Sermão da Montanha
Jesus proferiu o discurso inicial de sua missão em um monte perto de Cafarnaum, transmitindo à multidão presente a síntese do seu Evangelho.
Naquele Sermão, foram evidenciados os atributos, as virtudes e os valores que se deve adquirir e desenvolver, apesar dos pesos das provas e expiações, para pertencer ao reino de Deus e alcançar as bem-aventuranças prometidas, com fé, coragem, resignação e renúncia, quando aceitamos as leis divinas e o seu reinado.
Geraldo Campetti Sobrinho, Vice-Presidente da Federação Espírita Brasileira, na apresentação do livro “A Voz do Monte: lições do Cristo para uma vida melhor”, de Richard Simonetti, escreveu:
“A mensagem do Cristo, eminentemente consoladora, dirige-se ao coração e nos toca profundamente, enxugando lágrimas e exortando-se ao fortalecimento da fé, pelo enfrentamento das provações a que somos submetidos na jornada terrena. (…)
O Sermão da Montanha ou do Monte, ou ainda, segundo alguns, da Planície, é o mais completo código de virtudes que o homem pode adotar como roteiro para a busca plena da felicidade, a iniciar-se ainda neste mundo material, transitório e impermanente, porque atravessamos, temporariamente, em direção à verdadeira morada que a todos nos aguarda em planos de Espiritualidade. (…)
Apresenta as virtudes indispensáveis que comporão o curriculum vitae do Espírito para a conquista de sua evolução, passo a passo, dentro de suas possibilidades, que se vão ampliando gradativamente na medida em que o ser reconhece-se filho de Deus e empreende os esforços para descobrir o deus interno e desenvolver suas potencialidades anímicas rumo à plenitude espiritual.
Humildade, resignação, mansuetude, justiça, misericórdia, pureza de coração e paz são algumas das virtudes e estados que devemos cultivar para a completa sintonia com as Leis Divinas, no exercício do amor e da prática do bem ao nosso semelhante.”
As bem-aventuranças
As bem-aventuranças compõem o Sermão da Montanha, resumindo mensagens de consolo, amor e compaixão dirigidas a sofredores, cansados e oprimidos, oferecendo-lhes fé, coragem e esperança de dias melhores em seus processos evolutivos.
No livro “A Voz do Monte: lições do Cristo para uma vida melhor”, Richard Simonetti, em “Medicina do futuro”, traz uma profunda reflexão:
“Muito mais importante do que identificar os desvios do passado seria definir os rumos do presente, na procura de um caminho seguro, capaz de nos conduzir à sonhada estabilidade íntima, capacitando-nos a desfrutar, plenamente, dos patrimônios da vida.
Jamais essa senda redentora foi tão maravilhosamente delineada como certo dia, há quase dois mil anos, quando o Sábio dos sábios, Mestre por excelência, falou a pequeno grupo de discípulos que, naquele instante, representavam a Humanidade inteira: ‘Bem-aventurados os humildes, porque deles é o Reino dos Céus…’ (Mateus, 5:3.)
Iniciava-se o Sermão da Montanha, no qual, em breves minutos, Jesus compôs, com a simplicidade da sabedoria autêntica e com a profundidade da verdade revelada, uma síntese das leis morais que regem a evolução humana.”
É exatamente nesse sentido de conscientização do presente na construção do futuro que se deve partir na busca dos progressos moral e espiritual, tendo por fundamento os ensinamentos das bem-aventuranças do Sermão da Montanha.
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus (Mateus, 5: 3)
A humildade espiritual, ou o “pobre de espírito”, é destaque entre as virtudes que precisamos adquirir, pois ela nos conduz a reconhecer o quanto ainda somos carentes de moral para buscar o que falta para realmente conseguir maior progresso espiritual.
Muitos estão satisfeitos com seus estados e consideram-se suficientemente bons, acomodando-se a padrões mínimos de moralidade, seja por ignorância ou orgulho, o que os colocam em situação estacionária em termos de evolução espiritual.
Da mesma maneira, aquele que se presume sem defeitos, salvo e descuida-se da limpeza da alma, quando menos esperar, a morte o surpreenderá sem que tenha avançado pelo menos um passo no sentido da realização espiritual.
Por isso, Jesus disse que o reino dos Céus é dos humildes, pois significa que a ninguém é concedida entrada nesse reino sem a simplicidade de espírito.
Em todas as circunstâncias, a humildade nos aproxima de Deus.
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. (Mateus, 5: 4)
Jesus chama ao consolo os que estão aflitos, cansados e oprimidos diante dos desenganos terrestres, pois que o amparo e a orientação do Cristo são os insumos para a fortaleza moral que liberta a alma dos velhos hábitos que mantêm as pessoas presas às imperfeições.
São palavras saturadas de vibrações amorosas, convidando-nos para o caminho da verdade e da vida eterna em direção ao Pai.
As aflições são oportunidades de reajustes perante a lei de Deus, sendo necessário compreendê-las e aproveitá-las como preciosa lição.
O sofrimento humano tem origem nos atos cometidos pelo Espírito no passado, em outras encarnações, ou na atual existência. É resultado da própria imperfeição humana, que não sabe utilizar adequadamente a liberdade de escolha.
À medida que o ser evolui, a imperfeição atenua, e o sofrimento resultante de suas más escolhas, vai desaparecendo, até cessar de vez.
Pela imortalidade do Espírito, somente na crença da vida futura em pluralidade de existências podem se efetivar as compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra.
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra. (Mateus, 5: 5)
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. (Mateus, 5: 9)
Jesus promete aos brandos e pacíficos que justiça será feita, porque herdarão a Terra e serão chamados filhos de Deus.
Nas rotinas e lutas diárias, deparamo-nos com diversas situações conflituosas no ambiente familiar, no trabalho ou nos relacionamentos interpessoal e social, e como nos aborrecemos e irritamos facilmente diante dessas circunstâncias.
Em certos momentos, tendo o ego e o orgulho feridos, reagimos com ira, raiva e violência, seja porque alguém nos disse algo, deu um encontrão, provocou uma fechada no carro, o vizinho nos incomodou, ou qualquer outro fato inesperado e conflituoso.
É por orgulho ferido que discutimos, brigamos e magoamos. É o orgulho, o exagero do amor-próprio, que deixa de ser amor para tornar-se algo doentio, que dificulta o perdão. Não queremos perder para ninguém nenhuma discussão e tampouco ser ultrapassados.
Acreditando no direito de defesa e na sobrevivência, reagimos e respondemos na mesma intensidade às ofensas e agressões recebidas e, às vezes, até partirmos para o revide de forma passional.
Ofendemos e somos ofendidos, deliberadamente ou sem intenção. Ferimos os semelhantes porque não conseguimos frear os impulsos. Uma simples contrariedade é motivo para perder o equilíbrio.
As ofensas exprimem sentimentos contrários à lei do amor e da caridade que deve existir nas relações entre os homens para manter a concórdia e a união.
Há dois mil anos, ainda não aprendemos a amar o próximo como a nós mesmos!
A caridade e a fraternidade tornam-se uma necessidade social. Somente o progresso moral pode assegurar a felicidade dos homens sobre a Terra, colocando um freio nas más paixões; somente ele pode fazer com que reinem a concórdia, a paz e a fraternidade entre os homens.
Inspirados pelo amor ao semelhante e sem mágoas, devemos trabalhar pela paz e pelo entendimento entre os homens.
A resposta do amor falará de mansidão, brandura, paz e esperança, e exigirá grande esforço e tempo para reflexão, porquanto a prática do amor impõe retribuição. Esforço e tempo estarão conectados com a paciência, no autocontrole emocional que suporta situações desagradáveis, sem perder a calma e a concentração.
Os pacíficos serão reconhecidos como filhos de Deus, porque obedecem à lei da fraternidade, sabendo que todos somos irmãos, filhos de um único Pai, que tratam a todos com brandura, moderação, mansuetude, afabilidade e paciência. É em Jesus que devemos buscar as lições de mansidão de que tanto carecemos nas lutas da vida.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. (Mateus, 5: 6)
Pela lei de causa e efeito, aqueles que não conseguem ajustar-se às leis de Deus no caminho do bem sofrerão as angústias, dores e frustrações como consequência das faltas cometidas.
Como ninguém é condenado à pena eterna, pela justiça divina, os antigos infratores da lei de Deus, que têm fome e sede de justiça, terão nova oportunidade para reparar suas faltas no cenário reencarnatório.
Equivocados em experiências passadas, renascem oprimidos, cansados, famintos e sedentos da justiça divina a fim de que possam reajustar sua caminhada evolutiva.
O brado desses famintos e sedentos dimana o anseio por uma vida feliz. É por esse fio de esperança, no entendimento e equacionamento das causas de seus sofrimentos, pela adesão ao esforço de melhoria interior, que acabarão por alcançar a condição de fartos.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. (Mateus, 5: 7)
Misericórdia é sentimento de pesar ou caridade despertado pela infelicidade de outrem; piedade; compaixão; e perdão concedido unicamente por bondade.
Essa bem-aventurança trata da felicidade dos que são misericordiosos, porque se tiverem misericórdia obterão misericórdia.
Estamos diante da lei de ação e reação, em que tudo aquilo que fazemos voltará para nós mesmos, esta é uma das razões para que tenhamos misericórdia para com os nossos semelhantes, já que, muitas vezes, necessitamos dessa mesma misericórdia. Tudo que plantamos colhemos.
Pelo egoísmo, achamos que somente Deus e os outros devem ter misericórdia para conosco, mas nós não temos a mesma obrigação de ser misericordiosos com eles.
Além disso, a misericórdia prepara o coração para outros sentimentos. Abre as portas para a prática da caridade.
A misericórdia consiste também no esquecimento e no perdão das ofensas.
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. (Mateus, 5: 8)
Para os cristãos, o coração sempre abrigou a essência do ser, permitindo a aproximação entre Deus e os homens, e uma relação direta entre amor e espiritualidade, sendo o coração símbolo do sentimento de amor.
O coração está relacionado aos sentimentos humanos, bons ou ruins.
Quem tem puro o coração é aquele que o limpou de todos os sentimentos contrários aos ensinamentos de Jesus, que afastou o egoísmo e o orgulho, semeando a simplicidade e a humildade.
A pureza do coração evitará o endurecimento espiritual na alma, porque ela aquecerá e irradiará amor em todas as direções.
A pureza do coração ajudará a identificar, ou ver, a presença de Deus em toda parte.
O ver a Deus deve ser entendido como a iluminação interior em decorrência do coração puro daquele que enxerga as leis de Deus e os ensinamentos de Jesus.
Somente aqueles, cujo coração é limpo e sincero, verão (compreenderão) a Deus. Se queremos ver a Deus, devemos manter limpa a janela da alma. Podemos vê-Lo a partir do momento em que Ele se torna uma experiência real em nossa vida.
Bem-aventurados os que têm sido perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. (Mateus, 5: 10)
A história relata que os judeus da época além de não aceitarem Jesus como o Messias aguardado, desprezaram-no, perseguiram-no e o crucificaram.
Em nosso mundo, raramente acatamos o código de justiça trazido por Jesus.
O discípulo fiel deve insistir na vivência do Evangelho ainda que sob o peso de sacrifícios e perseguição.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição ou incompreensão por amor à solidariedade, à ordem, ao progresso e à paz, reconhecendo os sagrados interesses da humanidade, servindo sem cessar ao engrandecimento do espírito comum, porque, assim, se habilitam à transferência justa para as atividades do plano superior.
Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem, vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque grande é o vosso galardão nos Céus; pois assim perseguiram aos profetas que existiram antes de vós. (Mateus, 5: 11-12)
Richard Simonetti, no livro “A Voz do Monte: lições do Cristo para uma vida melhor”, no Capítulo 9, em “O assédio das sombras”, esclarece:
“Jesus demonstra aos cristãos iniciantes, convocados à disseminação de seus princípios, que a tarefa não seria fácil. Assim como homens santos, no passado, haviam sido contestados e, não raro, eliminados, a comunidade cristã também enfrentaria duros testemunhos.
Ele próprio seria crucificado, não sem antes lembrar, na última ceia com os discípulos, que o servo não pode ser maior do que o senhor: ‘Se me perseguiram, também perseguirão a vós outros’.
Suas previsões cumpriram-se integralmente. Pelos séculos afora os seguidores da doutrina nascente enfrentariam perseguições sem fim. (…)
A Terra evoluiu nestes dois mil anos de Cristianismo. As lições de Jesus impuseram substanciais mudanças nos costumes e nas leis. Todavia, o homem ainda não superou milenárias tendências inferiores, disposto à violência, comprometido com a irresponsabilidade, encastelado no egoísmo.
Por isso os servidores do Evangelho encontram muitas dificuldades, assediados sempre pelas sombras, que aprimoram seus métodos. (…)
A confiança nas promessas de Jesus pode ser aliviada pela disposição de continuarmos a servi-lo, fazendo o melhor, conscientes de que quanto maiores as lutas mais meritórias as vitórias, quanto maior a pressão das sombras mais claramente enxergaremos as luzes do Céu.”
Do livro Boa Nova, do Espírito Humberto de Campos, no Capítulo 5, “Os discípulos”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, extraímos alguns trechos que se relacionam com essa bem-aventurança:
“Em verdade vos digo que dia virá em que menos rigor haverá para os grandes pecadores, do que para quantos procuram a Deus com os lábios da falsa crença, sem a sinceridade do coração.
É por essa razão que vos envio como ovelhas ao antro dos lobos, recomendando-vos a simplicidade das pombas e a prudência das serpentes.
Acautelai-vos, pois, dos homens, nossos irmãos, porque sereis entregues aos seus tribunais e sereis açoitados nos seus templos suntuosos, de onde está exilada a ideia de Deus.
Sereis conduzidos, como réus, à presença de governadores e reis, de tiranos e descrentes, a fim de testemunhardes a minha causa.
No entanto, nos dias dolorosos da humilhação, não vos dê cuidado como haveis de falar, porque minha palavra estará convosco e sereis inspirados, quanto ao que houverdes de dizer.
Porque não somos nós que falamos; o Espírito amoroso de nosso Pai é que fala em todos nós.
Nesses dias de sombra, em que se lutará no mundo por meu nome, o irmão entregará à morte o próprio irmão, o pai os filhos, espalhando-se nos caminhos o rastro sinistro dos lobos da iniquidade.
Os que me seguirem serão desprezados e odiados por minha causa, mas aquele que perseverar, até o fim, será salvo.
Quando, pois, fordes perseguidos numa cidade, transportai-vos para outra, porque em verdade vos afirmo que jamais estareis nos caminhos humanos sem que vos acompanhe o meu pensamento.
Se tendes de sofrer, considerai que também eu vim à Terra para dar o testemunho e não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais que o seu senhor.
Se o adversário da luz vai reunir contra mim as tentações e as zombarias, o ridículo e a crueldade, que não fará aos meus discípulos?
Todavia, sabeis que acima de tudo está o nosso Pai e que, portanto, é preciso não temer, pois um dia toda a verdade será revelada e todo o bem triunfará.
O que vos ensino em particular, difundi-o publicamente; porque o que agora escutais aos ouvidos será o objeto de vossas pregações de cima dos telhados.
Trabalhai pelo reino de Deus e não temais os que matam o corpo, mas não podem aniquilar a alma; temei antes os sentimentos malignos que mergulham o corpo e a alma no inferno da consciência.
Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? Entretanto, nenhum deles cai dos seus ninhos sem a vontade do nosso Pai. Até mesmo os cabelos de nossas cabeças estão contados.
Não temais, pois, porque um homem vale mais que muitos passarinhos.
Empregai-vos no amor do Evangelho e qualquer de vós que me confessar, diante dos homens, eu o confessarei igualmente diante de meu Pai que está nos céus.”
Autor: Juan Carlos Orozco
Bibliografia
BÍBLIA SAGRADA.
CALLIGARIS, Rodolfo. O Sermão da montanha: à luz da Doutrina Espírita. 18ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.
CAMPOS, Humberto de (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Boa nova. 37ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Da 3ª Edição francesa. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira. Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte I. Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2015.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira. Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II. Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). O evangelho redivivo: estudo interpretativo do Evangelho segundo Mateus. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2020.
SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.
SIMONETTI, Richard. A voz do monte: lições do Cristo para uma melhor vida. 10ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2020.
