Pelo dicionário, êxtase é o estado de quem se encontra como que transportado para fora de si e do mundo sensível, por efeito de exaltação mística ou de sentimentos muito intensos de alegria, prazer, admiração, temor reverente etc. Ou absorção em uma ideia fixa, acompanhada de perda de sensibilidade e motricidade.
Pela Wikipédia, “literalmente quer dizer arrebatar-se, desprender-se subitamente, sair de si, elevar-se (do grego ékstasis, pelo latim tardio ecstase, exstase), corresponde ao sentimento de prazer, expressão tanto utilizada para descrever o orgasmo como o transe, resultado da meditação, sendo que em algumas manifestações culturais, a exemplo do Yôga tântrico, há relação do orgasmo com o êxtase religioso a ser aprendida. Referindo-se ao ‘transe’ religioso pode ser também descrito como ‘consciência cósmica’ (ampliada), ‘comunhão com a natureza’; ‘iluminação’ e ainda vocábulos de religiões específicas como nirvana que, no budismo, significa paz, estado de ausência total de sofrimento”.
O estado de êxtase já foi comparado aos estados hipnóticos e do sono.
Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, trata deste tema, das questões 439 a 446, dentro do contexto das situações de emancipação da alma:
“ÊXTASE
439. Que diferença há entre o êxtase e o sonambulismo?
“O êxtase é um sonambulismo mais apurado. A alma do extático ainda é mais independente”.
440. O Espírito do extático penetra realmente nos mundos superiores?
“Vê esses mundos e compreende a felicidade dos que os habitam, donde lhe nasce o desejo de lá permanecer. Há, porém, mundos inacessíveis aos Espíritos que ainda não estão bastante purificados”.
441. Quando o extático manifesta o desejo de deixar a Terra, fala sinceramente, não o retém o instinto de conservação?
“Isso depende do grau de purificação do Espírito. Se verifica que a sua futura situação será melhor do que a sua vida presente, esforça-se por desatar os laços que o prendem à Terra”,
442. Se se deixasse o extático entregue a si mesmo, poderia sua alma abandonar definitivamente o corpo?
“Perfeitamente, poderia morrer. Por isso é que preciso se torna chamá-lo a voltar, apelando para tudo o que o prende a este mundo, fazendo-lhe sobretudo compreender que a maneira mais certa de não ficar lá, onde vê que seria feliz, consistiria em partir a cadeia que o tem preso ao planeta terreno”.
443. Pretendendo que lhe é dado ver coisas que evidentemente são produto de uma imaginação que as crenças e prejuízos terrestres impressionaram, não será justo concluir-se que nem tudo o que o extático vê é real?
“O que o extático vê é real para ele. Mas, como seu Espírito se conserva sempre debaixo da influência das ideias terrenas, pode acontecer que veja a seu modo, ou melhor, que exprima o que vê numa linguagem moldada pelos preconceitos e ideias de que se acha imbuído, ou, então, pelos vossos preconceitos e ideias, a fim de ser mais bem compreendido. Neste sentido, principalmente, é que lhe sucede errar”.
444. Que confiança se pode depositar nas revelações dos extáticos?
“O extático está sujeito a enganar-se muito frequentemente, sobretudo quando pretende penetrar no que deva continuar a ser mistério para o homem, porque, então, se deixa levar pela corrente das suas próprias ideias, ou se torna joguete de Espíritos mistificadores, que se aproveitam da sua exaltação para fasciná-lo”.
445. Que deduções se podem tirar dos fenômenos do sonambulismo e do êxtase? Não constituirão uma espécie de iniciação na vida futura?
“A bem dizer, mediante esses fenômenos, o homem entrevê a vida passada e a vida futura. Estude-os e achará o aclaramento de mais de um mistério, que a sua razão inutilmente procura devassar”.
446. Poderiam tais fenômenos adequar-se às ideias materialistas?
“Aquele que os estudar de boa-fé e sem prevenções não poderá ser materialista, nem ateu”.
Em “O Livro dos médiuns”, de Allan Kardec, temos:
“Médiuns extáticos: os que, em estado de êxtase, recebem revelações da parte dos Espíritos.
Muitos extáticos são joguetes da própria imaginação e de Espíritos zombeteiros que se aproveitam da exaltação deles. São raríssimos os que mereçam inteira confiança”. (…)
“3ª Como distinguir se o Espírito que responde é o do médium ou outro?
Pela natureza das comunicações. Estuda as circunstâncias e a linguagem e distinguirás. no estado de sonambulismo, ou de êxtase, é que, principalmente, o Espírito do médium se manifesta, porque então se encontra mais livre. no estado normal é mais difícil. aliás, há respostas que se lhe não podem atribuir de modo algum. por isso é que te digo: estuda e observa”.
Dentre os fenômenos de emancipação da alma, Allan Kardec põe em evidência o sonambulismo e o êxtase, que podem ser observados na prática mediúnica. Pela natureza das comunicações, no estado de sonambulismo, ou de êxtase, é que, principalmente, o Espírito do médium se manifesta, porque então se encontra mais livre.
O êxtase é um sonambulismo mais apurado. A alma do extático ainda é mais independente. No estado de êxtase, o aniquilamento do corpo é quase completo. Fica-lhe somente a vida orgânica. Sente-se que a alma se lhe acha presa unicamente por um fio, que mais um pequenino esforço quebraria sem remissão. Nesse estado, desaparecem todos os pensamentos terrestres, cedendo lugar ao sentimento apurado, que constitui a essência mesma do nosso ser imaterial. “Por isso é que preciso se torna chamá-lo a voltar, apelando para tudo o que o prende a este mundo, fazendo-lhe sobretudo compreender que a maneira mais certa de não ficar lá, onde vê que seria feliz, consistiria em partir a cadeia que o tem preso ao planeta terreno”.
Em suma, pode-se dizer que o sonambulismo natural e artificial, o êxtase e a dupla vista são efeitos vários, ou de modalidades diversas, de uma mesma causa. Esses fenômenos, como os sonhos, estão na ordem da natureza. Tal a razão por que hão existido em todos os tempos. A História mostra que foram sempre conhecidos e até explorados desde a mais remota Antiguidade e neles se nos depara a explicação de uma imensidade de fatos que os preconceitos fizeram fossem tidos por sobrenaturais.
Bibliografia:
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Médiuns. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Mediunidade: estudo e prática. Programa I. 2ª Edição. Brasília/DF, Federação Espírita Brasileira, 2018.
ROCHA, Cecília (Organizadora). Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita: programa complementar. Tomo Único. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.
Muito bom ler sobre o êxtase.