuel, por sua vez, utiliza-se do termo almas gêmeas, para designar dois Espíritos mais intimamente ligados nas experiências evolutivas, ressaltando, contudo, que não se trata, no caso, das referidas metades eternas. E acrescenta que o amor das almas gêmeas não constitui restrição ao amor universal, porquanto, atingida a culminância evolutiva, todas as expressões afetivas se irmanam na conquista do amor divino. O amor das almas gêmeas, em suma, é aquele que o Espírito, um dia, sentirá pela Humanidade inteira.

Em resumo, pode-se dizer que a simpatia ou antipatia têm as suas raízes profundas no espírito, na sutilíssima entrosagem dos fluidos peculiares a cada um e, quase sempre, de modo geral, atestam uma renovação de sensações experimentadas pela criatura, desde o pretérito delituoso, em iguais circunstâncias.

Devemos considerar que toda antipatia, aparentemente a mais justa, deve morrer para dar lugar à simpatia que edifica o coração para o trabalho construtivo e legítimo da fraternidade. Isso porque o amor é uma força inexaurível, renova-se sem cessar e enriquece ao mesmo tempo aquele que dá e aquele que recebe.

Movidos pelo amor, os Espíritos constituem também agrupamentos separados, famílias que se foram pouco a pouco formando através dos séculos, pela comunidade das alegrias e das dores. Essas famílias se fortalecem pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das várias migrações da alma.

Bibliografia:

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Mediunidade: estudo e prática. Programa I. 2ª Edição. Brasília/DF, Federação Espírita Brasileira, 2018.

ROCHA, Cecília (Organizadora). Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita: programa complementar. Tomo Único. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

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