Certo dia, estava ouvindo a rádio, quando tocou a música “Where is the love”, cantada por Roberta Flack, cuja tradução do inglês é “Onde está o amor?”. Essa pergunta fez-me refletir sobre quantas pessoas também se questionam sobre “onde está o amor”.
Muitos procuram o amor em determinadas coisas, pessoas ou lugares, como se esse sentimento estivesse fora do seu íntimo. Isso porque não o conseguem identificar ou reconhecer as suas características essenciais, imaginando algo totalmente diferente, sem despertar para o verdadeiro amor que emana do Criador.
Equivocados a respeito do amor, passam uma existência inteira procurando-o sem encontrar, sempre fazendo a mesma pergunta: Onde está o amor?
Na verdade, o amor não desperta enquanto sufocado pelo egoísmo, pelo orgulho, pela vaidade, pela soberba, pela indiferença, pela raiva, pelo ódio, pelo ressentimento e pela cegueira para as coisas de Deus.
O interessante é que, naquele mesmo dia da música “Where is the love”, encontrava-me lendo o livro “Garimpo de amor”, do Espírito Joanna de Ângelis, na psicografia de Divaldo Pereira Franco, em cujo prefácio a veneranda benfeitora discorre acerca da procura do amor pelas pessoas, comparando-o a um diamante, um tesouro que necessita ser procurado, encontrado, explorado, trabalhado e lapidado para se tornar uma joia preciosa e brilhante.
No texto “Garimpo de amor”, Joanna de Ângelis conta uma antiga lenda persa de um homem feliz, que residia em uma próspera propriedade com a sua família e alguns animais.
Em dado momento, passou um religioso pedindo hospedagem, sendo acolhido por aquele homem.
O visitante perguntou ao anfitrião se ele era feliz e possuía diamantes ou outras pedras preciosas, as quais seriam as bases da felicidade.
O homem respondeu que se sentia feliz, pois tinha uma família amada, saudável e confiante em Deus. Acrescentou, ainda, que não era ambicioso, dispondo do necessário e indispensável. Não tinha joias ou outras pedras preciosas, mas era feliz.
O religioso disse: “Se não possuis diamantes, talvez jamais os hajas visto, não sabes o que é a felicidade, tampouco és realmente feliz”, fazendo o homem pensar e ponderar a respeito do valor dos diamantes, proporcionando-lhe uma noite mal dormida.
O hóspede, ao despedir-se, sugeriu: “Pensa nos diamantes, conforme te falei”.
A partir de então, o homem passou a cobiçar diamantes e perdeu a sua paz.
Como consequência, o homem resolveu vender sua propriedade, deixou parte do dinheiro com o cunhado, a quem confiou a família, enquanto seguiu viagem na busca de diamantes. Percorreu diversos caminhos na busca dos diamantes, sem jamais os conseguir encontrar.
Envelheceu procurando diamantes e a morte arrebatou-o, vítima de uma enfermidade, sem alcançar a felicidade das pedras preciosas. Sua família dispersou-se e sofreu o abandono, a miséria e a separação.
Quem havia comprado sua propriedade, vivia feliz e era generoso para com todos.
Depois de um tempo, o religioso retornou àquela propriedade e procurou o generoso anfitrião, sendo informado de que ele não mais residia ali.
Convidado a pernoitar naquela mesma residência, após o jantar, observou algumas pedras que brilhavam sobre a lareira. Então, perguntou onde tinham encontrado aquelas pedras, quando responderam que foi no riacho da propriedade. O hospede exclamou: “Estas pedras são diamantes”.
Na manhã seguinte, foram ao córrego, onde encontraram diamantes brutos, negros, brancos e amarelos no leito das águas transparentes.
Moral da história: “O homem, que era feliz sem conhecer diamantes, deixou-os no quintal da residência para ir procurá-los, mundo afora, sem nunca os encontrar.”
Joanna de Ângelis ensina:
“O mesmo fenômeno ocorre com o amor.
As vidas possuem o amor no seu imo, mas não o conhece. Necessitam de alguém que as desperte para o significado profundo e o valor incomparável desse tesouro. No entanto, muitos se referem ao amor como algo que está em tal ou qual lugar, apresenta-se nesta ou naquela situação, sob uma ou outra condição, indicando lugares onde raramente pode ser encontrado.
O amor radica-se no imo de todos os seres pensantes, esperando somente ser identificado, para realizar o mister para o qual se destina.
Não exige sacrifício nem qualquer imposição externa, pois que pulsa, mesmo quando ignorado, realizando o seu mister até o momento em que estua de beleza e harmonia, dominando as paisagens que o agasalham.
La Fontaine escreveu que ‘nada tem poder sobre o amor; o amor tem-no sobre todas as coisas’.
O amor converte os sentimentos humanos e sublima-os, tornando-os santificados e libertadores.
Gandhi afirmava que ‘por mais duro que alguém seja, derreterá no fogo do amor; se não derreter, é porque o fogo não é bastante forte’.
O amor espera pacientemente no leito do rio existencial humano até o momento em que seja descoberto, passando pelo período de desbaste da ganga externa, a fim de que a sua luminescência esplenda em toda a sua glória estelar.
Não surge completo, acabado. Necessita ser trabalhado, aprimorado, bem orientado.
Quanto mais é aplicado, mais se aformoseia, e quanto mais é repartido, mais se multiplica em poder, valor e significado.
É o grande desafio para a existência humana, para a conquista do Espírito imortal.
O amor é um garimpo de diamantes estelares que deve ser explorado.
Possui gemas de diferentes qualidades e valores muito diversos.
De acordo com a coragem e a decisão de quem busca encontrar as suas riquezas insuperáveis, sempre oferece novos matizes e configurações especiais.”
Joanna de Ângelis, em “Amor e matizes”, esclarece:
“Alcança-se a plenitude terrena quando se consegue amar.
Amar, sem qualquer condicionamento ou imposição, constitui a meta que todos devem perseguir, a fim de atingir o triunfo existencial.
O amor é um diamante que, para poder brilhar, necessita ser arrancado da ganga que o envolve no seu estágio primário.
Nasce do coração no rumo da vida, expandindo-se na razão direta em que conquista espaço interno, sempre mais expressivo e irradiante.
É realização do sentimento que se liberta do egoísmo, que se transmuda em compaixão, em solidariedade, em compreensão.
Possuidor de emoções superiores, expressa o nível de evolução de cada ser, à medida que se agiganta.
Quando alguém empreende a tarefa de ser aquele que ama, ocorre uma revolução significativa no seu psiquismo, e todo ele se transforma numa chama que ilumina sem consumir-se, numa tranquilidade que não se altera. (…)
O amor apresenta-se em variados matizes, que são resultados das diversas facetas da mesma gema, refletindo a luz em tonalidades especiais, conforme o ângulo de sua captação.
Expressa-se num misto de ternura e de companheirismo, de interesse pelo êxito do outro e de compreensão das suas dificuldades, de alegria pelas suas conquistas e de compaixão pelos seus desaires, de generosidade que se doa e de cooperação que ajuda.
Mesmo quando não aceito, não se entristece nem descamba em reações psicológicas de autopiedade, preservando-se do luxo de manter ressentimento, ou de propor o afastamento de quem o não recebe. (…)
Onde se apresenta o amor, os espectros do ódio, do ciúme, da cizânia, da maledicência, da perversidade, da traição, do orgulho se diluem, cedendolhe o espaço para a fraternidade, a confiança irrestrita, a união, a estimulação, a bondade, a fidelidade, a simplicidade de coração.
O amor é um tesouro que mais se multiplica, à medida que se reparte, jamais desaparecendo, porque a sua força reside na sua própria constituição, que é de origem divina. (…)
Onde se apresenta o amor, os espectros do ódio, do ciúme, da cizânia, da maledicência, da perversidade, da traição, do orgulho se diluem, cedendolhe o espaço para a fraternidade, a confiança irrestrita, a união, a estimulação, a bondade, a fidelidade, a simplicidade de coração.
O amor é um tesouro que mais se multiplica, à medida que se reparte, jamais desaparecendo, porque a sua força reside na sua própria constituição, que é de origem divina. (…)
Afinal, sendo de essência divina, nunca será demasiado repetir-se que o amor é a emanação da Vida, é a alma de Deus.”
Por fim, o Mestre Jesus nos ensinou onde encontrar o amor, ao dizer: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mateus, 22: 37-40)
Por conseguinte, o amor ao próximo será na mesma intensidade do amor a si mesmo, ou seja, conforme você se ama, ame o seu semelhante. Assim, o amor nasce dentro de você para, posteriormente, irradiar amor ao seu redor.
A esse respeito, em “Amor a si mesmo”, Joanna de Ângelis esclarece:
“O amor que se deve oferecer ao próximo é consequência natural do amor que se reserva a si mesmo, sem cuja presença muito difícil será a realização plena do objetivo da afetividade.
Somente quando a pessoa se ama é que pode ampliar o sentimento nobre, distribuindo-o com aquelas que a cercam, bem como estendendo-o aos demais seres vivos e à mãe Natureza.”
Bibliografia
BÍBLIA SAGRADA
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Garimpo de amor. 6ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal, 2015.