Certo dia, andando pela rua e olhando os rostos das pessoas, fiquei a pensar, quantos problemas elas deveriam ter por de trás daquelas fisionomias que poderiam expressar ou ocultar sentimentos mais íntimos sem transparecer as aflições vivenciadas.
Relembrando esse fato em uma palestra relacionada a consolo, comentei que todos nós temos problemas na vida, alternando momentos felizes e outros nem tanto, mas que deveríamos enfrentar as provações com coragem, fé, esperança, confiança, resignação e bom ânimo.
Ao ler “Problemas pessoais” do Espírito Joanna de Ângelis, na psicografia de Divaldo Pereira Franco, em “Florações evangélicas”, retornei a essa reflexão, cuja Veneranda ensina:
“Os teus são problemas iguais aos de todas as pessoas. Por mais te creias infeliz, há outros que jazem em grabatos de maiores dores ou que estão encurralados em sombras mais espessas. Mesmo que teimes em ignorar, desfilam ao teu lado na passarela da ilusão os campeões do infortúnio, e brilham nas disputas sociais os ases do sofrimento sob cargas de desespero que não suportarias.
Os teus são os problemas do quotidiano, que todos experimentam, mas que se avolumam e agravam por leviandade ou rebeldia da tua parte.
Não desconheces que o renascimento é condição impostergável e que ele é exigido a todos os Espíritos endividados para benefício deles mesmos. Ao revés de punição é precioso auxílio que lhes faculta liberação dos pesados débitos contraídos nos dias da ignorância. Nenhum de nós tem estado isento de ressarcir… Trânsfugas da reta conduta, somos o que merecemos. A exceção única é Jesus, nosso Modelo e Guia. Mesmo assim, Ele enfrentou problemas sobre problemas até o triunfo na Ressurreição. (…)
A vida em todas as manifestações é uma sucessão de testes e exames a que são submetidos os aprendizes da evolução. (…)
Na via dolorosa, ante as mulheres que o choravam, Jesus advertiu: ‘Filhas de Jerusalém: não choreis por mim, mas chorai por vós mesmas e por vossos filhos…’, caracterizando a necessidade da reflexão e do robustecimento de ânimo de cada um para o invariável compromisso de enfrentar e liberar-se de problemas”. (Espírito Joanna de Ângelis. Florações evangélicas. Problemas pessoais. Capítulo 7.)
Como Espíritos endividados, no nosso entorno, mesmo que muitos possam ignorar, todos enfrentamos tribulações em “sucessão de testes e exames a que são submetidos os aprendizes da evolução”; as aflições caracterizam “a necessidade da reflexão e do robustecimento de ânimo de cada um para o invariável compromisso de enfrentar e liberar-se de problemas”.
Nesse contexto, recordemos o que Jesus disse: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João, 16: 33).
No evangelho de João, o Cristo traz a mensagem da sua paz e de bom ânimo a todos nós diante das aflições, pois “Ele enfrentou problemas sobre problemas até o triunfo na Ressurreição”, vencendo o mundo.
Para melhor entender essa passagem evangélica, o Espírito Emmanuel, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, esclarece “Na vitória real”:
“É importante enumerar algumas das circunstâncias difíceis em que se encontrava Jesus, quando asseverou perante os discípulos: ‘tende bom ânimo; eu venci o mundo’.
Ele era alguém que, na conceituação do mundo, não passava de vencido vulgar.
Sabia-se no momento de entrar em amarga solidão.
Confessava que fora incompreendido pelos homens aos quais se propusera servir.
Não ignorava que os adversários lhe haviam assaltado a comunidade em formação, através de um amigo invigilante.
Dirigia-se aos companheiros, anunciando que eles próprios seriam dispersos.
Falava, sem rebuços, da flagelação de que seria vítima.
Via-se malquisto pela maioria, perseguido, traído.
Não desconhecia que lhe envenenavam as intenções.
Certificara-se de que as pessoas mais altamente colocadas eram as primeiras a examinar o melhor processo de confundi-lo.
Percebera o ódio de que se tornara objeto, principalmente por parte daqueles que pretendiam açambarcar o nome de Deus, a serviço de interesses inferiores.
Reconhecia-se a poucos passos da morte, a que se inclinaria, condenado sem culpa.
Entretanto ele dizia: ‘tende bom ânimo; eu venci o mundo’.
Quanto te encontres em crise, lembra-te do Mestre.
Subjugado, seria o conquistador inesquecível.
Batido, passaria à condição de senhor da vitória.
Assim ocorre, porque os construtores do aperfeiçoamento espiritual não estão na Terra para vencer no mundo, mas notadamente para vencer o mundo, em si mesmos, de modo a servirem ao mundo, sempre mais, e melhor.” (Reformador, maio 1963, p. 98)
Ainda Emmanuel, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, em “Véspera da alegria”, aconselha:
“Se provações te visitam, arrima-te na fé e atende as tarefas que te foram confiadas.
A Terra ainda não é um paraíso, conquanto as fontes e flores que a enriquecem.
O sofrimento está em nós e achamo-nos no presente estágio evolutivo, com bases nas tribulações de que necessitamos para a nossa própria renovação.
Disse-nos Jesus: ‘Tende confiança, eu venci o mundo’.
Sabemos, porém, que a vitória do Senhor veio pela cruz em que foi imolado. Vencido, vencedor. Derrotado e triunfante.
Lembra-te disso e o sofrimento se te fará a véspera da alegria.” (Escultores de almas. Ed. Cultura Espírita União. Cap. “Véspera da alegria”)
Assim, espiritualmente, aquele que desperta para o Cristo não se abate perante as tribulações das provações da vida, porquanto as enfrenta com bom ânimo.
Em todas as circunstâncias da vida, é preciso agir com bom ânimo, empregando energias construtivas no trabalho edificante na prática do bem e da caridade. Não perca o seu tempo com lamentações. Aproveite as dificuldades para produzir bons frutos.
Segue o caminho da verdade divina que liberta a alma, compreendendo o valor das provações, vendo nelas o remédio amargo, mas útil à sua melhoria espiritual.
Não podemos temer ou fugir dos sofrimentos, mas devemos enfrentá-los com bom ânimo e fé, extraindo de suas lições o devido aprendizado. Por isso, devemos buscar nos ensinamentos e exemplos do Mestre Jesus a força para vencer as provações da vida.
Lembre-se que Jesus disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus, 11: 28-30).
Bibliografia:
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito), na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Florações evangélicas. 6ª Edição. Salvador/BA: LEAL, 2020.
EMMANUEL (Espírito), na psicografia de Francisco Cândido Xavier; na coordenação de Saulo Cesar Ribeiro da Silva. O Evangelho por Emmanuel: comentários ao Evangelho segundo João. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.