Esse tema desperta grande interesse, principalmente diante de situações em que pais, parentes e amigos, de repente, começam a observar manifestações mediúnicas em crianças e não sabem como lidar com esses casos.
Alguns casos de mediunidade infantil
Na parte final do livro “Atenção”, do Espírito Emmanuel, há a biografia de Francisco Cândido Xavier, cuja mediunidade aflorou naturalmente na infância.
Certo dia, com o corpo marcado por maus tratos recebidos, rezando no fundo de um quintal, viu a presença da mãe falecida, dona Maria João, e manteve com ela um diálogo. A mãe de Chico Xavier transmitiu palavras de consolo, que o fez suportar as atribulações da vida.
Em outra ocasião, Chico mantinha visões e sonhos transportando-o para lugares distantes.
Cursando o Grupo Escolar São José, Chico não era aluno brilhante, chegou até repetir de ano por motivo de saúde. Por diversas vezes, durante as aulas, ele ouvia vozes de Espíritos, sentia mãos sobre as suas, guiando-lhes os movimentos na escrita, sem que os demais alunos percebessem. Tudo isso causava-lhe constrangimento.
Outro fato marcante, pelo texto de sua biografia, foi:
“Em 1922, comemorou-se em todo País o centenário da independência. O governo de Minas Gerais instituiu diversos prêmios de redação para alunos da 4ª série primária. O assunto era livre, desde que pertencesse à história do Brasil.
Chico, então com 12 anos, cursava o 4º ano. A professora, dona Rosária Laranjeira, marcou data para a composição. Naquele dia, quando se preparava para iniciar a tarefa, Chico viu um homem ao seu lado, ditando-lhe o que deveria escrever. Assustado, indagou ao companheiro de banco se ele também estava vendo o homem. O menino negou, dizendo que aquilo era ilusão, consequência de sua preocupação. Enquanto isso, o homem ia ditando as frases de abertura do trabalho.
‘Dona Rosária Laranjeira era católica fervorosa começou a assustar-se com minhas composições.’
Chico pediu, então, licença à professora. Levantou-se, aproximou-se do estrado sobre o qual ficava a cadeira de dona Rosária, e lhe disse em voz baixa:
‘Dona Rosária, perto de mim, está um homem, ditando o que devo escrever.’
Mulher compreensiva, que ‘tinha a virtude da caridade’, segundo Chico, ela perguntou, também em voz baixa:
‘O que o homem está mandando você escrever?’
Chico repetiu a frase: ‘O Brasil, descoberto por Pedro Álvares de Cabral, pode ser comparado ao mais precioso diamante do mundo, que logo passou a ser engastado na coroa portuguesa…’
Admirada, mas tolerante, dona Rosária mandou-o sentar-se e concluir a prova. Não importava se o texto fosse ditado ou não por um homem invisível. O importante era concluí-lo.
Algumas semanas depois, a Secretaria de Educação de Minas divulgava os resultados do concurso, disputado por milhares de estudantes de todo o Estado: Chico Xavier recebera menção honrosa.
Os colegas começaram a espalhar o boato de que Chico havia copiado o trecho premiado de algum livro. Outros se recusavam a duvidar de sua honestidade. As opiniões dividiam-se. Havia os que acreditavam em seus dons, se não mediúnicos, pelo menos literários. Um dia, um colega desafiou-o: ‘Já que sua prova fora ditada por uma pessoa do outro mundo, por que esse homem não reaparecia, dispondo-se de algum assunto proposto pelos próprios colegas?’
No exato momento do desafio, Chico viu o Espírito, que se dizia pronto a escrever. Comunicado o fato à professora, dona Rosária hesitou. A pressão dos colegas, no entanto, era irresistível. E ela concordou que Chico fosse ao quadro-negro e escrevesse diante de todos.
‘Qual é o tema?’, indagou um dos alunos. Uma outra, cujo pai construía então uma casa, sugeriu que fosse areia. Todos riram, considerando a areia uma coisa desprezível. Mas o tema foi mantido.
Logo, Chico pôs-se a escrever no quadro-negro o que o Espírito ia lhe ditando: ‘Meus filhos, ninguém escarneça da criação. O grão de areia é quase nada, mas parece uma estrela pequenina refletindo o sol de Deus…’
(‘A composição foi escrita com muitas ideias que eu seria incapaz de conceber nos meus 12 anos de idade’).
A partir de então, dona Rosária proibiu que se fizesse qualquer comentário, na sala de aula, a respeito de pessoas invisíveis.”
A vida de Chico Xavier era tormentosa, inclusive seu pai queria interná-lo num sanatório para enfermos mentais, sendo aconselhado por amigos a colocá-lo num hospício.
Foi conduzido ao Padre Sebastião Scarzelli, missionário italiano, antigo vigário de Matozinhos, cidade próxima a Pedro Leopoldo, tido como homem prudente e bondoso.
“A princípio, considerou tudo aquilo como extravagâncias. Fantasias da idade. E sugeriu que João impedisse o filho de ler jornais, livros e revistas suspeitos. O menino devia estar impressionado com tais leituras. Os Espíritos não voltam do outro mundo. Diante da sinceridade e convicção do menino, porém, Padre Scarzelli pareceu ter mudado de ideia. (…)
A solução proposta pelo padre foi a melhor possível. A fábrica de tecidos de Pedro Leopoldo, atualmente pertencente à Cia. Industrial Belo Horizonte, tinha, então, vagas para meninos. Se ele fosse trabalhar lá, auxiliando no precário orçamento do pai, este não teria coragem de interná-lo. (…)
Para todo mundo, deixara de ser o menino aluado que conversava com Espíritos. Isso parecia coisa do passado. Puerilidades de um garoto extravagante. Agora, integrado na comunidade católica, tal como queriam seu pai e o padre Scarzelli, obedecia rigidamente às recomendações que lhe eram impostas pela Igreja. Confessava, comungava, comparecia as missas, acompanhava procissões. O Espírito de dona Maria João nunca mais aparecera.
Porém, os fenômenos continuavam se manifestar a Chico Xavier.
“Em maio de 1927 – Chico já era então um rapazinho – sua irmã mais nova, Maria da Conceição, caiu gravemente doente. Tinha violentos acessos de loucura. Os espíritas diziam que se tratava de um caso de obsessão. Graças a essa obsessão, a família Xavier começou a travar intimidade com o Espiritismo. Tratada por diversos médicos, a moça não apresentava nenhum sinal de melhora. Acabaram aceitando o oferecimento de um casal de médiuns, Hermínio e Carmem Perácio. Pouco depois, Maria da Conceição começou a dar mostras de recuperar a razão, vindo a ficar inteiramente curada. Na primeira sessão realizada em casa de João Cândido, estava reservada uma grata surpresa para Chico. Após uma ausência de sete anos, o Espírito de dona Maria João reapareceu. E, através da mediunidade grafológica de Carmem Perácio, dirigiu uma extensa mensagem ao marido e aos filhos, referindo-se de maneira particular a Chico. E, comunicando-lhe novos caminhos que ele deveria percorrer.
‘…. a meu ver, tive três períodos distintos em minha vida mediúnica. O primeiro, de completa incompreensão para mim, é aquele dos cinco anos de idade, quando via minha mãe desencarnada, a proteger-me, até os dezessete anos, época em que me via sob influência de entidades felizes e infelizes, até que a misericórdia do Senhor penetrou em nossa casa em maio de 1927.’
Esses pequenos relatos exemplificam muito bem os possíveis problemas decorrentes da eclosão da mediunidade durante a infância, que nem sempre são observados como algo natural, achando até que a pessoa beira a loucura e precisam ser internadas.
No livro “A criança: à luz do Espiritismo”, no Capítulo 8: Mediunidade em crianças, Waldehir Bezerra de Almeida narra alguns casos de mediunidade na infância, como da dona Yvone do Amaral Pereira (1906-1984), que aos cinco anos já via Espíritos e com eles falava.
Ela disse: “Nunca desenvolvi mediunidade, ela apresentou-se por si mesma, naturalmente, sem que eu me preocupasse em atrai-la, pois, em verdade, não há necessidade em se desenvolver a faculdade mediúnica, ela se apresentará sozinha, se realmente existir, e se formos dedicados às operosidades espíritas”.
Outro caso é do orador e escritor Raul Teixeira, que relatou: “Desde muito criança, convivi com manifestações mediúnicas na minha casa. Minha mãe era médium […]. Quando ela recebia as pessoas no quarto de oração, eu via outras que chegavam, que atravessavam as paredes e desciam do telhado com tamanha naturalidade que pareciam reais. […] eu tinha quatro anos de idade, as coisas continuaram a acontecer mais fortes, mais incisivas. Eu as via sempre, continuava percebendo, era capaz de enxergar esses seres que apareciam e isso, obviamente, me causava estranheza.”
Aspectos da mediunidade
Qualquer pessoa, independentemente da idade, pode ser dotada de mediunidade, a qual é conferida sem distinção: crianças, jovens, adultos, idosos, situação intelectual e moral, estado econômico, crença, raça, etnia, cor ou outra característica específica.
Mediunidade é disposição orgânica e faculdade psíquica que o ser humano, chamado de médium, possui mais ou menos ostensiva, em diferentes graus e tipos, como ver, ouvir e falar, que se desenvolve progressivamente desde o seu surgimento.
O médium serve de instrumento para que os Espíritos possam se comunicar com os homens. Sem o médium, não há comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, de qualquer natureza.
Não é condição do médium ser espírita. Adeptos do Espiritismo são espíritas ou espiritistas, denominação dada por Allan Kardec a quem segue a Doutrina Espírita.
As instituições espíritas orientaram a prática mediúnica, pois essa faculdade sem direcionamento correto pode produzir distúrbios comportamentais, orgânicos ou até mentais, mediante perturbações no indivíduo e na família.
A prática mediúnica edificante conduz ao progresso, oferecendo contribuição para o bem geral. Ser médium é agir como elo entre diferentes planos da vida, permitindo que desencarnados sofredores recebam a orientação e o apoio que necessitam, assim como possibilitar aos bons Espíritos transmitirem mensagens de consolo e esperança.
Possuir mediunidade ostensiva não é, necessariamente, indicativo de evolução moral e intelectual, mas alguém que recebeu importante ferramenta de trabalho, por determinação superior, deve utilizá-la como meio de aperfeiçoamento.
O surgimento da mediunidade conduz a uma atividade programada no plano espiritual para ser realizada durante a reencarnação. Ela se desenvolve naturalmente ao longo das experiências reencarnatórios e nas suas vivências no plano espiritual.
Como dito, a faculdade mediúnica independe da moral. Já o uso da mediunidade pode ser bom ou mau, de acordo com as qualidades do médium. Por isso, a prática mediúnica requer base moral fundamentada no Evangelho e no conhecimento do Espiritismo.
Podem ocorrer distúrbios físicos e psicológicos quando a mediunidade surge e, conforme o grau de sensibilidade e controle do médium iniciante, esses desconfortos podem se revelar intensos, produzindo desarmonias nem sempre bem administradas.
A eclosão da mediunidade revela-se como momento de fundamental importância, mas nem sempre a pessoa é convenientemente assistida, seja por ignorância a respeito do assunto, por desinteresse ou desatenção de familiares e amigos.
Em outras ocasiões, os médiuns iniciantes podem se revelar fascinados pelo entusiasmo excessivo diante de revelações espirituais, requerendo atendimento e apoio de irmãos experimentados. Nesse contexto, a Casa Espírita e os grupos mediúnicos assumem importantes responsabilidades para orientar o médium iniciante.
Auxiliar a educação da mediunidade e o aprimoramento mediúnico não é tarefa fácil. Exige dos dirigentes espíritas devotamento nessa tarefa e disposição para orientar com sabedoria, bondade e paciência, sobretudo se o médium iniciante apresenta desarmonias.
No início, os médiuns sintonizam-se facilmente com Espíritos que se identificam com os encarnados e a vida do plano físico. Nem sempre são Espíritos evoluídos, cuja influência pode constituir-se em algo problemático. Por conseguinte, médiuns iniciantes podem lidar com Espíritos inferiores. Feliz o médium quando se tratar apenas de Espíritos levianos. Nesse sentido, os médiuns precisam estar atentos a que tais Espíritos não assumam predomínio, porque nem sempre será fácil desembaraçar-se deles.
Geralmente, os médiuns principiantes querem participar, imediatamente, de uma reunião mediúnica. Tal desejo não deve ser incentivado por dirigentes e orientadores encarnados da Casa Espírita, porquanto o médium necessita, primeiramente, desenvolver os seus estudos a respeito da mediunidade e aprender a ter controle sobre a sua faculdade antes de participar das reuniões mediúnicas.
A orientação espírita segura será no sentido de amparar o médium principiante por meio de palavras fraternas, de apoio e conforto espiritual, indicando-lhe o uso do passe, da oração e da prática da caridade, orientando-o a integrar um grupo de estudos doutrinários, de mediunidade e do Evangelho, a fim de fortalecer as suas defesas psíquicas e morais.
O iniciante precisa compreender o que é ser médium, como exercitar a faculdade mediúnica e de que forma os Espíritos atuam no pensamento e atos de cada um, porquanto a força mediúnica não ajuda nem edifica quando distante da caridade e ausente da educação. A vida e o tempo exigem trabalho e melhoria, progresso e aprimoramento.
Mediunidade em crianças
Do livro “Orientação para a Prática Mediúnica no Centro Espírita”, da Federação Espírita Brasileira, extraímos:
“É importante destacar que é vedada a participação de criança na reunião mediúnica, ainda que apresente mediunidade ostensiva, independentemente de ser harmônica ou desarmônica a ação espiritual manifestada.
As crianças que apresentam mediunidade ostensiva devem ser encaminhadas às reuniões de evangelização espírita e ao serviço de passes, pois se encontram em processo de amadurecimento físico, psíquico, psicológico e espiritual; portanto, não têm discernimento suficiente para participar de atividades mediúnicas, dentro ou fora da Casa Espírita. Os pais serão orientados a: realizar a reunião do Evangelho no Lar, com a presença de crianças e familiares; desenvolver o hábito da prece em conjunto com os filhos e demais membros da família; participar de reuniões públicas de estudo evangélico-doutrinárias.
Nesse sentido, é oportuno destacar a orientação que se segue, presente em O livro dos médiuns:
‘Será inconveniente desenvolver-se a mediunidade nas crianças?
Certamente e sustento mesmo que seria muito perigoso, visto que esses organismos débeis e delicados sofreriam fortes abalos e as imaginações infantis excessiva superexcitação. Assim, os pais prudentes devem afastá-las dessas ideias ou, pelo menos, só lhes falar do assunto do ponto de vista das consequências morais.’ (…)
Uma questão não menos importante e que tem aumentado muito nos últimos tempos diz respeito à mediunidade nas crianças. Em primeiro lugar, importa considerar que a mediunidade natural, isto é, aquela que faz parte do planejamento reencarnatório, não produz maiores transtornos nas crianças. Por ser algo natural, a cuja sensibilidade o seu corpo físico está adequado, a criança, em geral, não apresenta perturbações. Isso em tese, pois tudo depende das condições de saúde (física, emocional e psíquica e moral) e do ambiente doméstico no qual a criança está sendo educada. Crianças de pais espíritas, por exemplo, em geral, não passam por maiores dificuldades, pois os pais sabem auxiliá-las. Contudo, situação diversa ocorre com crianças educadas em um meio que apresenta preconceito contra o Espiritismo ou não dispõe de informações corretas sobre a Doutrina Espírita. A situação, nesses termos, pode apresentar dificuldades (it. 221, q. 5 e 6).
‘Quando a faculdade se manifesta espontaneamente numa criança, é que está na sua natureza e porque a sua constituição se presta a isso. O mesmo não acontece, quando é provocada e superexcitada. Notai que a criança que tem visões pouco se importa com elas, pois lhe parecem coisas muito naturais, a que dá pouquíssima atenção e quase sempre esquece. Mais tarde, o fato lhe volta à memória e ela o explica facilmente, caso conheça o Espiritismo (it. 221, q. 7).’
De qualquer forma, é inconveniente e totalmente inadequado estimular o desenvolvimento da mediunidade em crianças. Kardec afirma, de forma resoluta, sob orientação espiritual esclarecida:
‘E sustento mesmo que seria muito perigoso, visto que esses organismos débeis e delicados sofreriam fortes abalos e as imaginações infantis excessiva superexcitação. Assim, os pais prudentes devem afastá-las dessas ideias ou, pelo menos, só lhes falar do assunto do ponto de vista das consequências morais (it. 221, q. 6).’
A idade para o início da prática mediúnica depende de alguns fatores: conhecimento teórico mínimo da mediunidade; condições emocionais e psíquicas do médium; disponibilidade para exercer o compromisso. Não há uma idade precisa para o início. Os jovens e os adultos podem praticar a mediunidade em qualquer época, desde que tenham condições harmônicas, apresentem algum conhecimento sobre o assunto, estejam dispostos a participar do grupo mediúnico e, ao mesmo tempo, continuar com seu aprendizado teórico em cursos regulares, além de se manterem assíduos à tarefa.
Em condições usuais, se não há afloramento da faculdade mediúnica, ou, se perante a sua existência, pode-se administrá-la adequadamente, recomenda-se que a pessoa adquira conhecimento básico da Doutrina Espírita e específico da mediunidade antes de ser encaminhada a um grupo mediúnico. Enfim,
‘Não há idade precisa. Isso depende inteiramente de desenvolvimento físico e, mais ainda, do desenvolvimento moral. Há crianças de 12 anos que serão menos afetadas pela faculdade mediúnica do que algumas pessoas já formadas. Falo da mediunidade em geral, pois a de efeitos físicos é mais fatigante para o corpo […] (it. 221, q. 8).’
Tudo tem que ser analisado com bom senso e prudência. Sabemos que há jovens, e até mesmo crianças, que são mais maduras que um adulto.
‘A prática do Espiritismo, como veremos mais adiante, requer muito tato para que sejam desfeitas as tramas dos Espíritos enganadores. Se até homens maduros são iludidos por eles, mais expostos ainda se acham a infância e a juventude, em virtude da própria inexperiência da idade. Sabe-se, além disso, que o recolhimento é uma condição sem a qual não se pode lidar com Espíritos sérios. As evocações feitas levianamente e por gracejo constituem verdadeira profanação, que facilita o acesso aos Espíritos zombeteiros ou malfazejos. Como não se pode esperar de uma criança a gravidade necessária a semelhante ato, seria de temer que, entregue a si mesma, ela fizesse disso um brinquedo. Mesmo nas condições mais favoráveis, é desejável que uma criança dotada de faculdade mediúnica não a exercite senão sob a vigilância de pessoas experientes, que lhe ensinarão, pelo exemplo, o respeito devido às almas dos que viveram. Por aí se vê que a questão da idade tanto está subordinada às condições de temperamento, quanto às de caráter. Todavia, o que ressalta com clareza das respostas acima é que não se deve forçar o desenvolvimento dessas faculdades nas crianças, quando não é espontânea, e que, em todos os casos, importa empregá-la com grande prudência, não convindo excitá-la nem estimulá-la nas pessoas débeis (it. 222).’
Atualmente, nenhuma criança é conduzida a um grupo mediúnico. A prudência indica que ela deve participar de aulas de evangelização espírita, receber passe, participar das reuniões do Evangelho no lar, ou seja, de alguma forma aprender a lidar com o fenômeno e, sobretudo, informar-se a respeito de suas consequências morais. Quando alcançar a juventude ou a idade adulta, que lhe é mais favorável, poderá assumir o compromisso com a mediunidade.
Por último, lembramos que pessoas portadoras de alguma debilidade cerebral, com algum distúrbio mental, que esteja sob influência obsessiva etc. não devem participar de reuniões mediúnicas:
Devem ser afastadas do exercício da mediunidade, por todos os meios possíveis, as pessoas que apresentem sintomas, ainda que mínimos, de excentricidade nas ideias, ou de enfraquecimento das faculdades mentais, porquanto, nessas pessoas, há predisposição evidente para a loucura, que pode manifestar-se por efeito de qualquer superexcitação. […] O que de melhor se tem a fazer com todo indivíduo que mostre tendência à ideia fixa é dar outra diretriz às suas preocupações, a fim de proporcionar repouso aos órgãos enfraquecidos (it. 222).”
Assim sendo, deve-se ter a devida cautela quando eclodir a mediunidade em crianças, sugerindo-se buscar o auxílio da Casa Espírita para as orientações necessárias.
As crianças encontram-se em processo de amadurecimento físico, psíquico, psicológico e espiritual, e não possuem discernimento suficiente para participar de atividades mediúnicas, dentro ou fora da Casa Espírita.
Em geral, pela sua imaturidade, não saberão fazer uso de sua faculdade e poderão, em decorrência de sua comunicação precoce com o invisível, tornarem-se presas fáceis de Espíritos malévolos, inimigos seus do passado, ou de Espíritos levianos que as terão por instrumentos de sua irresponsabilidade.
É inconveniente e totalmente inadequado, até perigoso, estimular o desenvolvimento da mediunidade em crianças, “… visto que esses organismos débeis e delicados sofreriam fortes abalos e as imaginações infantis excessiva superexcitação. Assim, os pais prudentes devem afastá-las dessas ideias ou, pelo menos, só lhes falar do assunto do ponto de vista das consequências morais”.
“A prática do Espiritismo (…) requer muito tato para que sejam desfeitas as tramas dos Espíritos enganadores. Se até homens maduros são iludidos por eles, mais expostos ainda se acham a infância e a juventude, em virtude da própria inexperiência da idade. Sabe-se, além disso, que o recolhimento é uma condição sem a qual não se pode lidar com Espíritos sérios. As evocações feitas levianamente e por gracejo constituem verdadeira profanação, que facilita o acesso aos Espíritos zombeteiros ou malfazejos.”
Por outro lado, os pais têm o dever de orientar a criança, desde os seus primeiros passos, no capítulo das noções evangélicas.
Bibliografia:
ALMEIDA, Waldehir Bezerra de. A criança: à luz do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2023.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Médiuns. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Mediunidade: estudo e prática. Programa I. 2ª Edição. Brasília/DF, Federação Espírita Brasileira, 2018.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora); organização Coordenação Nacional da Área da Mediunidade do Conselho Federativo Nacional da FEB. Orientação para a prática mediúnica no centro espírita. 1ª Edição. Brasília/DF, Federação Espírita Brasileira, 2017.
XAVIER, Francisco Cândido (psicografia de); Espírito de Emmanuel. Atenção. 22ª Edição. Araras/SP: IDE, 2010.