Afeição dos Espíritos

Este tema encontra-se em “O Livros dos Espíritos”, de Allan Kardec, nas questões de 484 a 521, que trata da afeição dos Espíritos.

Os Espíritos se afeiçoam a certas pessoas, sendo que os bons Espíritos simpatizam com os homens de bem, ou suscetíveis de se melhorarem, e os Espíritos inferiores com os homens viciosos, ou que podem tornar-se tais. Daí as suas afeições, como consequência da conformidade dos sentimentos.

A afeição espiritual nada tem de carnal. Entretanto, quando um Espírito se apega a uma pessoa, nem sempre o faz só por afeição.

Os bons Espíritos nos fazem todo o bem possível, sentindo-se felizes com as nossas alegrias e afligem-se com os nossos males, quando não os suportamos com resignação, porque nenhum benefício tiramos deles. O egoísmo e a dureza do coração são sentimentos de ordem moral que mais afligem os bons Espíritos do que os sofrimentos físicos, pois sabem da transitoriedade da vida corporal e que as tribulações são meios de alcançarmos melhor estado. Vendo nas amarguras da vida meio de nos adiantarmos, os Espíritos as consideram como crise ocasional que resultará na salvação do doente. Assim, compadecem-se dos nossos sofrimentos, porém, enxergando as coisas do ponto de vista mais justo, os apreciam de modo diverso do nosso.

Espíritos protetores, Anjos Guardiães, familiares e simpáticos

Muitas vezes, um Espírito se une particularmente a um indivíduo para protegê-lo. É o chamado irmão espiritual, bom Espírito ou bom gênio, Espírito familiar, ou Anjo da Guarda ou guardião, esta última denominação para designar o Espírito protetor pertencente a uma ordem elevada. Por conseguinte, há gradações na proteção e na simpatia.

A missão do Espírito protetor é como a de um pai com relação aos filhos, ou seja, a de guiar o seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições e levantar-lhe o ânimo nas provas da vida.

Para a missão de Espírito protetor, pressupõe-se certo grau de elevação e um poder ou uma virtude a mais, concedidos por Deus.

O Espírito protetor dedica-se ao indivíduo desde o nascimento até a morte, e muitas vezes o acompanha na vida espírita e nas muitas existências corpóreas, ficando obrigado a nos assistir uma vez que aceitou esse encargo. Cabe-lhe, porém, o direito de escolher seres que lhe sejam simpáticos. Para alguns, é um prazer; para outros, missão ou dever.

A ação dos Espíritos protetores sobre a nossa existência é oculta, não a fazendo de modo ostensivo, pois se nos fosse dado contar sempre com a ação deles, não obraríamos por nós mesmos e o nosso Espírito não progrediria. Para que possamos nos adiantar, precisamos de experiência, adquirindo-a à nossa custa. É necessário que exercitemos as nossas forças.

A ação dos Espíritos que nos querem bem é de maneira a não obstar o nosso livre-arbítrio, porquanto, se não tivéssemos responsabilidade, não avançaríamos na senda que nos há de conduzir a Deus. Não vendo quem nos ampara, o homem confia às suas próprias forças, embora o nosso guia, de tempos a tempos, brada, advertindo-nos do perigo.

É mérito para o Espírito protetor que consegue trazer ao bom caminho o seu protegido, seja para o seu progresso, seja para a sua felicidade. Sente-se ditoso quando vê bem-sucedidos os seus esforços, o que representa para ele um triunfo. Contudo, ele não é responsável pelo mau resultado de seus esforços, pois que fez o que de si dependia. Entretanto, o Espírito protetor sofre quando vê que seu protegido segue mau caminho, não obstante os avisos que dele recebe. Tal aflição não tem analogia com as angústias da paternidade terrena, porque ele sabe que há remédio para o mal e que o que não se faz hoje, amanhã se fará.

Dedicando-se a uma pessoa, o Espírito não renuncia a proteger outros indivíduos, mas protege-os menos exclusivamente.

Pode suceder que alguns Espíritos deixam as suas posições de protetores para desempenhar diversas missões. Mas, nesse caso, outros os substituem.

O Espírito afasta-se quando vê que seus conselhos são inúteis e que mais forte é, no seu protegido, a decisão de submeter-se à influência dos Espíritos inferiores. Mas, não o abandona completamente e sempre se faz ouvir. É então o homem quem tapa os ouvidos. O protetor volta desde que este o chame.

O Espírito protetor entende que das provas o seu protegido sai mais instruído e perfeito. Assiste-o sempre com seus conselhos, dando-os por meio dos bons pensamentos que lhe inspira. A fraqueza, o descuido ou o orgulho do homem é o que empresta força aos maus Espíritos, cujo poder advém do fato de não lhes opor resistência.

Há circunstâncias em que não é necessário esteja o Espírito protetor junto do seu protegido, e momentos em que o Espírito deixe de precisar do seu protetor, quando ele atinge o ponto de poder guiar-se a si mesmo. Isso, porém, não se dá na Terra.

Não temos como saber o nome do Espírito protetor ou Anjo da Guarda, porquanto é nome inexistente para nós. Podemos invocá-lo com o nome que queremos ou de Espírito superior que nos inspire simpatia ou veneração. O nosso protetor acudirá ao apelo que com esse nome lhe dirigimos, visto que todos os bons Espíritos são irmãos e se assistem mutuamente. Muitas vezes, os Espíritos protetores que dão nomes conhecidos são simpáticos aos que de tais nomes usaram na Terra e, a mando destes, respondem ao nosso chamamento. Se fazemos questão de nomes, eles tomam um que nos inspire confiança.

Doutrina dos Anjos Guardiães

A Doutrina dos Anjos Guardiães é consoladora por saber que temos sempre junto de nós seres superiores prontos a nos aconselhar, amparar e ajudar na ascensão do bem. Eles estão ao nosso lado por ordem de Deus, desempenhando bela missão. Eles estarão conosco onde quer que estejamos.

Os Anjos, segundo o Espiritismo, não constituem seres privilegiados na Criação. São Espíritos chegados ao grau de perfeição que a criatura comporta, fruindo em sua plenitude a prometida felicidade. Antes de atingir o grau supremo, gozam de felicidade relativa ao seu adiantamento, felicidade que consiste, não na ociosidade, mas nas funções que Deus confiou. Uma dessas funções consiste em assistir os homens, ajudando-os a progredirem. Embora o Anjo propriamente dito seja aquele que se elevou na hierarquia espiritual até atingir o estado de Espírito puro, o Anjo Guardião pode pertencer a uma ordem elevada sem, necessariamente, haver alcançado a perfeição moral.

Precisamos evocar os nossos Anjos Guardiães e estabelecer uma intimidade com eles. Não podemos ocultar nada deles, pois têm o olhar de Deus e não podemos enganá-los.

Esses Espíritos verdadeiramente elevados consagram-se na tarefa laboriosa de todos os instantes, embora estando muito distantes de nós vivendo em outro mundo. O espaço para eles é nada. Eles se ligam conosco, gozando de qualidades que não compreendemos.

Espíritos simpatizantes

Os Espíritos simpáticos são os que se sentem atraídos para o nosso lado por afeições particulares e ainda por uma certa semelhança de gostos e de sentimentos, tanto para o bem como para o mal. A duração dessas relações se acha subordinada às circunstâncias.

Os Espíritos que conosco simpatizam são atraídos pela identidade de pensamentos e sentimentos. Qualquer que seja o seu caráter, o homem sempre encontra Espíritos que com ele simpatizem.

Espíritos familiares

O Espírito familiar é o amigo da casa. Parentes e amigos, que nos precederam em outra vida, maior simpatia nos devotam e protegem como Espíritos, de acordo com o poder de que dispõem, quase sempre muito restrito. Deus não exige do Espírito mais do que comportem a sua natureza e o grau de elevação a que já chegou. O progresso do Espírito familiar guarda relação com o do Espírito protegido.

Os Espíritos familiares se ligam por laços mais ou menos duráveis, com o fim de serem úteis. São bons, porém muitas vezes pouco adiantados ou um tanto levianos. Ocupam-se de boa mente com as particularidades da vida íntima e só atuam por ordem ou com permissão dos Espíritos protetores.

Tendo um Espírito que vela por nós, podemos tornar-nos, a nosso turno, o protetor de outro que nos seja inferior e os progressos que este realize, com o auxílio que lhe dispensamos, contribuirão para o nosso adiantamento.

Mau gênio

O mau gênio é um Espírito imperfeito ou perverso, que se liga ao homem para desviá-lo do bem. Obra por impulso próprio e não no desempenho de missão. A tenacidade da sua ação está em relação direta com a maior ou menor facilidade de acesso que encontre por parte do homem, que goza sempre da liberdade de escutar a voz ou de cerrar os ouvidos.

Acerca de pessoas que se ligam a certos indivíduos para levá-los à perdição, efetivamente, certas pessoas exercem sobre outras uma espécie de fascinação que parece irresistível. Quando isso se dá no sentido do mal, são maus Espíritos, de que outros Espíritos também maus se servem para subjugá-las. Deus permite que tal coisa ocorra para nos experimentar.

Os maus Espíritos se unem para neutralizar a ação dos bons. Mas, se o quiser, o protegido dará toda a força ao seu protetor. Pode acontecer que o bom Espírito encontre alhures uma boa vontade a ser auxiliada. Aplica-se então em auxiliá-la, aguardando que seu protegido lhe volte. Os bons Espíritos nunca fazem mal.

Afeição coletiva

Os Espíritos preferem estar no meio dos que se lhes assemelham. Acham-se aí mais à vontade e certos de serem ouvidos. É pelas suas tendências que o homem atrai os Espíritos e isso quer esteja só, quer faça parte de um todo coletivo, como uma sociedade, uma cidade ou um povo. As sociedades, as cidades e os povos são, de acordo com as paixões e o caráter neles predominantes, assistidos por Espíritos mais ou menos elevados.

O aperfeiçoamento moral das coletividades, como o dos indivíduos, tende a afastar os maus Espíritos e a atrair os bons, que estimulam e alimentam nelas o sentimento do bem, como outros lhes podem insuflar as paixões grosseiras.

As aglomerações de indivíduos, como as sociedades, cidades e nações, têm Espíritos protetores especiais pela razão de que esses agregados são individualidades coletivas que, caminhando para um objetivo comum, precisam de uma direção superior.

Os Espíritos protetores das coletividades são relativos ao grau de adiantamento das coletividades e dos indivíduos.

Quanto aos Espíritos auxiliar o progresso das artes, protegendo os que às artes se dedicam, há Espíritos protetores especiais e que assistem os que os invocam, quando dignos dessa assistência. Os antigos fizeram, desses Espíritos, divindades especiais. As Musas não eram senão a personificação alegórica dos Espíritos protetores das ciências e das artes, como os deuses Lares e Penates simbolizavam os Espíritos protetores da família. Também modernamente, as artes, as diferentes indústrias, as cidades, os países têm seus patronos, que mais não são do que Espíritos superiores, sob várias designações.

Tendo todo homem Espíritos que com ele simpatizam, claro é que, nos corpos coletivos, a generalidade dos Espíritos que lhes votam simpatia está em proporção com a generalidade dos indivíduos; que os Espíritos estranhos são atraídos para essas coletividades pela identidade dos gostos e das ideias; em suma, que esses agregados de pessoas, tanto quanto os indivíduos, são mais ou menos bem assistidos e influenciados, de acordo com a natureza dos sentimentos dominantes entre os elementos que os compõem.

Nos povos, determinam a atração dos Espíritos os costumes, os hábitos, o caráter dominante e as leis, as leis sobretudo, porque o caráter de uma nação se reflete nas suas leis. Fazendo reinar em seu seio a justiça, os homens combatem a influência dos maus Espíritos. Onde quer que as leis consagrem coisas injustas, contrárias à Humanidade, os bons Espíritos ficam em minoria e a multidão, que aflui, dos maus mantém a nação aferrada às suas ideias e paralisa as boas influências parciais, que ficam perdidas no conjunto, como insuladas espigas entre espinheiros. Estudando-se os costumes dos povos ou de qualquer reunião de homens, facilmente se forma ideia da população oculta que se lhes imiscui no modo de pensar e nos atos.

Assim, entre nós e os nossos anjos guardiões pode existir uma grande desigualdade evolutiva. Tal circunstância, porém, não nos afasta da sua constante proteção, embora a sua influência possa exercer-se à distância. Teremos, no entanto, sempre à nossa volta Espíritos protetores, uma vez que, em “[…] qualquer região, convivem conosco os Espíritos familiares de nossa vida e de nossa luta. Dos seres mais embrutecidos aos mais sublimados, temos a corrente de amor, cujos elos podemos simbolizar nas almas que se querem ou que se afinam umas com as outras, dentro da infinita gradação do progresso”.

Todos temos “[…] um desses Gênios tutelares que nos inspira nas horas difíceis e dirige-nos pelo bom caminho. […] Saber que temos um amigo fiel e sempre disposto a socorrer-nos, de perto como de longe, influenciando-nos a grandes distâncias ou conservando-se junto de nós nas provações; saber que ele nos aconselha por intuição e nos aquece com o seu amor, eis uma fonte inapreciável de força moral. O pensamento de que testemunhas benévolas e invisíveis veem todos os nossos atos, regozijando-se ou entristecendo-se, deve inspirar-nos mais sabedoria e circunspecção. É por essa proteção oculta que se fortificam os laços de solidariedade que ligam o mundo celeste à Terra, o Espírito livre ao homem, Espírito prisioneiro da carne. É por essa assistência contínua que se criam, de um a outro lado, as simpatias profundas, as amizades duradouras e desinteressadas. O amor que anima o Espírito elevado vai pouco a pouco se estendendo a todos os seres sem cessar, revertendo tudo para Deus, pai das almas, foco de todas as potências efetivas”.

“Deus, em o nosso anjo guardião, nos deu um guia principal e superior e, nos Espíritos protetores e familiares, guias secundários”.

Bibliografia:

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Mediunidade: estudo e prática. Programa I. 2ª Edição. Brasília/DF, Federação Espírita Brasileira, 2018.

ROCHA, Cecília (Organizadora). Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita: programa complementar. Tomo Único. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

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