“Logo depois andava Jesus pelas cidades e aldeias, pregando e anunciando as boas novas do reino de Deus, e iam com ele os doze e algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades; Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios”. (Lucas, 8: 1-2)
“Um dos fariseus convidou-o para jantar com ele. E entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa. Havia na cidade uma mulher que era pecadora, e esta, sabendo que ele estava jantando na casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro com perfume e, pondo-se-lhe aos pés, chorando, começou a regá-los com lágrimas, e os enxugava com os cabelos da sua cabeça, e beijava-lhe os pés e ungia-os com perfume. Ao ver isto, o fariseu que o convidara, dizia consigo: se este homem fosse profeta; saberia quem é que o toca e que sorte de mulher é, pois é uma pecadora. Então Jesus disse ao fariseu: Simão, tenho uma coisa para te dizer. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. Certo credor tinha dois devedores; um lhe devia quinhentos denários, e o outro cinquenta. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou a dívida a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais? Respondeu Simão: suponho que aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem. E virando-se para a mulher, disse a Simão: vês esta mulher? Entrei na tua casa e não me deste água para os pés, mas estamos regou com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Não me deste ósculo; ela porém, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés. Não ungiste a minha cabeça com óleo, mas esta com perfume ungiu os meus pés. Por isso te digo: Perdoados lhe são os seus pecados, que são muitos, porque ela muito amou. Mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. E disse à mulher: perdoados são os teus pecados. Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer consigo mesmos: Quem é este que até perdoa pecados? Mas Jesus disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz.” (Lucas, 7: 36-50)
“E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria mulher de Clopas, e Maria Madalena”. (João, 19: 25)
“Maria, porém, estava junto à entrada do túmulo, chorando. E enquanto chorava, abaixou-se e olhou para dentro do túmulo, e viu dois anjos com vestes brancas, sentados onde o corpo de Jesus fora posto, um à cabeceira, outro aos pés. Eles lhe perguntaram: Mulher, por que choras? Respondeu ela: Porque tiraram o meu Senhor, e não sei onde o puseram. Tendo dito isto, virou-se para trás e viu a Jesus em pé, mas sem saber que era ele. Perguntou-lhe Jesus: Mulher por que choras? A quem procuras? Ela supondo ser o jardineiro, respondeu: Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. Disse-lhe Jesus: Maria! Ela virando-se disse-lhe: Mestre! Disse-lhe Jesus: Não me toques; porque ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes que subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus. Maria Madalena foi contar aos discípulos: Vi o Senhor, e ele disse-me estas coisas!” (João, 20: 11-18.)
“E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios”. (Marcos, 16: 9)
Maria Madalena, ou Maria de Magdala, era a mulher de quem Jesus tinha expulsado sete espíritos maus. Cheia de gratidão pela graça obtida, vai ao encontro de Jesus na casa de Simão. Sem se preocupar com que o fariseu pensava, lança-se aos pés do Mestre.
Apesar de pecadora, o seu coração arrependido procurava o verdadeiro amor, porque a sua vida pedia novos rumos na busca da felicidade.
Maria Madalena ouvira a Palavra do reino de Deus, semeando em sua alma novos pensamentos, que ressoavam no seu interior, tornando-se admiradora do Messias.
Em seu encontro, Jesus não criticou os seus desvios, nem as faltas cometidas, mas abraçou-a como irmã querida, oferecendo o seu apoio inestimável. A partir desse instante, Maria transformou-se e dedicou-se a servir Jesus, praticando o amor ao próximo.
Ela obteve o perdão de suas culpas não por haver banhado os pés de Jesus com bálsamo e lágrimas, mas porque esse ato foi consequência do pesar profundo que lhe causavam as suas faltas, do arrependimento sincero de que se achava possuída e por serem imensas a sua fé e a esperança naquele diante do qual se prosternava.
Maria de Magdala representa aqueles que cometem equívocos graves em sua marcha evolutiva, mas que conseguem, ao toque do amor do Cristo, reajustar-se perante a Lei de Deus e voltar-se, definitivamente, para o bem.
Seguiu Jesus em muitas de suas peregrinações, estando presente nos momentos dolorosos da crucificação, em companhia de outras mulheres, e no sublime instante da ressurreição do Senhor.
Acolheu como filhas as irmãs que sofriam, os infortunados do caminho, os aleijados e os leprosos. Passou a viver junto deles, em permanente dedicação. Submeteu-se a todo tipo de infortúnio, exemplificando-se como fiel servidora do Cristo, sem jamais desfalecer ou reclamar de algo. Vivendo junto aos leprosos, cuidando deles, foi contaminada pelo agente infeccioso, responsável pela doença.
A morte do corpo a alcançou num momento em que a enfermidade se espalhava, inflexível, por todo o seu organismo, cobrindo-o de pústulas e lesões deformantes. Entretanto, o seu Espírito estava em paz, ela conseguira passar pela porta estreita e alcançara a glória da felicidade verdadeira.
O Espírito Emmanuel, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, assim se referiu à Maria Madalena:
“Madalena
Jesus lhe diz: Maria! Voltando-se, ela lhe diz em hebraico ‘Rabbuni’: que se diz Mestre. (João, 20: 16)
Dos fatos mais significativos do Evangelho, a primeira visita de Jesus, na ressurreição, é daqueles que convidam à meditação substanciosa e acurada.
Por que razões profundas deixaria o divino Mestre tantas figuras mais próximas de sua vida para surgir aos olhos de Madalena, em primeiro lugar?
Somos naturalmente compelidos a indagar por que não teria aparecido, antes, ao coração abnegado e amoroso que lhe servira de Mãe ou aos discípulos amados…
Entretanto, o gesto de Jesus é profundamente simbólico em sua essência divina.
Dentre os vultos da Boa-Nova, ninguém fez tanta violência a si mesmo, para seguir o Salvador, como a inesquecível obsidiada de Magdala. Nem mesmo Paulo de Tarso faria tanto, mais tarde, porque a consciência do Apóstolo dos gentios era apaixonado pela Lei, mas não pelos vícios. Madalena, porém, conhecera o fundo amargo dos hábitos difíceis de serem extirpados, amolecera-se ao contato de entidades perversas, permanecia ‘morta’ nas sensações que operam a paralisia da alma; entretanto, bastou o encontro com o Cristo para abandonar tudo e seguir-lhe os passos, fiel até ao fim, nos atos de negação de si própria e na firme resolução de tomar a cruz que lhe competia no calvário redentor de sua existência angustiosa.
É compreensível que muitos estudantes investiguem a razão pela qual não apareceu o Mestre, primeiramente, a Pedro ou a João, à sua Mãe ou aos amigos. Todavia, é igualmente razoável reconhecermos que, com o seu gesto inesquecível, Jesus ratificou a lição de que a sua doutrina será, para todos os aprendizes e seguidores, o código de ouro das vidas transformadas para a glória do bem. E ninguém, como Maria de Magdala, houvera transformado a sua, à luz do Evangelho redentor”. (Emmanuel. Caminho, verdade e vida. FEB Editora. Cap. 92)
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA.
CAMPOS, Humberto de (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Boa nova. 35ª Edição. Rio de Janeiro/RJ: Federação Espírita Brasileira, 2006.
SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II: orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.
SAYÃO, Antônio Luiz. Elucidações evangélicas à luz da Doutrina Espírita. 16ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.