Letargia, catalepsia, mortes aparentes

Pelo dicionário, a letargia é um estado de profunda e prolongada inconsciência, semelhante ao sono profundo, do qual a pessoa pode ser despertada e retornar a si. Ou, perda temporária ou completa da sensibilidade e do movimento por causa fisiológica, levando o indivíduo a um estado mórbido em que as funções vitais estão atenuadas de tal forma que parece estarem suspensas, dando ao corpo a aparência de morte.

Na letargia, a pessoa encontra-se em uma condição de torpor ou de lentidão funcional. Há imobilidade generalizada e o sono letárgico pode conduzir à morte; outras vezes, não há sono propriamente dito, ainda que não ocorra qualquer resposta muscular. Nestas condições, o indivíduo sabe o que está se passando, pode sofrer seus efeitos, mas é incapaz de exercer suficiente força de vontade para a promoção de uma defesa muscular.

Já catalepsia é uma patologia em que os membros se tornam rígidos, mas não há contrações. Catalepsia também é um termo usado pelo hipnotizador para descrever um braço ou perna sem capacidade aparente de movimento ou para o transe completo.

Para a Medicina, letargia e catalepsia são estados patológicos, cujas causas são variadas, desde lesões cerebrais, ação de certas substâncias químicas ou grave perturbação psicológica.

A letargia e a catalepsia têm o mesmo princípio, que é a perda momentânea da sensibilidade e do movimento, por uma causa fisiológica ainda não explicada. Diferem uma da outra pelo fato de que, na letargia, a suspensão das forças vitais é geral e dá ao corpo todas as aparências da morte; na catalepsia, ela é localizada e pode afetar uma parte mais ou menos extensa do corpo, de modo a deixar a inteligência livre para se manifestar, o que não permite confundi-la com a morte.

A letargia é sempre natural. A catalepsia, em certas ocasiões, é espontânea, mas pode ser provocada e desfeita artificialmente pela ação magnética. Considerando-se que em ambas as condições há paralisia, total ou parcial, a pessoa apresenta um quadro que, popularmente, foi alcunhado de “morte aparente”.

Para o Espiritismo, Allan Kardec cuida deste tema em “O Livro dos Espíritos”, das questões 422 a 424, dentro do contexto das situações de emancipação da alma.

“LETARGIA, CATALEPSIA, MORTES APARENTES

422. Os letárgicos e os catalépticos, em geral, veem e ouvem o que em derredor se diz e faz, sem que possam exprimir que estão vendo e ouvindo. É pelos olhos e pelos ouvidos que têm essas percepções?

“Não; pelo Espírito. O Espírito tem consciência de si, mas não pode comunicar-se.”

a) Por quê?

“Porque a isso se opõe o estado do corpo. E esse estado especial dos órgãos vos prova que no homem há alguma coisa mais do que o corpo, pois que, então, o corpo já não funciona e, no entanto, o Espírito se mostra ativo”.

423. Na letargia, pode o Espírito separar-se inteiramente do corpo, de modo a imprimir-lhe todas as aparências da morte e voltar depois a habitá-lo?

“Na letargia, o corpo não está morto, porquanto há funções que continuam a executar-se. Sua vitalidade se encontra em estado latente, como na crisálida, porém não aniquilada. Ora, enquanto o corpo vive, o Espírito se lhe acha ligado. Em se rompendo, por efeito da morte real e pela desagregação dos órgãos, os laços que prendem um ao outro, integral se torna a separação e o Espírito não volta mais ao seu envoltório. Desde que um homem, aparentemente morto, volve à vida, é que não era completa a morte”.

424. Por meio de cuidados dispensados a tempo, podem reatar-se laços prestes a se desfazerem e restituir-se à vida um ser que definitivamente morreria se não fosse socorrido?

“Sem dúvida e todos os dias tendes a prova disso. O magnetismo, em tais casos, constitui, muitas vezes, poderoso meio de ação, porque restitui ao corpo o fluido vital que lhe falta para manter o funcionamento dos órgãos”.

Na letargia, o corpo não está morto, porquanto há funções que continuam a executar-se. Sua vitalidade se encontra em estado latente, porém não aniquilada. Enquanto o corpo vive, o Espírito se lhe acha ligado.

Na catalepsia, ocorre diminuição generalizada da resposta, pois apenas uma parte do corpo se mantenha imóvel, que se caracteriza comumente por um estado similar ao transe. Mesmo com o paciente nesta situação, as conversas podem ser ouvidas.

Por isso é que os letárgicos e os catalépticos, em geral, veem e ouvem o que em derredor se diz e faz, sem que possam exprimir que estão vendo e ouvindo. Essa visão e audiência eles não as têm pelos sentidos físicos e sim pelos espirituais. O Espírito tem consciência de si, mas não pode comunicar-se.

Em suma, pode-se dizer que, em certos estados patológicos, quando o Espírito há deixado o corpo e o perispírito só por alguns pontos se lhe acha aderido, apresenta ele, o corpo, todas as aparências da morte e enuncia-se uma verdade absoluta, dizendo que a vida aí está por um fio.

Semelhante estado pode durar mais ou menos tempo; podem mesmo algumas partes do corpo entrar em decomposição, sem que, no entanto, a vida se ache definitivamente extinta. Enquanto não se haja rompido o último fio, pode o Espírito, quer por uma ação enérgica, da sua própria vontade, quer por um influxo fluídico estranho, igualmente forte, ser chamado a volver ao corpo. É como se explicam certos fatos de prolongamento da vida contra todas as probabilidades e algumas supostas ressurreições.

Quando, porém, as últimas moléculas do corpo fluídico se têm destacado do corpo carnal, ou quando este último há chegado a um estado irreparável de degradação, impossível se torna todo regresso à vida.

Bibliografia:

KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Médiuns. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Mediunidade: estudo e prática. Programa I. 2ª Edição. Brasília/DF, Federação Espírita Brasileira, 2018.

ROCHA, Cecília (Organizadora). Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita: programa complementar. Tomo Único. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

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